Se, na primeira página do Gênesis, o trabalho de Deus é exemplo para o homem, é igualmente o seu “repouso”: “Deus repousou, no sétimo dia, do trabalho por Ele realizado” (Gn 2,2). Também aqui nos encontramos diante de um antropomorfismo, denso de uma mensagem significativa.
O “repouso” de Deus não pode ser interpretado de forma banal, como uma espécie de “inatividade” de Deus. Com efeito, o ato criador, que está na constituição do mundo, é permanente por sua própria natureza e Deus não cessa nunca de agir, como o próprio Jesus quis lembrar precisamente com referência ao preceito sabático: “Meu Pai trabalha continuamente e Eu também trabalho” (Jo 5,17). O repouso divino do sétimo dia não alude a um Deus inativo, mas sublinha a plenitude do que fora realizado, como que a exprimir que Deus descansou diante da obra “muito boa” (Gn 1,31) saída das suas mãos, para lançar sobre ela um olhar repleto de jubilosa complacência: um olhar “contemplativo”, que não visa a novas realizações, mas sobretudo a apreciar a beleza de quanto foi feito; um olhar laçado sobre todas as coisas, mas especialmente sobre o homem, ponto culminante da criação. É um olhar no qual já se pode, de certa forma, intuir a dinâmica “esponsal” da relação que Deus quer estabelecer com a criatura feita à sua imagem, chamando-a a comprometer-se num pacto de amor. É o que Ele realizará progressivamente, em vista da salvação oferecida à humanidade inteira, mediante a aliança salvífica estabelecida com Israel e culminada, depois, em Cristo: será precisamente o Verbo encarnado, através do dom escatológico do Espírito Santo e da constituição da Igreja como seu corpo e sua esposa, que estenderá a oferta de misericórdia e a proposta do amor do Pai a toda a humanidade.