terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Meditações em um retiro 6


O zelo por Deus fez de Elias um refugiado: foi obrigado a fugir de Jezabel, que o queria matar. Caminhou longo caminho até o Horeb, o monte de Deus. Elias poderia rezar o Salmo: “Eu levanto os meus olhos para os montes: de onde pode vir o meu socorro?” E Elias experimentou a resposta: “Do Senhor é que me vem o meu socorro, do Senhor que fez o Céu e a Terra”. No monte, que significa o retirar-se do mundo para estar com Deus nas alturas, Deus fala a Elias. Não fala como antigamente, por meio de trovões, relâmpagos, terremotos, manifestações estrondosas da natureza nas quais achava-se Deus escondido; Deus fala, agora, através de uma suavíssima brisa. Elias é um coração sensível: sabe reconhecer a Deus que fala do modo discreto, suave, quase imperceptível. Ele cobre o rosto, assim como fez Moisés diante da sarça e sempre que entrava na Tenda da Reunião onde estava a Arca da Aliança, isto é, a presença de Deus.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Meditações em um retiro 5



Liberdade, em última análise, é dar glória a Deus, é pôr Deus em primeiro lugar. Padre Antonio Vieira diz, em um de seus memoráveis sermões, que os homens dão glória a Deus na terra para que, no céu, Deus dê glória aos homens. Assim, se de Moisés Deus pede que retire as sandálias, Ele apressa-se em ordenar que o filho pródigo, arrependido e voltado à casa do pai, seja revestido de sandálias nos pés, anéis nos dedos e a melhor túnica no corpo. Ao filho arrependido, que reconhece diante do pai a sua pequenez e ingratidão – “Já não mereço ser chamado teu filho” (Lc 15,21) –, o pai reveste da dignidade de senhor, seu herdeiro. Não o trata como um de seus empregados mas o reconhece como filho amado. Esta parábola aponta para a realidade afirmada por São Paulo na Carta aos Romanos: “Todos aqueles que se deixam conduzir pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. De fato, vós não recebestes espírito de escravos, para recairdes no medo, mas recebestes o Espírito que, por adoção, vos torna filhos, e no qual clamamos: ‘Abbá, Pai!’ O próprio Espírito se une ao nosso espírito, atestando que somos filhos de Deus. E, se somos filhos, somos também herdeiros: herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo, se, de fato, sofremos com ele, para sermos também glorificados com ele”. (Rm 8,14-17).

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Meditações de um retiro 4

Ouve! Este imperativo chama a atenção do Povo de Deus para a reciprocidade da Aliança. Assim como Deus ouve o seu povo e escuta seus lamentos, também o povo deve, em contrapartida, escutar o Senhor. Deve, portanto, estar atento para não se deixar desviar do Princípio de tudo, d’Aquele que até está em primeiro lugar, d’Aquele que deve estar sobre todas as coisas. E quando se diz “deve estar em primeiro lugar”, isto não significa que não o esteja na ordem da realidade; pode não estar, contudo, conquanto deva, em primeiro lugar na vida dos seres humanos. Os homens, mesmo tendo a boa vontade de servir a Deus e colocá-lo em primeiro lugar em suas vidas, tem uma fraqueza na faculdade da memória. O homem é um ser esquecido. Esqueceram o Deus que os salvara, diz o salmista. Por isso, Deus nos adverte continuamente: ouvi! Abri os ouvidos, inclinai-os às palavras de Deus para que não possais vos desviar do caminho da vida.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Meditações em um retiro 3



“Ouve, Israel! O Senhor Deus é o único Senhor” (Dt 6,4). Eis a vocação de Israel: ouvir, testemunhar e colocar em prática a realidade primordial: o Deus de Israel é o Deus do universo, é o único Deus, o único Senhor. Esta é a ordem das coisas: Deus em primeiro lugar, sozinho, sem concorrentes: Único. Todo o resto vem depois, todo o resto está em segundo lugar, a miríades de miríades de distância do Único: só Ele é o Senhor. Diante d’Ele somos todos servos, todos escravos; diante d’Ele somos nada, e, se somos algo, é porque temos n’Ele a consistência de nossa existência.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Meditações de um retiro 2


“Vendo o Senhor que Moisés se aproximava para observar, Deus o chamou do meio da sarça: ‘Moisés! Moisés!’ Ele respondeu: ‘Aqui estou’. 5 Deus lhe disse: ‘Não te aproximes daqui! Tira as sandálias dos pés, porque o lugar onde estás é chão sagrado’. 6 E acrescentou: ‘Eu Sou o Deus te teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac, o Deus de Jacó’. Moisés cobriu o rosto, pois temia olhar para Deus” (Ex 4,4-6)

Entrando na presença de Deus, este pede que Moisés tire as sandálias, pois o lugar onde estás é chão sagrado. O que significa este tirar as sandálias? As sandálias, na Antiguidade, eram de uso dos senhores; o escravo não as podia usar, estava sempre descalço. A sandália significa, dessa forma, a dignidade de pessoas livres, que não são escravos e podem decidir livremente o que fazer com sua vida. Ao mandar Moisés tirar as sandálias, Deus mostra que, diante d’Ele, todos são servos, todos escravos: Ele é o único Senhor. 

Meditações em um retiro 1

Acabando o retiro anual de Carnaval, ofereço-vos uma série de meditçoes sobre trechos da Escritura que foram inspiradas pelo pregador do Retiro, Padre José Augusto, e também pelo Espírito Santo.

“Passado muito tempo, morreu o rei do Egito. Os israelitas continuavam gemendo e clamando sob dura escravidão, e, do meio da escravidão, seu grito de socorro subiu até Deus. 24 Deus ouviu os seus lamentos e lembrou-se da aliança com Abraão, Isaac e Jacó. 25 Deus olhou para os israelitas e tomou conhecimento” (Ex 2,23-25)
O Deus de Israel não fica alheio aos sofrimentos de seu povo. Que imagem tempos de Deus, afinal? Deus não é indiferente ao destino do homem, não é o Relojoeiro dos teístas que, uma vez tendo dado corda no relógio do mundo, o abandona ao seu próprio tique-taque, sem intervir. Não! Deus é Providente, é Aquele que vê para frente e provê e não deixa faltar nada às criaturas que Ele ama, que fez à sua imagem e segundo à sua semelhança, que libertou, cuidou, ensinou, formou, remiu, salvou, transfigurou, divinizou. Deus ouve os gritos de socorro dos infelizes deste mundo, dos infelizes de cada época, de todas as épocas, assim como ouviu o grito dos hebreus no Egito. Ele ouve seus lamentos e lembra-se da Aliança; e, se o fez com os hebreus escravos, objeto da Aliança primeira com Abraão, nosso Pai, muito mais estará atento para libertar os gemidos dos que Ele redimiu com o precioso sangue de Seu Filho, sangue da Nova, Eterna e Perfeitíssima Aliança. Deus, portanto, ainda hoje, olha para nós e toma conhecimento de nossas dores, sofrimentos, angústias e fadigas, de nossas lutas e quedas, de nossa boa vontade e nosso esforço. Ele olha para tudo com olhar paternal e misericordioso e conta os tempos para intervir no momento oportuno.