Devido a problemas internos, não foi possível publicarmos ontem a reflexão da liturgia dominical. Pedimos desculpas e a compreensão de nossos leitores. Segue-se, então, e reflexão, que, dessa vez, foi preparada por Pe. Thiago Henrique, presbítero da Igreja de Palmeira dos Índios, reitor do Seminário Cura D'ars da mesma diocese, e nosso amigo e irmão.
Assim hoje rezamos na missa, assim hoje reconhecemos nossa fragilidade e nossa fortaleza... assim! Caríssimos, o mistério que hoje Deus nos revela certamente nos impressiona, mas não pela grandiosidade e sim por ser simples. De onde vem nossa vida, de onde vem nossa força, de onde vem nosso sustento? Influenciados pelo paganismo de hoje e sempre, também nós cristãos nos deixamos perder em labirintos traiçoeiros de pensamentos. É fácil achar que "a vida é minha", que minha força provem dos meus ideais e exercícios, que meu sustento é fruto do meu esforço... Quem de nós nunca pediu a Deus: "Senhor, dai-me saúde e o resto eu luto e consigo! Ou, "Se o Senhor me conceder 'tal coisa' eu não peço mais nada! Ou ainda,"Permite que eu consiga aquele trabalho e eu conseguirei tudo que me falta!"... quem já não se pegou, pelo menos uma vez rezando, pensando assim? Eis, amados em Cristo, parece que nossa consciência acerca da vida está meio desviada. Por isso veio hoje o Senhor nos falar, nos curar dessa cegueira, nos fazer perceber a verdade que nos falta sobre a vida, a nossa vida!
Na primeira leitura de hoje, do segundo Livro dos Reis, encontramos Eliseu, sucessor de Elias, tendo revivificado o filho da mulher sunamita, encontra-se com o Povo de Deus que sofre com a seca e passa fome. O profeta não pode fazer nada... Ele pôde ressuscitar um morto, mas não pode impedir que o povo morra na seca... Meus irmãos, será que aquela mulher merecia ter seu filho ao seu lado mais que a outras mulheres? Por que Deus dá ao profeta poder de ressuscitar o menino e não lhe dá poder para impedir que o povo padeça e morra de fome? Na verdade, meus filhos, Deus fala na Verdade ao agir. Vejamos, como em todas as épocas, o povo se afastou de Deus e buscou sozinho seu sustento, sua força, sua vida. O povo perdeu seu rumo ao se afastar de seu Pastor e saiu errante em busca de pastagens. Deus fala, alerta, exora, lamenta, implora a volta do povo, mas seu coração esta obstinado na busca dos ídolos, tudo que traga uma certa satisfação é idolatrado em tempos difíceis e Deus vai sempre ficando de lado. Por isso o povo sofre a seca, não porque Deus o castigou impiedosamente, mas por que a consequência de andar num deserto é passar sede! O Povo escolheu outros deuses para adorar e Deus respeitou a decisão do povo.
Mas a notícia que o homem de Deus (Eliseu) havia ressuscitado um morto trouxe ânimo e esperança uma pequena parte do povo (100 homens) que pôde olhar para o lugar certo. Como quem encontra um oásis no deserto o povo olhou para Eliseu e este olhou para Deus! "Todos os olhos, ó Senhor, em vós esperam e vós lhes dais no tempo certo o alimento; vós abris a vossa mão prodigamente e saciais todo ser vivo com fartura". Como foi penoso para aquele povo chegar a este momento de conversão, como foi chorada a jornada pelo deserto, como foi escaldante o sol, fria a noite, sem alegria o dia... como foi vazia e sem sentido a decisão de buscar seu sustento, sua força, sua vida sozinho, sem o Autor da vida! "Ó povo insensato, que buscas a força em tua exaustão e cansaço, que buscas teu sustento plantando em terra seca e que buscas tua vida numa estrada de morte, olha para o alto e pensa: se o sol não brilhar, se a chuva não vier e se o vento não soprar de onde virá o teu sustento e a tua força? E se de mim te afastares, se minhas palavras desprezares, se meu amor rejeitares, de onde virá a tua vida? Eu sou o Senhor que faço brilhar o sol, cair a chuva, soprar o vento. Eu sou o Senhor que ponho vida em teu barro, que te revelo meus segredos, que te renovo e te salvo por amor! Eu Sou!" . É então que, diante da dor do profeta impotente e desanimado, que Deus envia um homem de Baal-Salisa levando consigo 20 pães para Eliseu e este, ao ver o presente disse: "Geazi, dá ao povo!"; e este lhe responde: "O que é 20 pães para 100 homens?". De fato, Geazi, servo de Eliseu, tinha razão. Mas quem disse que a razão do homem pode impedir o Amor de Deus? "Dá ao povo!" - insistiu Eliseu. E todos comeram, ficaram satisfeitos e ainda sobrou!
Caríssimos, tantas vezes fazemos o mesmo! Sabemos quem é Deus, o que já fez para o seu povo amado, o que já fez para conosco e ainda somos arrastados a buscar outras seguranças, outra força, outro sustento, outra vida... é por isso que vivemos mendigando no mundo o que Deus quer nos dá com fartura, é por isso que vivemos com medo do amanhã, preocupados com as secas da vida! É por isso que nunca sobra nada! Como é mais fácil confiar nos amigos influentes, nas oportunidades, nos trabalhos, na autoridades, nas reservas... como é mais fácil endeusar o prazer, o poder a riqueza e viver por eles nossos dias. Por isso que hoje Jesus nos convida a um novo lugar: do deserto ao campo coberto de relva! Ovelhas que éramos sem pastor no domingo passado, agora nos assentamos com Ele no pasto! "Onde vamos comprar comida para eles?" Ou seja, onde buscaremos a força, o sustento, a vida para o meu rebanho? Assim como o profeta não sabia o que fazer, os discípulos também não sabem, mas um menino - assim como o homem de Baal-Salisa - vem enviado por Deus com uma porção de alimento. E os discípulos questionam da mesma maneira que Geazi: "Mas o que é isso para tanta gente? Jesus, então, toma o pão e dá graças! Vejam, meus amados, onde Jesus busca o sustento, a força, a vida para seu povo? "e deu graças", agradeceu ao Pai. É no Pai, caríssimos, no Pai que está nossa força, nosso sustento, nossa vida! Não foi à toa que Jesus rezou na cruz: "Em Tuas Mãos, ó Pai, eu entrego o meu espírito".
Quanto tempo perdemos caminhando pelo deserto de uma vida voltada para interesses particulares e mesquinhos, quanto cansaço enfrentamos tendo de buscar sozinhos nosso sustento, quanto desfalecimento frente aos problemas da "seca" de nossa caminhada, e quanta morte sem sentido ao buscar a felicidade onde ela não está! Por isso Jesus, no final do Evangelho de hoje, vai embora a um lugar deserto e não aceita ser proclamado rei. Vejam, quem rejeitaria uma promoção assim? Quem não tremeria diante da possibilidade de ser poderoso e rico instantaneamente? Quem não faria de tudo por um futuro garantido para si e os seus? Mas se Jesus aceitasse ser rei ali, naquela hora, estaria colocando sua confiança nas coisas que passam, estaria buscando a vida sem o Pai, estaria escolhendo caminhar no deserto. Não! A força, o sustento, a vida não provém do mundo, mas de Deus! O mundo passa, meus caros, tudo vai passar! Para quê procurar longe o que está perto? Para quê lutar pelo que nos é oferecido pacificamente? Para quê viver em função do supérfluo se o Essencial nos ama e nos quer? Pensemos nisso: em quem colocamos nossa esperança, em quem depositamos nossa confiança, em Deus ou no mundo? Na Graça ou no meu esforço? No amor ou no interesse? E continuemos nossa caminhada com Jesus, nosso Pastor, pedindo a Pai que não desista de nós, que nos dê sua Força, seu Sustento e sua Vida, na unidade do Espírito Santo! Amém.