quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

A hipocrisia do mundo atual


O lamentável atentado contra a seleção de futebol do Togo, pequeno país da costa oeste africana, quando esta seleção dirigia-se à Angola para disputar a Copa Africana de Futebol, no último dia 8, deixou o mundo chocado e não sem razão. Todo ato terrorista é essencialmente perverso e intrinsecamente mau já que, não importa em nome de quê, intenta-se destruir vidas humanas inocentes por motivos políticos, ideológicos ou religiosos. Quem assistiu ao documentário 102 minutos que mudaram o mundo, que mostra minuto a minuto o atentado terrorista de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, pode perceber o tamanho da monstruosidade e do sofrimento que tais atos causam. Qualquer pena humana para terroristas parece ser pequena e insuficiente.
Mas a reação da opinião pública mundial sobre o atentado na África mostra uma realidade muito preocupante e revoltante. Todo o afã gerado se deu por causa da ligação do atentado com o esporte. No entanto, acontecem frequentes atentados contra a vida de cristãos no mundo inteiro e a comunidade internacional se cala, a mídia se cala – ou, quando muito lança uma noticiazinha solta, aqui e acolá, numa autêntica espiral de silêncio –, os governos se calam. Parece que é politicamente incorreto reclamar quando cristãos são mortos por muçulmanos (é o que acontece, perdoem-me, na maioria das vezes). Apenas na mídia católica ouvimos ainda falar de um lugar chamado Darfur, onde os cristãos são massacrados por fanáticos muçulmanos, ou do Iraque, onde os assassinatos de cristãos são de uma frequência assustadora.
Em Darfur, a situação dos cristãos é caótica. Dom Hiiboro Kussala, bispo de Tombura Yambio, numa região próxima, durante o Sínodo dos bispos da África, ano passado, em Roma, fez um relato sombrio da situação perante os bispos africanos: “No último dia 13 de agosto, os rebeldes entraram na igreja da minha paróquia e tomaram muitas pessoas como reféns. Enquanto fugiam pela selva, mataram 7 delas: eles as crucificaram nas árvores. Acontecem muitos dramas como este. Alguns deles foram instruídos pela Al Qaeda no Afeganistão: estão contra a Igreja. O projeto é atormentar os cristãos (...). Vivemos justamente neste sentido porque estão matando as pessoas, queimam as suas casas, as igrejas: este é o martírio. (...) Os rebeldes continuam matando as pessoas. Este é o nosso medo. Mas não queremos morrer: tudo isso reforça a fé das pessoas, que continuam vindo à igreja”. Alguma palavra da comunidade internacional? Não.
No Iraque, ontem, um cristão foi morto quando saía de casa em Mosul, na frente das autoridades de segurança, que não fizeram nada. Isto aconteceu apenas um dia depois que outro cristão foi assassinado durante a cerimônia de posse do novo arcebispo da cidade – seu predecessor, Dom Paul Faraj Rahho, havia sido sequestrado e morto em março de 2008 –. Em 12 de janeiro mais um comerciante cristão tinha sido assassinado na cidade. As etnias que dominam a região tem o plano de expulsar os cristãos de lá e, para isso, utilizam-se de homicídios e atentados terroristas para semear o medo entre a comunidade cristã, para forçá-la a emigrar. É exatamente o que os nazistas faziam com os judeus na Alemanha até 1941, quando deram início ao plano de extermínio em massa. Mas da mesma forma como o mundo se calou perante esse crime, continua calado, por conveniências políticas, enquanto nossos irmãos morrem a torto e à direito.
Agora, procurem imaginar uma coisa: imaginem se um cristão, mesmo isoladamente, matasse um muçulmano, no Ocidente, por causa de sua religião. O clamor no mundo islâmico – e, sim, também no Ocidente – seria fabuloso. Crime de ódio! Morte aos cristãos! Abaixo o Papa! Não é isso que estamos acostumados a ouvir? Eis a trágica situação dos discípulos de Cristo no mundo atual. Mas não nos enganemos: aquilo que acontece no mundo cedo ou tarde acabará chegando por aqui, no nosso país, no nosso estado, na nossa cidade. Quem te garante, você que me lê, que daqui a dez anos você não estará andando furtivamente para a Igreja, a fim de participar da missa numa igreja com portas fechadas, por medo de atentados contra sua vida? Olhem para a Venezuela. Lá, por causa da oposição da Igreja ao regime ditatorial e psicótico de Hugo Chaves, esse momento acima descrito já começa a se tornar realidade. Quando o ditador fanático de uma nação persegue e ameaça, ainda que com palavras (por enquanto), os bispos desse país, que se pode esperar de bom? E o nosso presidente, que adora trocar mimos com o fanfarrão ditador venezuelano, o que dizer dele? E quando se sabe que o presidente da República e seu partido tem sólidas e comprovadas ligações com as FARC? Estejamos atentos, caríssimos, a tudo isso. E rezemos a ajamos tanto quanto possível, para defender a nossa fé dos ataques dos inimigos de Deus e da humanidade.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Manifestou a Sua gloria e seus discípulos creram n'Ele - II Domingo Comum

“Nas bodas de Caná da Galileia, Jesus iniciou os seus sinais, e assim manifestou a sua glória e nele acreditaram seus discípulos.” Esta antífona do Magnificat deste II domingo do Tempo Comum demonstra com grande clareza o mistério celebrado hoje e como ele está em íntima união com os mistérios celebrados nos dois últimos domingos, ainda no Tempo de Natal. A palavra-chave é “manifestação”. Na Epifania celebrávamos a manifestação do Senhor aos povos pagãos; no domingo passado, festa do Batismo do Senhor, celebramos a manifestação que o Pai fez do Senhor Jesus ao povo de Israel, apontando-o como o Seu Eleito, o Seu bem-Amado, em Quem Ele punha toda a sua afeição. Pois bem, junto com a manifestação de hoje, aos seus discípulos, completa-se o celebração do único mistério da manifestação do Senhor. De fato, na Epifania, a festa da Manifestação por excelência, rezávamos na antífona do Magnificat: “Recordamos neste dia três mistérios: Hoje a estrela guia os Magos ao presépio. Hoje a água se faz vinho para as bodas. Hoje Cristo no Jordão é batizado para salvar-nos”. Mas de tal forma é grande o mistério, que a Igreja, na sagrada pedagogia, resolveu desdobrar este mistério em três domingos para que pudéssemos colher mais abundantemente dos diversos aspectos deste mistério. Contudo, detenhamo-nos apenas no aspecto da manifestação do Senhor.

O sinal de Caná, o primeiro realizado por Jesus, é dado para que os discípulos creiam no Senhor. Todos os sinais, todos os milagres realizados por Jesus, tem este sentido. Jesus não teve outra intenção a não ser auto-revelar-se aos discípulos, à Igreja nascente: Ele é o verdadeiro Esposo que deve desposar a verdadeira Esposa, a Nova Jerusalém, o Novo Israel, a Igreja. Na verdade, Jesus se mostra como o verdadeiro Deus que tinha prometido desposar o seu povo, segundo a imagem muito utilizada pelos profetas. Não é à toa que o sinal de Jesus é realizado dentro de uma festa de casamento: esta é imagem das bodas escatológicas de que falam o Apocalipse: “Eis que as núpcias do Cordeiro redivivo se aproximam” (19,7).

sábado, 9 de janeiro de 2010

Batismo do Senhor

A presente festa do Batismo do Senhor encerra o Tempo sagrado do Natal. Justamente porque o Natal, para nós cristãos, não é somente a comemoração do nascimento de Jesus mas a atualização ou presentificação, na solene liturgia, da manifestação do Filho de Deus aos homens, a liturgia nos apresenta a mais contundente manifestação do Filho de Deus: o próprio Pai eterno dá testemunho de quem é Aquele que está sendo batizado por João: “Tu és o meu Filho, eu, hoje, te gerei” (Lc 3,22).

O alcance desta expressão, saída de uma voz vinda dos céus, bem como da sua variante nos evangelhos de Mateus e de Marcos – “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mt 3,17; cf. Mc 1,11) – é de uma riqueza inesgotável. O texto de Lucas é a citação literal do salmo segundo, versículo sete: “Tu és o meu Filho, eu hoje te gerei”. É a proclamação de Jesus como o Rei-Messias, Aquele que deveria vir para dar a salvação ao povo de Israel, Aquele que tem o poder sobre todas as nações e que pode destruí-las com a mesma facilidade com que se destrói um vaso de argila.

A expressão de Lucas que ouvimos hoje, expressa, ainda, um mistério profundíssimo. Ela se encontra no primeiro canto do Servo sofredor, no livro do profeta Isaías, conforme ouvimos na primeira leitura: “Eis o meu servo que eu sustento, o meu eleito, em quem tenho prazer” (Is 42,1). Este, que é revelado como o Rei de Israel, o Messias esperado, é o Servo sofredor, Aquele que deve realizar a salvação na fraqueza, no sofrimento, na ignomínia (cf. Is 52,13–53,12). É o contrário do que esperava o povo de Israel: um Rei forte, grande, poderoso, um chefe militar que os libertaria do jugo dos romanos e restauraria o reinado de Israel de forma mais gloriosa do que o reinado de Davi-Salomão. Ledo engano: os pensamentos de Deus não são os nossos pensamentos! O Messias é poderoso, sim, ele nos salvará, sim, mas na fraqueza. E mais: salvará não só o povo eleito, mas a todos os povos: Deus fará d’Ele “luz das nações, a fim de que sejam abertos os olhos dos cegos, os cárceres dos presos, as prisões tenebrosas onde estão os povos (cf. Is 42,6-7). Este é o Senhor que batizado hoje por João. No batismo de Jesus, começa a sua a vida pública, onde Ele manifestará a natureza de sua Pessoa, da salvação que veio trazer, do Reino que veio inaugurar.

O Espírito Santo que desce sobre Jesus em forma de pomba manifesta o caráter trinitário deste evento sagrado do Batismo do Senhor. Nesta cena, estão as Três Pessoas da Santíssima Trindade: o Pai na voz, o Filho em Pessoa, o Espírito Santo em forma de pomba. Grande é este mistério: Deus se revela inteiramente, nas Três Pessoas que compõem a única Divindade. Esta Divindade onipotente e autossuficiente transborda o seu imenso amor na criação e o manifesta aos homens. Deus, que por si é incompreensível, faz-se compreensível para que o homem possa entrar em contato com Ele e retribuir de forma imperfeita o amor perfeito e infinito que recebe. Eis a certeza que nos dá a Celebração deste hoje: Deus nos ama, Deus se revela a nós, Deus quer nos salvar. Isto acontecerá na medida em que abrirmos o nosso coração para acolher esse amor que transborda do seio da Santíssima Trindade e deixar também que transborde de nosso coração para alcançar os irmãos.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Epifania do Senhor

A Sagrada solenidade da Epifania do Senhor só perde em importância para as festas de Natal, Páscoa e Pentecostes. Ela comemora a manifestação – é isso que significa a palavra grega Epiphania – do Senhor, que foi hoje revelado, “anunciado aos povos todos e às nações” (1Tm 3,16).

À eleição do povo santo, Israel, segue-se, segundo o anúncio paulatino dos profetas, a eleição de todos os povos, a universalização da salvação. Eis a grande novidade do cristianismo em relação às outras religiões: no Menino-Deus, manifestado hoje a todo o orbe, está a plenitude da salvação de Deus para todos as nações, conforme diz São Paulo a Tito: “Manifestou-se a bondade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor pelos homens! Ele salvou-nos não por causa dos atos de justiça que tivéssemos praticado, mas por sua misericórdia, quando renascemos e fomos renovados no batismo pelo Espírito Santo” (Tt 3,4-5). Uma vez chegada a plenitude dos tempos, todos os membros do povo eleito dispersos pelo mundo são reconduzidos à Terra Santa para adorar o seu Rei-Messias e trazem consigo todos os tesouros das nações, ou seja, o melhor que há em todos os povos, oferecendo ao Senhor das gentes, reclinado no presépio, e tendo a Rainha-Mãe ao seu lado, os dons das nações: ouro, para o Rei, incenso para o Deus verdadeiro, mirra para Aquele que morrerá para salvar o seu povo. Dessa forma brilha nas trevas dos povos pagãos, que andavam procurando a luz às apalpadelas, a Luz verdadeira, o Sol que, nascendo, ilumina todo homem sentado à sombra da morte.

A festa de hoje, portanto, é festa da Igreja, é nossa festa: nós, que éramos pagãos – não pertencíamos ao povo eleito – fomos chamados para participar desse povo eleito, o verdadeiro Israel, a Nova Jerusalém, a Esposa e Corpo de Cristo, a Igreja Católica. Fomos chamados a nos tornarmos filhos no Filho, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo, cidadãos do céu. A Epifania é a nossa festa, é a festa da cidadania da Cidade Eterna que nos é concedida.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Mãe do meu Senhor

Do livro “Sou católico, vivo minha fé”

A Igreja crê e afirma que Maria é verdadeiramente Mãe de Deus, porque ela é a Mãe do Filho Eterno de Deus feito homem. Os Evangelhos a denominam como “a Mãe de Jesus” (cf. Jo 2,1; 19,25). Desde antes do nascimento de seu Filho, ela é chamada “Mãe do meu Senhor” (cf. Lc 1,43). E o anjo anunciou a Maria que o filho que nasceria dela seria “santo, Filho de Deus” (cf. Lc 1,31-35).

Maria não gerou ao Deus criador, mas gerou e deu à luz Jesus, que é homem e Deus. Homem por ter nascido da carne de Maria; Deus por ter a natureza divina. Por isso é realmente o Filho de Deus e, consequentemente, Maria pode ser chamada “Mãe de Deus”. Falando assim, afirmamos nossa fé na divindade de Jesus e confessamos que aquele que nasceu de Maria é um só ser, humano e divino; é o Filho de Deus que se fez homem.

A fórmula “Maria, Mãe de Deus” preserva uma das verdades mais fundamentais da fé, a verdade da encarnação e a maneira como Deus realizou a redenção do gênero humano. Como os Padres da Igreja diziam, o Verbo de Deus se fez homem para que a humanidade fosse divinizada.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Verdadeiramente Mãe de Deus

Do Catecismo da Igreja Católica (nn. 466.495)

A heresia nestoriana via em Cristo uma pessoa humana unida à pessoa divina do Filho de Deus. Diante dela, São Cirilo de Alexandria e o III Concílio Ecumênico, reunido em Éfeso em 431, confessaram que "o Verbo, unindo a si em sua pessoa uma carne animada por uma alma racional, se tornou homem". A humanidade de Cristo não tem outro sujeito senão a pessoa divina do Filho de Deus, que a assumiu e a fez sua desde sua concepção. Por isso o Concílio de Éfeso proclamou, em 431, que Maria se tornou de verdade Mãe de Deus pela concepção humana do Filho de Deus em seu seio: "Mãe de Deus não porque o Verbo de Deus tirou dela sua natureza divina, mas porque é dela que ele tem o corpo sagrado dotado de uma alma racional, unido ao qual, na sua pessoa, se diz que o Verbo nasceu segundo a carne".

Denominada nos Evangelhos "a Mãe de Jesus" (João 2,1;19,25), Maria é aclamada, sob o impulso do Espírito, desde antes do nascimento de seu Filho, como "a Mãe de meu Senhor" (Lc 1,43). Com efeito, Aquele que ela concebeu Espírito Santo como homem e que se tornou verdadeiramente seu Filho segundo a carne não é outro que o Filho eterno do Pai, a segunda Pessoa da Santíssima Trindade. A Igreja confessa que Maria é verdadeiramente Mãe de Deus (Theotókos).