terça-feira, 13 de setembro de 2011

Derrubando mitos: a Igreja excomungou o nazismo desde o início


Importante descoberta da “Pave the Way Foundation”

Por Antonio Gaspari
NOVA YORK, quinta-feira, 1º de outubro de 2009 (ZENIT.org).- Nada de "Papa de Hitler". Nada de colaboradores voluntários do nazismo. Alguns documentos encontrados na Alemanha pela Pave the Way Foundation (PTWF) provam que, desde setembro de 1930, os bispos católicos haviam excomungado o Partido Nazista de Hitler.

Nos documentos achados por Michael Hesemann, colaborador da PTWF, consta que, em setembro de 1930, três anos antes que Adolf Hitler subisse ao poder, a arquidiocese de Mogúncia condenou de forma pública o Partido Nazista.
Segundo as normas publicadas pelo Ordinário de Mogúncia, estava "proibido a qualquer católico inscrever-se nas filas do Partido Nacional-Socialista de Hitler".
"Aos membros do partido hitleriano não era permitido participar de funerais ou de outras celebrações católicas similares."
"Enquanto um católico estivesse inscrito no partido hitleriano, não podia ser admitido aos sacramentos."
A denúncia da arquidiocese de Mogúncia foi publicada em primeira página pelo L'Osservatore Romano, em um artigo de 11 de outubro de 1930.
O título do artigo é: "Partido de Hitler condenado pela autoridade eclesiástica". Nele se declarava a incompatibilidade da fé católica com o nacional-socialismo.
Nenhuma pessoa que se declarasse católica podia converter-se em membro do partido nazista, sob pena da exclusão dos sacramentos.
Em fevereiro de 1931, a diocese de Munique confirmou a incompatibilidade da fé católica com o Partido Nazista.
Em março de 1931, também a diocese de Colônia, Parderborn e as das províncias de Renânia denunciaram a ideologia nazista, proibindo de forma pública qualquer contato com os nazistas.
Indignados e furiosos pela excomunhão emitida pela Igreja Católica, os nazistas enviaram Hermann Göring a Roma com a petição de audiência com o secretário de Estado Eugenio Pacelli. No dia 30 de abril de 1931, o cardeal Pacelli rejeitou encontrar-se com Göring, que foi recebido pelo subsecretário, Dom Giuseppe Pizzardo, que tinha a tarefa de anotar tudo o que os nazistas pediam.
Em agosto de 1932, a Igreja Católica excomungou todos os dirigentes do Partido Nazista. Entre os princípios anticristãos denunciados como hereges, a Igreja mencionava explicitamente as teorias étnicas e o racismo.
Também em agosto de 1932, a Conferência Episcopal alemã publicou um documento detalhado no qual eram dadas instruções de como relacionar-se com o Partido Nazista. Nele, estava escrito que era absolutamente proibido aos católicos que fossem membros do Partido Nacional-Socialista. Quem desobedecesse, seria imediatamente excomungado.
Também estava escrito que "todos os Ordinários declararam ilícito pertencer ao Partido Nazista", porque "as manifestações de numerosos chefes e publicitários do partido têm um caráter hostil à fé" e "são contrárias às doutrinas fundamentais e às indicações da Igreja Católica".
Em janeiro de 1933, Adolf Hitler chegou ao poder e as associações católicas alemãs difundiram um folheto intitulado: "Um convite sério em um momento grave", no qual consideravam a vitória do Partido Nacional-Socialista como "um desastre" para o povo e para a nação.
No dia 10 de março de 1933, a Conferência Episcopal alemã, reunida em Fulda, enviou um apelo ao presidente da Alemanha, o general Paul L. von Beneckendorff und von Hindenburg, expressando "nossas preocupações mais graves, que são compartilhadas por amplos setores da população".
Os bispos alemães se dirigiram a von Hindenburg manifestando seu temor de que os nazistas não respeitassem "o santuário da Igreja e a posição da Igreja na vida pública". Por isso, pediram ao presidente uma "urgente proteção da Igreja e da vida eclesiástica".
Os bispos católicos haviam previsto isso, mas não foram escutados.
Os documentos encontrados pela PTWF são de notável importância porque põem um fim às repetidas calúnias que pretenderam manchar a Igreja Católica como diligente colaboradora do nazismo, quando na verdade foi a primeira em denunciar sua periculosidade.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Cristo, esperança e consolo no cotidiano


ANCONA, domingo, 11 de setembro de 2011 (ZENIT.org) – Apresentamos as palavras do Papa Bento XVI pronunciou hoje ao introduzir a oração do Angelus no estaleiro de Ancona (Itália), ao concluir a missa de encerramento do 25º Congresso Eucarístico Nacional.

* * *

Queridos irmãos e irmãs,
antes de concluir esta solene celebração eucarística, a oração do Angelus nos convida a refletir sobre Maria, para contemplar o abismo de amor do qual procede o sacramento da Eucaristia.
Meditando o mistério da Encarnação, nos dirigimos todos, com a mente e o coração, ao Santuário da Santa Casa de Loreto, do qual só poucos quilômetros nos separam. A terra de Marche é toda iluminada pela presença espiritual de Maria em seu santuário histórico, que torna ainda mais belas e doces estas colinas. A ela confio neste momento a cidade de Ancona, a diocese, Marche e toda Itália, para que no povo italiano esteja sempre viva a fé no mistério eucarístico, que em cada cidade e em cada povo, dos Alpes à Sicília, faça presente Cristo Ressuscitado, fonte de esperança e de consolo para a vida cotidiana, especialmente nos momentos difíceis.
Hoje nosso pensamento vai também para o 11 de setembro, 10 anos atrás. Ao recordar o Senhor da Vida junto das vítimas dos ataques que aconteceram naquele dia, e suas famílias, convido os líderes das nações e os homens de boa vontade a rejeitar sempre a violência como solução para os problemas e a resistir à tentação do ódio e a trabalhar na sociedade, inspirando-se nos princípios da solidariedade, da justiça e da paz.
Por intercessão de Maria Santíssima, peço, por fim, ao Senhor que recompense todos aqueles que trabalharam na preparação e organização deste Congresso Eucarístico Nacional, e a eles calorosamente dirijo os meus sinceros agradecimentos.
Angelus Domini…

[Traduzido por ZENIT
©Libreria Editrice Vaticana]

Festa do Santíssimo Nome de Maria


AFesta do Santo Nome de Maria foi concedida por Roma, em 1513, a uma diocese naEspanha, Cuenca. Suprimida por São Pio V, foi restaurada pelo Papa Sixto V em 1671e, em seguida, estendido para o Reino de Nápoles e Milan. Em 12 de setembro de1683, tendo João III Sobieski com seus poloneses vencido os turcos que estavamsitiando Viena e ameaçando a Cristandade, o Bem-Aventurado Inocêncio XI, emação de graças, estendeu a festa à Igreja universal e fixou para o domingo dentroda Oitava do Natal . O santo Papa Pio X a levou de volta para 12 de setembro.

O Martirológio Romano diz:
Santíssimo Nome de Maria: neste dia se evoca o inefável amor da Mãe de Deus paracom seu Santíssimo Filho e é proposto aosfiéis a figura da Mãe do Redentorpara que seja devotamente invocada.
* * *
Na história daexegese, houve diferentes interpretações do significado do nome de Maria:

1) "Amargura”
Este significado é dado por alguns rabinos: o nome vem da raiz MRR =Miryam, em hebraico "ser amargo." Estes rabinossustentam que Maria, irmã de Moisés,foi chamado assim porque, quando ele nasceu, o Faraó começou “a tornar amarga a vida dos israelitas”, e tomou a decisão de matar as crianças hebreias.
Essa interpretação pode ser aceita pornós cristãos se pensarmos quanta dore amargura sofridos por Maria na corredenção:
Todos vós quepassais pelo caminho, olhai e vêde se há dor como aminha dor...” (Lm 1,12)
Além disso, o diabo, de quem o Faraóé a figura, faz guerra à descendência damulher, tornando amarga a vida para verdadeiros devotos de Maria, que, poroutro lado, nada temem, protegidos por sua Rainha.

2) "Mestra e Senhora do Mar"
De acordo com essa interpretação, o nome de Maria deriva do hebraico Moré (Mestra-Senhora) + YAM (=mar): como Maria, irmã de Moisés, que era a condutora das mulheres hebreiasna travessia do Mar Vermelho e Mestra no canto da vitória (cf. Ex 15,20), então "Maria é a mestra e Senhora do Mar desteséculo, que nos faz atravessá-lo,  conduzindo-nos para océu" (Santo Ambrósio, Ex. às Virg.).
Outros autores antigos sugerem esta interpretação: Fílon, São Jerônimo,Santo Epifânio.
Este paralelo tipológico entre Maria,irmã de Moisés e de Maria,Mãe de Deus, é tirado de Santo Agostinho, que chama Maria "tympanistria nostra” (Maria, airmã de Moisés, é a musicista dos tímpanos (timpanista) doshebreus; Maria Santíssima é a nossa timpanista, a timpanista dos cristãos: ocântico de Moisés do Novo Testamento seria o Magnificat, cantadoprecisamente por Maria: esta interpretação é apoiada hoje pelo Pe. Le Deaut, um dos maiores conhecedores da literatura targúmica judaica: segundo este autor, São Lucas teria feito voluntariamente este paralelismo.

3) “Iluminadora,Estrela do mar "
Deacordo com essa interpretação, o nome de Maria deriva do prefixo nominal (ou particípio)M + 'OR (hebraico = luz) + YAM (= mar): assim pensam São Gregório o Taumaturgo,Santo Isidoro, São Jerônimo.
Algunsautores acreditam que S. Jerônimo, na realidade, não interpretou o nome como"Stella Maria”, Estrela do mar, mas como "Stilla maris", ou seja,gota do mar.
Apresença do radical "mar" no nome de Maria sugeriu diferentes interpretaçõese comparações de Maria com o "mar":
Pedrode Celles (+1183) entende Maria por “mar de graças", donde São Luis Montfortcompleta: "Deus Pai reuniu todas as águas e chamou o mar, reuniu todas asgraças e chamou Maria" (Tratado da verdadeira devoção, 23).
Eclesiastes1,7  diz: "todos os rios entram nomar". São Boaventura sustenta que todas as graças (= todos os rios) quetiveram os anjos, os apóstolos, os mártires, os confessores, as virgens, são"confluem" em Maria, o oceano de graças.
Santa Brígida assevera: "É por isso que é o nome de Maria é agradável aosanjos e terrível aos demônios"
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Ave MarisStella, Mater Deialma, atque Sempervirgo, Felix porta coeli...(Ave, Estrela do Mar, Mãe de Deus e Sempre Virgem, Feliz Porta do Céu)
Este hino pareceuma meditação sobre o nome de Maria, em referência à Maria, irmã deMoisés: “Ave Maris Stella” (cf. o significado 3); "MaterDei ALMA atque Sempervirgo": Maria, irmã de Moisés, é chamado emÊxodo 2,8, `Almah = "virgem" e, etimoligamente “escondida”; “felix porta coeli”,ou seja, “Senhora do Mar desteséculo, ao qual Ela nos faz atraversar (cf. significado 2).

4) CHUVASAZONAL
De acordo com essa interpretação, o nome de Maria deriva deMoré (em hebraico, primeira chuva sazonal). Maria é considerada como Aquela que envia do céu uma "chuva de graça" e "chuva de graça em si."
Esta interpretação, que C. A. Lapide atribui à Pagninus, éparcialmente recuperada por São Luisde Montfort na Oração Ardente: comentando o Salmo 67,10 que diz “pluviam voluntariam elevasti Deus, hereditatemtuam laborantem confortasti"(Derramastas lá do alto uma chuva generosa e vossa herança, jácansada, renovastes), Montfort diz: “Qual é, Senhor,essa chuva voluntária que separastes e escolhestes para vossa enfraquecidaherança senao esses santos missionários, filhos de Maria vosssa Esposa, aosquais deveis congregar e separar do mundo, para bem de vossa Igreja, tão enfraquecidae maculada pelos crimes de seus filhos?” (Prece Ardente, 20). Maria, chuva de graças, formará e enviará à terra uma chuva de missionários.

5) ALTURA
De acordo com essa interpretação, deriva o nome de Maria de Marom (Heb.Altura, excelsis): esta hipótese é apoiada, entre os antigos por Caninius e, entre os modernos,a partir de Vogt, especialmente com baseem descobertas recentes dostextos ugaríticos, que têmpermitido a compreensão de muitasraízes judaicas.
Canta Lucas 1,78:Per viscera misericordiae Dei nostri in quibus visitavit nos oriens EX ALTO”. Este versículo,segundo o texto grego e retroversão emhebraico, pode ser traduzido:Visitou-nos do alto um sol nascente:Cristo é o sol nascente que vem de cima (o Pai); ou visitou-nos um sol quesurgiu “do alto” ou seja, de Maria.
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De todas essas hipóteses, qual é a correta? Talvez a Providência nos deixou em dúvida, para que no nome de Maria possamos encontrar ao mesmo tempo todosos significados que sugere a analogiada fé.

Autor: Don AlfredoMorselli
Tradução: Henrique Albuquerque

sábado, 10 de setembro de 2011


MADRI, 30 Ago. 11 / 01:41 pm (ACI/EWTN Noticias),
via blog.bibliacatolica.com.br

Em sua habitual coluna no jornal espanhol El Pais, o ganhador do prêmio Nobel de Literatura, Mario Vargas Llosa, assinalou este domingo que o êxito da recente Jornada Mundial da Juventude em Madrid fez evidente que ocidente necessita do catolicismo para subsistir.
Em seu artigo chamado “A festa e a cruzada”, Vargas Llosa, que se declara agnóstico e é um constante caluniador dos ensinos da Igreja, elogia o espetáculo de Madrid “invadida por centenas de milhares de jovens procedentes dos cinco continentes para assistir à Jornada Mundial da Juventude que presidiu Bento XVI”.
No texto recolhido também em sua edição de hoje pelo jornal vaticano L’Osservatore Romano, Vargas Llosa, nascido no Peru mas de nacionalidade espanhola, afirma que a JMJ foi “uma gigantesca festa de moças e rapazes adolescentes, estudantes, jovens profissionais vindos de todos os lados do mundo a cantar, dançar, rezar e proclamar sua adesão à Igreja Católica e seu ‘vício’ ao Papa”.
“As pequenas manifestações de leigos, anarquistas, ateus e católicos insubmissos contra o Papa provocaram incidentes menores, embora alguns grotescos, como o grupo de energúmenos visto jogando camisinhas em umas meninas que… rezavam o terço com os olhos fechados”.
Segundo Vargas Llosa existem “duas leituras possíveis deste acontecimento”: uma que vê na JMJ “um festival mais de superfície que de entranha religiosa”; e outra que a interpreta como “a prova de que a Igreja de Cristo mantém sua pujança e sua vitalidade”.
Depois de mencionar as estatísticas que assinalam que apenas 51 por cento de jovens espanhóis se confessam católicos, mas só 12 por cento pratica sua religião, Vargas Llosa diz que “desde meu ponto de vista este paulatino declínio do número de fiéis da Igreja Católica, em vez de ser um sintoma de sua inevitável ruína e extinção é, aliás, fermento da vitalidade e energia que o que fica dela –dezenas de milhões de pessoas– veio mostrando, sobretudo sob os pontificados de João Paulo II e Bento XVI”.
“Em todo caso, prescindindo do contexto teológico, atendendo unicamente a sua dimensão social e política, a verdade é que, embora perca fiéis e encolha, o catolicismo está hoje em dia mais unido, ativo e beligerante que nos anos em que parecia prestes a rasgar-se e dividir-se pelas lutas ideológicas internas”.
Vargas Llosa se pergunta se isto é bom ou mau para o secularismo ocidental; e responde que “enquanto o Estado seja laico e mantenha sua independência frente a todas as igrejas”, “é bom, porque uma sociedade democrática não pode combater eficazmente os seus inimigos –começando pela corrupção– se suas instituições não estiverem firmemente respaldadas por valores éticos, se uma rica vida espiritual não florescer em seu seio como um antídoto permanente às forças destrutivas”.
“Em nosso tempo”, segue Vargas Llosa, a cultura “não pôde substituir à religião nem poderá fazê-lo, salvo para pequenas minorias, marginais ao grande público”; porque “por mais que tantos muito brilhantes intelectuais tentem nos convencer de que o ateísmo é a única conseqüência lógica e racional do conhecimento e da experiência acumuladas pela história da civilização, a idéia da extinção definitiva seguirá sendo intolerável para o ser humano comum, que seguirá encontrando na fé aquela esperança de uma sobrevivência além da morte à qual nunca pôde renunciar”.
“Crentes e não crentes devemos nos alegrarmos pelo ocorrido em Madrid nestes dias em que Deus parecia existir, o catolicismo ser a religião única e verdadeira, e todos como bons meninos partíamos de mãos dadas ao Santo Padre para o reino dos céus”, conclui.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

A proximidade de Deus - Bento XVI

O Santo Padre Bento XVI continua as suas catequeses semanais sobre a oração. A seguir, a última, do dia 7 de setembro, traduzido por zenit.org.


Queridos irmãos e irmãs:
Retomamos hoje as audiências na Praça de São Pedro e a “escola de oração” que estamos vivendo juntos nestas catequeses das quartas-feiras. Eu gostaria de começar meditando sobre alguns salmos que, como comentei no mês de junho, formam o “livro de oração” por excelência. O primeiro salmo no qual eu gostaria de me deter é um salmo de lamentação e de súplica, imbuído de uma profunda confiança, no qual a certeza da presença de Deus é o fundamento da oração que se produz em uma condição de extrema dificuldade do orante. Trata-se do salmo 3, que a tradição judaica atribui a Davi no momento em que ele foge de Absalão (cf. vers. 1). É um dos episódios mais dramáticos e sofrentes da vida do rei, quando seu próprio filho usurpa o trono real e o obriga a abandonar Jerusalém para salvar a vida (cf. 2 Sam, 15 ss). A situação de angústia e de perigo experimentada por Davi é o pano de fundo desta oração e uma ajuda para a sua compreensão, apresentando-se como a situação típica em que um salmo é recitado. No grito do salmista, todo homem pode reconhecer estes sentimentos de dor, de amargura, e ao mesmo tempo de confiança em Deus, que, segundo a narração bíblica, acompanhou Davi em sua fuga da cidade. O salmo começa com uma invocação ao Senhor.
“Ó, Senhor, como são numerosos meus adversários! São muitos os que se erguem contra mim; muitos dizem a meu respeito: 'Deus não vai lhe dar a salvação!'” (v. 2-3).
A descrição que o salmista faz da sua situação está marcada, portanto, por tons fortemente dramáticos. Ele afirma três vezes a ideia da multidão - “numerosos”, “muitos”, “muitos” – que, no texto original, se realiza com a mesma raiz hebraica, para destacar mais ainda a enormidade do perigo, de forma repetitiva, quase maçante. Esta insistência no número e grandeza dos inimigos serve para expressar a percepção, por parte do salmista, da desproporção total existente entre ele e seus perseguidores, uma desproporção que justifica a urgência da sua petição de ajuda: os opressores são muitos, têm o controle da situação, enquanto o orante está sozinho e indefeso, à mercê dos seus agressores. E a primeira palavra que o salmista pronuncia é “Senhor”; seu grito começa com uma invocação a Deus. Uma multidão surge e se levanta contra ele, provocando-lhe um medo que aumenta a ameaça, fazendo-a parecer ainda maior e terrível; mas o salmista não se deixa vencer por esta visão de morte, mas mantém firme sua relação com o Deus da vida e é a Ele a quem se dirige, em primeiro lugar, buscando sua ajuda. No entanto, os inimigos tentam também destruir este vínculo com Deus e destruir a fé da sua vítima. Estes insinuam que o Senhor não pode intervir, afirmam que nem Deus pode salvá-lo. A agressão, portanto, não é somente física, mas afeta também a dimensão espiritual: “Deus não vai lhe dar a salvação” – dizem –, agredindo o núcleo central da alma do salmista. É a última tentação que o crente sofre, a tentação de perder a fé, a confiança na proximidade de Deus. O justo supera a última prova, permanece firme na fé, na certeza da verdade e na confiança plena em Deus. Assim encontra a vida e a verdade.
Parece que o salmo nos afeta pessoalmente: são muitos os problemas em que sentimos a tentação de que Deus não me salva, não me conhece, talvez não tenha a possibilidade; a tentação contra a fé é a última agressão do inimigo e devemos resistir a ela porque assim nos encontramos com Deus e encontramos a vida.
O salmista do nosso salmo está chamado, portanto, a responder com fé aos ataques dos ímpios: os inimigos, como comentei, negam que Deus possa ajudá-lo, mas ele, no entanto, o invoca, o chama pelo seu nome – “Senhor” – e depois se dirige a Ele com um “tu” enfático, que expressa uma relação firme, sólida e recolhe em si a certeza da resposta divina: “Mas tu, ó Senhor, és minha defesa, és a minha glória, tu que ergues a minha cabeça. Quando com minha voz eu invoquei o Senhor, ele me respondeu do seu santo monte” (v. 4-5). A visão dos inimigos desaparece agora, não venceram porque quem crê em Deus está certo de que Deus é seu amigo: resta somente o “Tu” de Deus; aos “muitos” se contrapõe somente um, mas que é muito maior e potente que muitos adversários. O Senhor é ajuda, defesa, salvação; como escudo, protege quem confia n'Ele, fazendo-o levantar a cabeça com gesto de triunfo e de vitória. O homem já não está só, os inimigos já não são tão imbatíveis como pareciam, porque o Senhor escuta o grito do oprimido e responde do lugar da sua presença, do seu monte santo. O homem grita na angústia, no perigo, na dor; o homem pede ajuda e Deus responde. Este entrelaçar-se do grito humano e da resposta divina é a dialética da oração e a chave de leitura de toda a história da salvação. O grito expressa a necessidade de ajuda e interpela à fidelidade do Deus que escuta. A oração expressa a certeza de uma presença divina que já se experimentou e na qual se acreditou, e se manifesta plenamente na resposta salvífica de Deus. Isso é importante: que, na nossa oração, esteja presente a certeza da presença de Deus. Assim, o salmista que se sente assediado pela morte, confessa sua fé no Deus da vida que, como escudo, o cerca com uma proteção invulnerável; quem pensava estar perdido pode levantar a cabeça porque o Senhor o salva; o orante, ameaçado e humilhado, está na glória porque Deus é a sua glória. A resposta divina que acolhe a oração dá ao salmista uma segurança total; termina também o medo e o grito se aquieta na paz, na profunda tranquilidade interior: “Eis que me deito e durmo, e me acordo, pois o Senhor me sustenta. Não tenho medo da multidão de gente que se lança contra mim de todo lado” (v. 6-7).
O orante, inclusive no meio do perigo e da batalha, pode dormir tranquilo, em uma atitude inequívoca de abandono confiante. Ao seu redor, os adversários acampam, assediam-no, são muitos, erguem-se contra ele, zombam dele e procuram derrubá-lo, mas ele, no entanto, se deita e dorme tranquilo e sereno, certo da presença de Deus. E, ao despertar, encontra Deus ao seu lado, como guardião que não dorme (cf. Sal 121,3-4), que o segura pela mão, que não o abandona jamais. O medo da morte é vencido pela presença d'Aquele que não morre. É justamente a noite, povoada de medos ancestrais, a noite dolorosa da solidão e da espera angustiante, que se transforma: o que evoca a morte se converte em presença do Eterno.
À visão do assalto inimigo, enorme, imponente, contrapõe-se a invisível presença de Deus, com toda a sua invencível potência. E é a Ele a quem, novamente, o salmista, depois das suas frases de confiança, dirige sua oração: “Levanta-te, Senhor, salva-me, ó Deus!” (v. 8a). Os agressores “se levantavam” contra a sua vítima, mas quem, no entanto, “se levantará” é o Senhor, e o fará para destruí-los. Deus o salvará respondendo ao seu grito. Por isso, o salmo termina com a visão da libertação do perigo que mata e da tentação que pode fazer-nos perecer. Depois da petição dirigida ao Senhor para que se levante e nos salve, o orante descreve a vitória divina: os inimigos, que, com sua injusta e cruel opressão, são símbolo de tudo o que se opõe a Deus e ao seu plano de salvação, são derrotados. Atingidos na boca, não poderão agredir mais com a sua violência destrutiva e não poderão insinuar o mal da dúvida sobre a presença e a ação de Deus: seu falar insensato e blasfemo é desmentido finalmente e reduzido ao silêncio pela intervenção salvífica de Deus (cf. v. 8bc). Assim, o salmista pode concluir sua oração com uma frase com as conotações litúrgicas que celebra, na gratidão e no louvor, o Deus da vida: “Do Senhor é a salvação. Sobre o seu povo desça a sua bênção!” (v.9).
Queridos irmãos e irmãs, o salmo 3 nos apresenta uma súplica repleta de confiança e consolo. Rezando este salmo, podemos fazer nossos os sentimentos do salmista, figura do justo perseguido que, em Jesus, encontra seu cumprimento. Na dor, no perigo, na amargura da incompreensão e da ofensa, as palavras do salmo abrem o nosso coração à certeza consoladora da fé. Deus sempre está perto – escuta, responde e salva do seu jeito. Mas é necessário saber reconhecer sua presença e aceitar seus caminhos, como Davi fugindo humilhado do seu filho Absalão, como o justo perseguido do Livro da Sabedoria, como o Senhor Jesus no Gólgota. E quando, aos olhos dos ímpios, Deus parece não intervir e o Filho morre, então é quando se manifesta a todos os crentes a verdadeira glória e o cumprimento definitivo da salvação. Que o Senhor nos dê fé, nos ajude na nossa fraqueza e nos torne capazes de crer e de rezar em toda angústia, nas noites dolorosas da dúvida e nos longos dias de dor, abandonando-nos com confiança n'Ele, que é o nosso “escudo” e a nossa “glória”.
Obrigado.

[No final da audiência, Bento XVI saudou os peregrinos em vários idiomas. Em português, disse:]

Queridos irmãos e irmãs,
Na “escola da oração” que temos vivido, juntos, nestas catequeses de quarta-feira, desejo hoje dar início à meditação sobre alguns dos cento e cinquenta salmos bíblicos, que formam o livro de oração por excelência. Começamos pelo Salmo três, uma súplica cheia de confiança e consolação. No perigo, no sofrimento, na amargura, as palavras deste salmo abrem o coração à certeza reconfortante da fé. Quem pensava que já estava perdido, pode levantar a cabeça, porque o Senhor o salva. A resposta divina, que acolhe a oração, dá ao salmista uma segurança total. O medo da morte é vencido pela presença d’Aquele que não morre. Deus está sempre perto, mesmo nos períodos escuros da vida. Mas é preciso saber reconhecer a sua presença e aceitar os seus caminhos, como fez Jesus no Gólgota. E mesmo quando parece, aos olhos dos ímpios, que Deus não interveio porque deixou o Filho morrer na Cruz, então é que se manifesta, para todos os crentes, a verdadeira glória e a realização definitiva da salvação.
Amados peregrinos de língua portuguesa, a minha saudação amiga para todos, em particular para os fiéis de várias paróquias das cidades de Santo Amaro, São João del Rei e São Paulo, desejando que este Salmo três lhes sirva de portal na sua peregrinação a Roma: da infinidade de coisas – tantas vezes duras – da vida, aprendam a elevar o coração até o Pai do Céu, repousando no seio da sua infinita bondade, e verão que as dores e aflições da vida lhes farão menos mal. Sobre todos, e extensiva aos familiares e comunidades eclesiais, desça a minha bênção apostólica.

[Tradução: Aline Banchieri.
©Libreria Editrice Vaticana]

Fonte: http://www.zenit.org/article-28789?l=portuguese

Adélia Prado: poesia, Deus, a Bíblia, a Vida Eterna

Para os leitores do Veni Creator, estas reflexões belíssimas da poetisa Adélia Prado. Quem dera tivéssemos mais bons artistas que pensassem assim! 
Senhor, Vós que tornais os artistas capazes de exprimir a vossa beleza, por meio da sua sensibilidade e imaginação, fazei de suas obras uma mensagem de alegria e de esperança para o mundo. Amém.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

A Natividade de Maria na Liturgia Bizantina




Neste dia alegre da Natividade da Virgem Maria, apresento-vos os belíssimos textos da liturgia bizantina sobre a festa de hoje. Para rezar e maravilhar-se pelas maravilhas que Deus realizou na Ssma. Virgem.


08 DE SETEMBRO:
«Festa da Natividade da Santa Mãe de Deus, a Bem-aventurada Virgem Maria»

Tropários da Festa:

Apolitikion (4º tom)
Tua natividade, ó Mãe de Deus,
anunciou a alegria ao mundo inteiro;
Pois de ti nasceu o sol da justiça, o Cristo nosso Deus,
o qual, abolindo a maldição, nos deu a bênção,
e destruindo a morte, deu-nos a vida eterna.


Kondakion (4º tom)

Pela tua santa natividade, ó Pura,
Joaquim e Ana foram libertos do opróbrio da esterilidade
e Adão e Eva, da corrupção da morte.
Teu povo, salvo da escravidão de pecado
te festeja, exclamando: "a estéril dá a luz,
a mãe de Deus que alimenta nossa vida!

Prokimenon

Minha alma glorifica o Senhor,
meu espírito exulta de alegria em Deus meu Salvador (Lc 1,46)
Porque voltou seus olhos para a humildade de sua serva;
doravante, todas as gerações me chamarão bem-aventurada (Lc 1,48)

Epístola
[Fp 2, 5-11]
Epístola do Apóstolo São Paulo aos Filipenses
rmãos, dedicai-vos mutuamente a estima que se deve em Cristo Jesus. Sendo ele de condição divina, não se prevaleceu de sua igualdade com Deus, mas aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-se aos homens. E, sendo exteriormente reconhecido como homem, humilhou-se ainda mais, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz. Por isso Deus o exaltou soberanamente e lhe outorgou o nome que está acima de todos os nomes, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho no céu, na terra e nos infernos. E toda língua confesse, para a glória de Deus Pai, que Jesus Cristo é Senhor.
Aleluia
Aleluia, aleluia, aleluia
Ouve, ó filha, vê e inclina o teu ouvido
pois o Rei se encantou por tua beleza (45,10) 
Aleluia, aleluia, aleluia!
Prostra-te a sua frente,
pois Ele é o teu Senhor!
Aleluia, aleluia, aleluia!

Evangelho

[Lc 10, 38-42; 11, 27-28]
Evangelho de Nosso Senhor JesusCristo, segundo o Evangelista São Lucas
aquele tempo, estando Jesus em viagem, entrou numa aldeia, onde uma mulher, chamada Marta, o recebeu em sua casa. Tinha ela uma irmã por nome Maria, que se assentou aos pés do Senhor para ouvi-lo falar. Marta, toda preocupada na lida da casa, veio a Jesus e disse: Senhor, não te importas que minha irmã me deixe só a servir? Dize-lhe que me ajude. Respondeu-lhe o Senhor: Marta, Marta, andas muito inquieta e te preocupas com muitas coisas; no entanto, uma só coisa é necessária; Maria escolheu a boa parte, que lhe não será tirada. Enquanto ele assim falava, uma mulher levantou a voz do meio do povo e lhe disse: Bem-aventurado o ventre que te trouxe, e os peitos que te amamentaram! Mas Jesus replicou: Antes bem-aventurados aqueles que ouvem a palavra de Deus e a observam!

Hirmós

Tomarei o Cálice da salvação
e invocarei o nome do Senhor!
Aleluia, aleluia, aleluia

Kinonikon

Louvai o Senhor nos Céus,
louvai-O nas alturas.
Aleluia, aleluia, aleluia


festividade do nascimento da Mãe de Deus tem provavelmente sua origem em Jerusalém, em meados do século V. Porque foi em Jerusalém que se manteve viva a tradição que a Virgem teria nascido junto à Porta da Piscina Probática.
Fazendo uso desta referência, encontramos citações de São João Damasceno em sua Homilia sobre a Natividade de Maria: "Hoje é o começo da salvação do mundo, porque na Santa Probática foi-nos gerada a Mãe de Deus através de quem o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo, nos foi gerado." [1]
Considerado o nascimento de Maria como o início histórico da obra da Redenção, o Calendário Litúrgico Bizantino abre suas portas festejando o nascimento da Virgem: "A celebração de hoje é para nós o começo de todas as festas". [2]
Maria é apresentada pela Liturgia como a "Virgem bela e Gloriosa" que Deus amou com predileção deste a sua eternidade desde toda a Criação como sua obra-prima, enriquecida das graças mais sublimes e elevada à excelsa dignidade de Mãe de Deus e de Bem-aventurada Virgem. [3]
Segundo o espírito da Igreja, devemos celebrar a Festa da Natividade com santa Alegria, porque o nascimento de Maria é a aurora de nossa salvação. Com o seu nascimento é anunciado ao mundo a boa nova: a mãe do Salvador já está entre nós. 
«Alegrem-se, portanto, os Patriarcas do Antigo Testamento que, em Maria, reconheceram a figura da Mãe do Messias. Eles e os justos da Antiga Lei aguardavam a séculos, serem admitidos na glória celeste pela aplicação na fé dos méritos de Cristo, o bendito fruto da Virgem Maria . Alegrem-se todos os homens porque o nascimento da Virgem veio anunciar-lhes a aurora do grande dia da libertação pela qual aspiram todos os povos. Alegrem-se todos os anjos porque neste dia foi-lhes dada pela primeira vez a ocasião de reverenciar a sua futura Rainha.» [4]
Visivelmente, nenhum acontecimento extraordinário acompanhou o nascimento de Maria e os Evangelhos nada dizem sobre sua natividade. Nenhum relato de profecia, nem aparições de anjos, nem sinais extraordinários são narrados pelos Evangelistas. Só no Céu houve Festa, pois o Filho de Deus vê sua Mãe nascer. 
Na vida da Virgem Maria a ordinariedade dos fatos sempre lhe acompanhou. Aquela que vivia o seu cotidiano de maneira despercebida aos olhos dos homens dá à Luz o Salvador. A humildade também lhe era característica pois ela sendo Rainha apresentou-se sempre como serva obediente. 
Tem-se poucos registros históricos da cidade onde nascera Maria , mas por ser conhecida como "A Virgem de Nazaré", intui-se que foi lá que Joaquim e Ana (avós de Jesus) receberam de Deus a pequena Maria.
O mundo continuou seu curso dando importância a outros acontecimentos que depois seriam completamente esquecidos. Para Deus a grandeza dos fatos não está na proporção dos aplausos que o mundo lhe oferece, mas na serenidade de sua aceitação cumprindo a sua vontade. 
Com freqüência as coisas importantes para Deus passam despercebidas aos olhos dos homens. 
Cresceu como todas as jovens, mas se distinguia por ser toda de Deus, guardando tudo em seu coração". [5] A sua vida ,tão cheia de normalidade, ensina-nos a agir em tudo com olhos postos em Deus numa perpétua oferenda ao Senhor.
Maria é a aurora que preconiza a vinda Sol, o Sol da justiça que traz à luz aqueles que estão nas trevas do pecado.

Notas:
[1] São João Damasceno, Homilia sobre a Natividade de Maria, 6 PG 96;
[2] Andréas de Creta, Homilia Mariana. V. Fazzo p.43
[3] Patriarca Fócio, Homilia sobre a Natividade,PG 43
[4] Lehmann, P. JB. Na luz Perpétua, 1959 p.268
[5] Lc 2,51
«O nascimento da nova Eva»

S. Bernardo (1091-1153): Louvores da Virgem Maria - homilia 2


Alegra-te, Adão, nosso pai, e sobretudo tu, Eva, nossa mãe. Fostes ao mesmo tempo os nossos pais e os nossos assassinos; vós que nos destinastes à morte ainda antes de nos terdes dado à luz, consolai-vos agora. Uma das vossas filhas – e que filha! – vos consolará… Vem então, Eva, corre para junto de Maria. Que a mãe recorra à sua filha; a filha responderá pela mãe e apagará a sua falta… Porque a raça humana será agora elevada por uma mulher.
Que dizia Adão outrora? “A mulher que me deste ofereceu-me o fruto da árvore e eu comi.” (Gn 3,12) Eram palavras más, que agravavam a sua falta em vez de a apagarem. Mas a divina Sabedoria triunfou sobre tanta malícia; aquela ocasião de perdoar que Deus tinha tentado em vão fazer nascer, ao interrogar Adão, eis que agora a encontra no tesouro da sua inesgotável bondade. A primeira mulher é substituída por outra, uma mulher sábia no lugar da insensata, uma mulher humilde tanto quanto a outra era orgulhosa.
Em vez do fruto da árvore da morte, ela apresenta aos homens o pão da vida; substitui aquele alimento amargo e envenenado pela doçura dum alimento eterno. Muda então, Adão, a tua acusação injusta em expressão de agradecimento e diz: “Senhor, a mulher que tu me deste apresentou-me o fruto da árvore da vida. Comi dele e o seu sabor foi para mim mais delicioso do que o mel (Sl 18,11), porque por este fruto me devolveste a vida.” Eis porque é que o anjo foi enviado a uma virgem. Ó Virgem admirável, digna de todas as honras! Ó mulher que temos de venerar infinitamente entre todas as mulheres, tu reparas a falta dos nossos primeiros pais, tu dás vida a toda a sua descendência.

Fonte: http://www.ecclesia.com.br/sinaxe/natividade_maria.html

Ave, Mãe de Nosso Livramento!

Na Tua imagem nosso alento,
Mãe de Jesus, Imaculada,
Serás por todos proclamada
Nossa Senhora do Livramento!

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

História da Liturgia 1: O Culto na época do Novo Testamento


Este é post de número500 do blog! Agradecendo a todos os que o visitam nesses quase três anos e maisde 20 mil acessos, começarei uma série de artigos sobre a História da Liturgiada Igreja. Espero que seja útil para tantos quantos aportem por aqui. Deus osabençoe e boa leitura!

INTRODUÇÃO

E rogarei ao Pai e ele vos dará outroParáclito,
para que convosco permaneça para sempre (...)
[Ele] vos ensinarátudo e vos recordará tudo que vos disse. (Jo 14,16.26) 
Eis que estou convosco todos os dias, até o fimdos tempos. (Mt 28,20) 

Deus é fiel e cumpre as promessas. (Rm 15,8)

A promessa de JesusCristo de permanecer sempre em sua Igreja, não poderia ficar sem cumprimento; eé pelo Espírito Santo, Um com o Pai e o Filho, que Este a realiza. Assim, emtoda a história da humanidade depois de Cristo, transparece o esplendor dapresença divina pela sustentação e renovação da Igreja e pelos inúmeros sinaisdivinos de que o Senhor, não obstante a debilidade dos seus fiéis, sustenta aIgreja e a torna Santa e Imaculada.

O Espírito Santocaminha com a Igreja, a conduz nos caminhos tortuosos da história. Em cadaépoca, o Espírito guia a Igreja. Guiou-a desde a comunidade primitiva, passandopela época dos mártires, das relações com o Império Romano, da educação dospovos bárbaros, do esplendor medieval das catedrais e das cruzadas, na crise dofim da Idade Média, no Renascimento, na época do Absolutismo e das Luzes, naera das Revoluções e das Guerras, no doloroso século XX e neste novo que seinicia. Em cada época, o Espírito renova a Igreja: ela se torna nova e, aomesmo tempo, permanece a mesma: a Esposa Imaculada do Cordeiro Imaculado. Emépoca alguma o Espírito tirou férias ou cochilou: Ele sempre sustentou esustentará a Igreja Católica até o seu encontro definitivo com o Cristoglorioso.
A Liturgia é o momentoprivilegiado da ação de Cristo no Espírito. Ele é o responsável pelacomunicação sacramental da graça de Cristo aos fieis. A esse respeito, assim seexpressa o Catecismo da Igreja Católica: “Nesta comunicação sacramental domistério de Cristo, o Espírito age da mesma forma que nos outros tempos daeconomia da salvação: prepara a Igreja para encontrar seu Senhor, recorda emanifesta Cristo à fé da assembleia, torna presente e atualiza o mistério deCristo por seu poder transformador e, finalmente, como Espírito de comunhão,une a Igreja à vida e à missão de Cristo.” (n. 1092)
Nesta série de artigosque começamos hoje e que se seguirão, vamos acompanhar a história dodesenvolvimento da Liturgia da Igreja ou a história do culto cristão. Veremoscomo o Espírito conduziu a Igreja no modelar o essencial do seu culto com asdiferentes culturas, épocas e lugares. E, como o elemento humano é constitutivoda Igreja, veremos as dificuldades e vicissitudes por que passou a organizaçãodo culto cristão. Isto, longe de nos fazer rejeitar a Liturgia como obrameramente humana e campo livre para a criatividade indevida, nos fazcompreender a Liturgia como obra do Cristustotus, do Cristo inteiro, Cabeça e Corpo, o Cristo e a Igreja; Liturgiaessa que, como diz o Concílio Vaticano II, é o cume e o ápice, donde provém epara onde tendem toda a vida e a ação da Igreja. (cf. Sacrossanctum Concilium,10).

O CULTO NA ÉPOCA DONOVO TESTAMENTO – ASPECTOS INICIAIS

Assim como nosdiversos âmbitos da vida cristã, da doutrina, da fé propriamente dita, daoração etc, a vida de culto do cristianismo deve tomar como ponto de partida ecomo base última a comunidade primitiva, que condensou sua vida litúrgica noslivros do Novo Testamento. Este basear-se na Escritura é fundamental, embora,obviamente, não podemos conceber tanto em matéria litúrgica, quanto em matériateológica e estrutural, uma fixidez fossilizante e querer fazer que a Igrejaseja hoje exatamente o que era nos seus primórdios, como fazem alguns gruposcristãos, ignorando que o Espírito conduz a Igreja e a faz desenvolver-se deacordo com as culturas, povos e épocas sem, contudo, perder a sua identidade.
Os vários elementoscultuais encontrados no Novo Testamento atestam um processo dinâmico de desenvolvimento:o conjunto dos livros do Novo Testamento que vai se formando paulatinamente noséculo I d.C, constitui-se como o primeiro livro litúrgico das primeirascomunidades cristãs, mas, ao mesmo tempo, é o culto comunitário que exercepapel fundamental na confecção dos livros sagrados. As próprias tradiçõesevangélicas e apostólicas fixam-se num ambiente de celebração litúrgica: comoatestam inúmeros documentos, inclusive neotestamentários (somente a título deexemplo, cf, Lc 24,13-35 e, sobretudo, 1Cor 11), o ambiente próprio dacatequese e da educação da fé que fez nascer os Evangelhos e outros escritos éo ambiente litúrgico. Era na liturgia que se fazia a memória dos ditos e açõesde Jesus, em que se narravam a história de sua Paixão e Ressurreição, base efundamento de toda a fé, e, posteriormente e iluminados pelo evento pascal,toda a história anterior de Jesus e que seriam cristalizadas nos Evangelhos.Também as epístolas de Paulo e outros escritos que circulavam entre ascomunidades cristãs e que, mais tarde, seriam tomados como inspirados pelaautoridade de Igreja, destinavam-se a ser lidas na assembleia litúrgica. Para quêiriam se reunir os cristãos primitivos senão para cumprir o preceito da oração,ouvir os oráculos divinos e, sobretudo, realizar o mandato de Jesus “fazei istoem memória de mim” (Lc 22,19), como era próprio da reunião eucarística? Deste modo,podemos dizer com toda a segurança: o Novo Testamento nasce no seio daassembleia litúrgica.
Mas o que nos dizem oslivros do Novo Testamento sobre o culto dos primeiros cristãos?
As referênciascúlticas no Novo Testamento e nos escritos primitivos são fragmentárias eacidentais. Isso acontece por dois motivos:
a) Os atos de Jesus revelam uma certa "falta de sistemática";
b) As diversas comunidades cristãs são um todo plura que aninham sensibilidades diferentes que passam para a liturgia (por exemplo, a contraposição entre judeu-cristãos e heleno-cristãos, quanto ao relacionamento da Torá com a Nova Aliança de Cristo).
Entretanto, éabundante, no Novo Testamento, as referências a uma teologia do culto cristão. Estateologia está em continuidade e, ao mesmo tempo, em ruptura com o culto judaicoe pagão anterior ao cristianismo. O culto, manifestação fundamental dareligião, apresenta um fundo comum às religiões; mas a Bíblia é uma ruptura comas religiões da natureza, enquanto o Novo Testamento uma ruptura com a tradiçãojudaica do Antigo Testamento. Para entendermos o que há de continuidade eruptura com o judaísmo, veremos, nos próximos artigos, as raízes judaicas doculto cristão e a sua originalidade.