A Igreja celebra hoje a Festa da Exaltação da Santa Cruz. O que dizer,
pois, do “culto” da Igreja à Cruz do Senhor? Em primeiro lugar, não se trata de
culto ao objeto em si, ao madeiro da Cruz, mas ao mistério que ela não apenas
representa, mas efetua em si. É na morte de Jesus na Cruz que se consuma a nossa
salvação (cf. Jo 19,30). Por isso, a Igreja proclama: “Nós vos adoramos, Senhor
Jesus Cristo e vos bendizemos, porque pela vossa Santa Cruz remistes o mundo”.
A Cruz é, portanto, o instrumento da nossa salvação, o meio pelo qual fomos
salvos.
A Cruz é o altar do Cristo-Rei. Aquele que será elevado para a salvação
do mundo, como outrora foi a serpente no deserto, é o que será o caminho de
salvação para quantos creem nele. (cf. Jo 3,14-15; Nm 21,4-9). “Quando tiverdes
elevado o Filho do Homem, então sabereis que Eu Sou” (Jo 8,27). Este trono do
Rei dos reis que é a Cruz confunde os homens: aos que pensavam num reino
esplendoroso, num reino glorioso, vemos um rei humilde, que vem montado num
jumento e cuja coroa é de espinhos. O trono... a Cruz. Este trono, ainda hoje,
é escândalo para muitos. Ainda hoje, com as devidas emendas, manifesta-se o que
São Paulo disse a respeito: “A linguagem da Cruz é loucura para aqueles que se
perdem, mas para aqueles que se salvam, para nós, é poder de Deus. (...) Os
judeus (e, hoje, tantos protestantes ou alguns católicos protestantizados, que
só falam em milagres, milagres, milagres) pedem sinais, e os gregos (hoje os
ateus e agnósticos, embora raramente) andam em busca de sabedoria; nós, porém,
anunciamos a CRISTO CRUCIFICADO, que para os judeus (e afins) é escândalo, para
os gentios (e afins) é loucura, mas para aqueles que são chamados, tanto judeus
quanto gregos, é Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus” (1Cor 1,18.22-24).
A Cruz é o símbolo que condensa o seguimento do fiel em Cristo. “Se
alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia e siga-me”
(Lc 9,23). A nossa cruz pessoal, DE CADA DIA, é participação na Cruz de Jesus,
de forma que nós completamos na nossa carne, isto é, na nossa existência
humana, o que faltou à Paixão de Cristo (cf. Cl 1,24). Efetivamente, a cruz na
nossa vida significa as dificuldades, os sofrimentos. “É preciso passar por
muitas tribulações para entrar no Reino de Deus” (At 14,22). Assim exorta São
Paulo a Timóteo: “Assume a tua parte de sofrimento como bom soldado de Cristo
Jesus” (2Tm 2,3). E prossegue: “Lembra-te de Jesus Cristo, ressuscitado dentre
os mortos, da descendência de Davi (...). Fiel é esta palavra: Se com Ele
morremos, com ele viveremos. Se com Ele sofremos, com ele reinaremos” (2Tm
3,8.11-12a).
Diante de tudo isso, santificamos as palavras irônicas de Tomé aos
Apóstolos: “Vamos também nós, para morrermos com Ele!” (Jo 11,16). Sim, tomemos
nossa cruz, nossa cruz de cada dia e sigamos ao Senhor, que se dirige a
Jerusalém para morrer. Não é preciso procurar o sofrimento: ele é inevitável. Ele
vem cada dia; de diversas formas ele bate à nossa porta. Não desanimemos nem
rejeitemos o sofrimento: como Jesus, que abraçou a sua Cruz por amor a nós,
também abracemos nossa cruz por amor a Jesus e com Ele prossigamos o caminho da
nossa vida, unidos a Ele. Não tem jeito: ou sofremos com Jesus ou sem Ele. Tertium non datur, não há outra opção. A
cruz é o caminho impreterível e único para a salvação. Não se poderá salvar
quem rejeita a cruz. Isso nos garante o próprio Salvador: “Pois aquele que
quiser salvar sua vida a perderá, mas o que perder sua vida por causa de mim, a
salvará” (Lc 9,24).