Estamos já chegando à metade do tempo quaresmal, itinerário penitencial e, ao mesmo tempo, itinerário de Jesus, que sobe à Jerusalém para sofrer a Paixão. Nós subimos com o Senhor e observamos a sua progressiva auto-revelação.
Jesus diz-nos hoje no Evangelho deste terceiro Domingo da Quaresma: “Destruí este Templo, e em três dias eu o levantarei” (Jo 2,19), e João explica: “Jesus estava falando do Templo do seu corpo” (v. 21). O Templo, na Antiga Aliança, era o sinal da presença de Deus, lugar do encontro d’Ele com os homens: “A minha casa é casa de oração!” (Lc 19,46). Mas o profeta Jeremias já alertava aos hebreus de sua época sobre a confiança demasiada no Templo sem a devida conversão do coração e a prática da Lei: “Não vos confieis em palavras mentirosas dizendo: ‘Este é o Templo do Senhor, Templo do Senhor, Templo do Senhor!’ (...) Eis que vós vos fiais em palavras mentirosas, que não podem ajudar. Não é assim? Roubar, matar, cometer adultério, jurar em falso, queimar incenso a baal, correr atrás de deuses estrangeiros, que não conheceis, depois virdes e vos apresentardes diante de mim, neste Templo, onde o meu nome é invocado, e dizer: ‘Estamos salvos’, para continuar cometendo estas abominações! Este templo, onde o meu Nome é invocado, será porventura um covil de ladrões a vossos olhos?” (Jr 7,4-11). Pois bem, este templo, de pedra, por causa da infidelidade e da obstinação do povo de Israel, por três vezes foi destruído; o novo Templo, o Corpo de Cristo – como João nos fala – foi destruído em sua Paixão, mas, conforme a palavra do Senhor, três dias depois foi reconstruído, ressuscitado e nunca mais desaparecerá. Nesse mesmo sentido, o Senhor disse à Samaritana: “Vem a hora em que nem nesta montanha nem em Jerusalém adorareis o Pai (...) Mas vem a hora – e é agora – em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade (...) Deus é espírito e aqueles que o adoram devem adorá-lo em espírito e verdade” (Jo 4,21-24). Sendo, portanto, o corpo de Cristo o novo Templo, é n’Ele que passamos a adorar a Deus, em espírito, ou melhor, no Espírito, que é um com o Pai e com o Filho, e em verdade – que é o próprio Jesus (cf. Jo 14,6). Entrementes, também Paulo diz à Igreja: “Vós sois o corpo de Cristo” (1Cor 12,27). Eis, portanto, o novo Templo onde se adora a Deus: o Corpo de Cristo, que é a Igreja. Não se pode adorar verdadeiramente a Deus fora de seu Templo, de seu Corpo, de sua Igreja. Mais: não se pode adorar verdadeiramente a Deus sem participar do seu Corpo, entregue por nós na Eucaristia. Pois Jesus disse: “Eu sou o pão da vida (...). Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes seu sangue, não tereis a vida em vós (...). Quem come minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim, e eu nele” (Jo 6,53-56). Como se pode, pois, não comer a carne, o corpo do Senhor, que é a Eucaristia e permanecer n’Ele, praticando autêntico culto a Deus? Para os que não acreditam na Eucaristia apesar das palavras claras de Jesus e acham que não é possível que Deus fique encerrado num pedaço de pão e que tal coisa é uma insensatez, servem as palavras de Paulo na segunda leitura da missa de hoje: “o que é dito insensatez de Deus é mais sábio do que os homens, e o que é dito fraqueza de Deus é mais forte do que os homens” (1Cor 1,25).
A leitura supracitada de Jeremias nos mostra uma coisa importante: a falsa confiança depositada pelos hebreus no Templo resultava do apego deles ao mal, de tudo aquilo que os mandamentos proibiam. São esses os mesmos mandamentos de que fala a primeira leitura, do livro do Êxodo, mesmo que em ordem diferente. No entanto, o pecado fundamental e que é raiz de todos os outros, é a desobediência ao primeiro mandamento, sintetizado por Jesus no Evangelho: “Amarás o Senhor, o teu Deus de todo o teu coração, de todo o teu entendimento e com todas as forças da alma. Este é o maior mandamento” (Mt 22,37-38). Por outras palavras, o Deuteronômio expressa a mesma ordem divina: “E agora, ó Israel, o que pede a ti o Senhor, teu Deus, senão que o temas, andando nos seus caminhos, amando-o e servindo-o de todo o teu coração e de toda a tua alma?” (12,10). O desobedecer ao primeiro mandamento é o desobedecer toda a Lei de Deus, porque este é o maior mandamento.
Portanto, uma coisa só e amar a Deus acima de tudo e adorá-lo em espírito e em verdade no seu templo, que é seu Corpo. Corramos, pois ao seu encontro na Eucaristia e, prostrando-nos, adoremos e recebamos o Sagrado Corpo do Senhor, destruído pelos homens, mas ressuscitado pelo poder de Deus.