domingo, 28 de junho de 2009

A Oração do Senhor II – Nossa oração é pública e universal

Do Tratado sobre a oração do Senhor, de São Cipriano, bispo e mártir
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Antes do mais, o Doutor da paz e Mestre da unidade não quis que cada um orasse sozinho e em particular, como rezando para si só. De fato, não dizemos: Meu Pai que estais nos céus; nem: Meu pão dai-me hoje. Do mesmo modo não se pede só para si o perdão da dívida de cada um ou que não caia em tentação e seja livre do mal, rogando cada um para si. Nossa oração é pública e universal e quando oramos não o fazemos para um só, mas para o povo todo, já que todo o povo forma uma só coisa.
O Deus da paz e Mestre da concórdia, que ensinou a unidade, quis que assim orássemos, um por todos, como ele em si mesmo carregou a todos.
Os três jovens, lançados na fornalha ardente, observaram esta lei da oração, harmoniosos na prece e concordes pela união dos espíritos. A firmeza da Sagrada Escritura o declara e, narrando de que maneira eles oravam, apresenta-os como exemplo a ser imitado em nossas preces, a fim de nos tornarmos semelhantes a eles. Então, diz ela, os três jovens, como por uma só boca, cantavam um hino e bendiziam a Deus. Falavam como se tivessem uma só boca e Cristo ainda não lhes havia ensinado a orar.
Por isto a palavra foi favorável e eficaz para os orantes. De fato, a oração pacífica, simples e espiritual, mereceu a graça do Senhor. Do mesmo modo vemos orar os apóstolos e os discípulos, depois da ascensão do Senhor. Eram perseverantes, todos unânimes na oração com as mulheres a Maria, a mãe de Jesus, e seus irmãos (At 1,14). Perseveravam unânimes na oração, manifestando tanto pela persistência como pela concórdia de sua oração, que Deus que os faz habitar unânimes na casa, só admite na eterna e divina casa daqueles cuja oração é unânime. De alcance prodigioso, irmãos diletíssimos, são os mistérios da oração dominical! Mistérios numerosos, profundos, enfeixados em poucas palavras, porém, ricas em força espiritual, encerrando tudo o que nos importa alcançar!
Rezai assim, diz ele: Pai nosso, que estais nos céus.
O homem novo, renascido e, por graça, restituído a seu Deus, diz, em primeiro lugar, Pai!, porque já começou a ser filho. Veio ao que era seu e os seus não o receberam. A todos aqueles que o receberam, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus, aqueles que crêem em seu nome. Quem, portanto, crê em seu nome e se fez filho de Deus, deve começar por aqui, isto é, por dar graças e por confessar-se filho de Deus ao declarar ser Deus o seu Pai nos céus. Indica também, por suas primeiras palavras da vida nova, que renunciou ao pai terreno e carnal, que reconhece o Pai que principiou a ter no céu. Pois está escrito: Quem diz a seu pai e a sua mãe, não os conheço, e a seus filhos, não sei quem sois, este guardou os teus preceitos e conservou o teu testamento (Dt 33,9). Também o Senhor ensinou que não devemos chamar a ninguém pai, na terra, porque só existe para nós um Pai que está nos céus. E respondeu ao discípulo que fizera menção do pai falecido: Deixa aos mortos que sepultem os seus mortos (Mt 8,22). Ele havia dito que o seu pai estava morto, contudo o Pai dos crentes vive.

sábado, 27 de junho de 2009

Solenidade de São Pedro e São Paulo


Hoje, nós celebramos o dia solene destes dois homens de fé, fiéis seguidores de Cristo e colunas da Santa Igreja de Deus, a única fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo. Foi por essa Igreja que esses dois grandes apóstolos viveram e entregaram as suas vidas.
Pedro, humilde pescador, homem de pouca instrução, aquele que tantas vezes foi inconstante na fé, aquele que negara o Senhor por três vezes (cf. Mt 26,34); aquele que é o primeiro dos apóstolos, aquele que foi o companheiro do Senhor naquelas ocasiões especiais; aquele que escutava o Mestre com atenção e sempre era o primeiro a falar; aquele que confessou: “Tu és o Cristo, o filho do Deus vivo” (Mt 16,16). Por vontade de Jesus Cristo, esse mesmo Pedro se tornou o chefe da Igreja, a nossa Mãe Católica. Não que ele fosse mais virtuoso que os outros, mas Jesus assim o fez para mostrar a Unidade da Igreja. Unidade que não se desfez com a morte de Pedro, mas continuou e continua por meio dos seus sucessores, os Papas. Como Pedro, nós cristãos devemos, apesar de nossas dúvidas e fraquezas, reconhecer Cristo como o Filho de Deus, como o Senhor da nossa vida, como o nosso único Salvador.
Paulo, o imbatível pregador do Evangelho, tornou Cristo conhecido aos pagãos daquele tempo. Por meio de sua voz, o Evangelho se fez ouvir por muitos homens. Paulo viveu tão apaixonadamente a Palavra de Deus que a sua vida se confundiu com a vida do seu Mestre: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). De perseguidor, Paulo se tornou perseguido. Sabendo que cumpriu a sua missão, ele confessa: “Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé” (1Tm 4,7). Pela fé, assim como o fez Paulo, os cristãos devemos fazer com que Cristo seja o sujeito de todas as nossas ações.
“Num só dia – como nos diz Santo Agostinho – celebramos o martírio dos dois apóstolos. Na realidade, os dois eram como um só. Embora tenham sido martirizados em dias diferentes, deram o mesmo testemunho. Pedro foi à frente; Paulo o seguiu” (Liturgia das Horas Volume III, Segunda Leitura da Solenidade de São Pedro e São Paulo).
Finalmente, rezemos pelo Santo Padre, o Papa Bento XVI. Hoje, o seu rosto é o rosto de Pedro!

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Sobre os abusos na Irlanda

Caros leitores, aqui vai um texto revelador do filósofo Olavo de Carvalho, publicado no Diário do Comércio de 5 de julho de 2009 e no seu site www.olavodecarvalho.org, sobre as denúncias de abusos cometidos contra crianças na Irlanda, mês passado. É de nos fazer meditar sobre o poder deturpador da mídia e a reação covarde da Igreja. É preciso não acreditar em tudo o que a mídia diz, sobretudo contra a Igreja!

Jornalistas contra a aritmética

Não há mentira completa. Até o mais ingênuo e instintivo dos mentirosos, ao compor suas invencionices, usa retalhos da realidade, mudando apenas as proporções e relações. Quanto mais não fará uso desse procedimento o fingidor tarimbado, técnico, profissional, como aqueles que superlotam as redações de jornais, canais de TV e agências de notícias. Mais ainda – é claro – os militantes e ongueiros a serviço de causas soi disant idealistas e humanitárias que legitimam a mentira como instrumento normal e meritório de luta política.
Na maior parte dos casos, os elementos de comparação que permitiriam restituir aos fatos sua verdadeira medida são totalmente suprimidos, tornando impossível o exercício do juízo crítico e limitando a reação do leitor, na melhor das hipóteses, a uma dúvida genérica e abstrata, que, como todas as dúvidas, não destrói a mentira de todo mas deixa uma porta aberta para que ela passe como verdade.
Um exemplo característico são as notícias sobre a tortura nas prisões de Guantánamo e Abu-Ghraib. Como em geral nada se noticia na “grande mídia” sobre as crueldades físicas monstruosas praticadas diariamente contra meros prisioneiros de consciência nos cárceres da China, da Coréia do Norte, de Cuba e dos países islâmicos, a impressão que resta na mente do público é que o afogamento simulado de terroristas é um caso máximo de crime hediondo. Mesmo quando não são totalmente ignorados, os fatos principais recuam para um fundo mais ou menos inconsciente, tornando-se nebulosos e irrelevantes em comparação com as picuinhas às quais se deseja dar ares de tragédia mundial. Só o que resta a fazer, nesses casos, é usar a internet e toda outra forma de mídia alternativa para realçar aquilo que a classe jornalística, empenhada em transformar o mundo em vez de retratá-lo, preferiu amortecer.
Às vezes, porém, o profissional da mentira se trai, deixando à mostra os dados comparativos, apenas oferecidos sem ordem nem conexão, de tal modo que o público passe sobre eles sem perceber que dizem o contrário do que parecem dizer. Isso acontece sobretudo em notícias que envolvem números. Com freqüência, aí o texto já traz em si seu próprio desmentido, bastando que o leitor se lembre de fazer as contas.
Colho no Globo Online o exemplo mais lindo da semana (v. http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2009/05/20/relatorio-confirma-abuso-de-milhares-de-criancas-por-parte-da-igreja-catolica-da-irlanda-755949622.asp , http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL1161142-5602,00-INQUERITO+DENUNCIA+ABUSO+SEXUAL+ENDEMICO+DE+MENINOS+NA+IRLANDA.html e http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL1161468-5602,00.html) .
Não digo que o Globo seja o único autor da façanha. Teve a colaboração de agências internacionais, de organizações militantes e de toda a indústria mundial dos bons sentimentos. Naquelas três notas, publicadas com o destaque esperado em tais circunstâncias, somos informados de que uma comissão de alto nível, presidida por um juiz da Suprema Corte da Irlanda, investigando exaustivamente os fatos, concluiu ser a Igreja Católica daquele país a culpada de nada menos de doze mil – sim, doze mil – casos de abusos cometidos contra crianças em instituições religiosas. A denúncia saiu num relatório de 2600 páginas. Legitimando com pressa obscena a veracidade das acusações em vez de assumir a defesa da acusada, que oficialmente ele representa, o cardeal-arcebispo da Irlanda, Sean Brady, já saiu pedindo desculpas e jurando que o relatório "documenta um catálogo vergonhoso de crueldade, abandono, abusos físicos, sexuais e emocionais". Depois dessa admissão de culpa, parece nada mais haver a discutir.
Nada, exceto os números. O Globo fornece os seguintes:
1) A comissão disse ter obtido os dados entrevistando 1.090 homens e mulheres, já em idade avançada, que na infância teriam sofrido aqueles horrores.
2) Os casos ocorreram em aproximadamente 250 instituições católicas, do começo dos anos 30 até o final da década de 90.
Se o leitor tiver a prudência de fazer os cálculos, concluirá imediatamente, da primeira informação, que cada vítima denunciou, além do seu próprio caso, outros onze, cujas vítimas não foram interrogadas, nem citadas nominalmente, e dos quais ninguém mais relatou coisíssima nenhuma. Do total de doze mil crimes, temos portanto onze mil crimes sem vítimas, conhecidos só por alusões de terceiros. Mesmo supondo-se que as 1.090 testemunhas dissessem a verdade quanto à sua própria experiência, teríamos no máximo um total de exatamente 1.090 crimes comprovados, ampliados para doze mil por extrapolação imaginativa, para mero efeito publicitário. O cardeal Sean Brady poderia ter ao menos alegado isso em defesa da sua Igreja, mas, alma cristianíssima, decerto não quis incorrer em semelhante extremismo de direita.
Da segunda informação, decorre, pela aritmética elementar, que 1.090 casos ocorridos em 250 instituições correspondem a 4,36 casos por instituição. Distribuídos ao longo de sete décadas, são 0,06 casos por ano para cada instituição, isto é, um caso a cada dezesseis anos aproximadamente. Mesmo que todos esses casos fossem de pura pedofilia, nada aí se parece nem de longe com o “abuso sexual endêmico” denunciado pelo Globo. Porém a maior parte dos episódios relatados não tem nada a ver com abusos sexuais, limitando-se a castigos corporais que, mesmo na hipótese de severidade extrema, não constituem motivo de grave escândalo quando se sabe – e o próprio Globo o reconhece – que grande parte das crianças recolhidas àquelas instituições era constituída de delinqüentes. Se você comprime bandidos menores de idade num internato e a cada dezesseis anos um deles aparece surrado ou estuprado, a coisa é evidentemente deplorável, mas não há nela nada que se compare ao que aconteceu no Sudão, onde, no curso de um só ano, vinte crianças, não criminosas, mas inocentes, refugiadas de guerra, afirmaram ter sofrido abuso sexual nas mãos de funcionários da santíssima ONU, contra a qual o Globo jamais disse uma só palavra.
Só o ódio cego à Igreja Católica explica que o sentido geral dado a uma notícia seja o contrário daquilo que afirmam os próprios dados numéricos nela publicados.
Por isso, saiba o prezado leitor que só leio a “grande mídia” por obrigação profissional de analisá-la, como se analisam fezes num laboratório, e que jamais o faria se estivesse em busca de informação.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Mais fotos da Sagração



Conforme prometido, aqui vão mais algumas belas fotos da Sagração Episcopal de Dom Henrique Soares da Costa feitas por Chico Brandão.

Sirvamos a Cristo na Pessoa dos Pobres


Dos Sermões de São Gregório de Nazianzo, bispo do séc. IV

Diz a Escritura: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mt 5,7). A misericórdia não é certamente a última das bem-aventuranças. Lemos também: “Feliz de quem pensa no pobre e no fraco” (Sl 40,2). E ainda: “Feliz o homem caridoso e prestativo” (Sl 111,5). E noutro lugar: “O justo é generoso e dá esmola” (Sl 36,26). Tornemo-nos dignos destas bênçãos, de sermos chamados misericordiosos e cheios de bondade.
Nem sequer a noite interrompa a tua prática de misericórdia. Não digas: “Vai e depois volta, amanhã te darei o que pedes”. Não se deve interpor entre a tua resolução e o bem que vais fazer. Só a prática do bem não admite adiamento.
“Reparte o teu pão com o faminto, acolhe em tua casa os pobres e peregrinos” (Is 58,7), com alegria e presteza. “Quem se dedica a obras de misericórdia”, diz o Apóstolo, “faça-o com alegria” (Rm 12,8). Essa presteza e solicitude duplicarão a recompensa da tua dádiva. Mas o que é dado com tristeza e de má vontade não se torna agradável nem é digno.
Devemos alegrar-nos, e não entristecer-nos, quando prestamos algum benefício. Diz a Escritura: “Se quebrares as cadeias injustas e desligares as amarras do jugo” (Is 58,6), isto é, da avareza e das descriminações, das suspeitas e das murmurações, que acontecerá? A tua recompensa será grande e admirável! “Então, brilhará a tua como a aurora e tua saúde há de recuperar-se mais depressa” (Is 58,8). E quem há que não deseja a luz e a saúde?
Por isso, se me julgais digno de alguma atenção, vós, servidores de Cristo, seus irmãos e co-herdeiros, em todas as ocasiões visitemos a Cristo, alimentemos Cristo, tratemos as feridas de Cristo, vistamos a Cristo, acolhamos a Cristo, honremos a Cristo; não apenas oferecendo-lhe uma refeição, como fizeram alguns, não apenas ungindo-o com perfumes como Maria, não apenas dando-lhe o sepulcro como José de Arimatéia, não apenas dando o necessário para o sepultamento como Nicodemos que dava a Cristo só uma parte do seu amor, nem, finalmente, oferecendo ouro, incenso e mirra, como fizeram os magos, antes de todos esses. O Senhor do universo quer a misericórdia e não o sacrifício, e a compaixão tem maior valor que milhares de cordeiros gordos. Ofereçamos a misericórdia e a compaixão na pessoa dos pobres que hoje na terra são humilhados, de modo que, ao deixarmos este mundo, eles nos recebam nas moradas eternas, juntamente com o próprio Cristo nosso Senhor, a quem seja dada a glória pelos séculos dos séculos. Amém.

sábado, 20 de junho de 2009

Sagração Episcopal de Dom Henrique Soares da Costa



Caros, leitores, aqui vão algumas (poucas) fotos da Sagração de Dom Henrique Soares da Costa, bispo titular de Acúfida e auxiliar de Aracajú, ocorrida ontem, na Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, no Ginásio do SESI, em Maceió. Logo mais, publicaremos outras.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Sou manso e humilde de coração - Sagrado Coração de Jesus

Tomai sobre vós o meu jugo e de mim aprendei,
que sou de manso e humilde coração. (Mt 11,29ab)

Estas palavras de Jesus no Evangelho de Mateus dão o tom da solenidade que hoje celebramos. Elas foram ditas logo após o Senhor ter dito que o a sabedoria das coisas de Deus, o conhecimento de Deus, foi dado não aos grandes, mas aos pequenos: Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultastes estas coisas aos sábios e doutores e as revelaste aos pequeninos. (Mt 11,25) Assim, o Senhor se mostra como o mestre que ensina a verdadeira sabedoria divina àqueles que se fazem pequenos, que tem a atitude de pobreza – Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos Céus (Mt 5,3), havia dito o Senhor –, porque ele próprio é pobre, ele próprio é manso e humilde de coração. Ao dizer aprendei de mim o Senhor Jesus se coloca como o exemplo, o modelo perfeito dos filhos de Deus. Ele que é o Filho, nos ensina a sermos filhos, porque somente assim, através d’Ele, podemos conhecer o Pai (cf. Mt 11,27).
Mas que conhecimento de Deus é esse que Jesus veio trazer para a humanidade? O evangelista São João nos dá a resposta: Deus é amor (1Jo 4,16). E este amor se revela, se manifesta, na pessoa de Seu Filho; de fato, diz ainda João: Nisto se manifestou o amor de Deus por nós: Deus enviou o Seu Filho único ao mundo para que vivamos por ele (1Jo 4,9) e, em outra parte: Deus amou tanto o mundo, que entregou o seu Filho único, para que todo o que n’Ele crer tenha nele a vida eterna (Jo 3,16).
Mas bem antes da Nova Aliança em Jesus, o Senhor Deus já havia revelado seu amor, suas entranhas misericordiosas ao seu povo (cf. Lc 1,78), por meio da boca do profeta Oséias, conforme ouvimos na primeira leitura da missa de hoje: Quando Israel era criança, eu já o amava, e desde o Egito chamei meu filho. (...) Eu os atraía com laços de humanidade, com laços de amor; era para eles como quem leva uma criança ao colo, e rebaixava-me a dar-lhes de comer. (...) Meu coração comove-se no íntimo e arde de compaixão (Os 11,1.4.8c). E, por meio do salmista: O seu amor é para sempre! (Sl 117,1-4; 135).
Mas Deus não ama só com palavras bonitas; Ele amava de verdade, até o fim, até a cruz. Eis a cruz: sinal eminente do amor de Deus pelos homens. Lá Ele doa toda a Sua vida divina, e, mesmo depois de morto, ainda nos doa, de seu peito aberto pela lança, a água e o sangue, prefiguração dos sacramentos do batismo e da eucaristia, que nos dão a vida nova do Espírito Santo, para, dessa forma, sermos fundados, enraizados no amor de Cristo que em nós é infundido pelo Espírito Santo, o qual, por sua vez, nos torna capazes de cumprir o mandamento do amor (cf. Jo 13,34) para nos tornarmos semelhantes a Ele. Assim, nós poderemos dizer como o evangelista: Nisto reconhecemos que permanecemos nele e ele em nós: ele nos deu seu Espírito (1Jo 4,13).

A Igreja adianta-se qual o despontar da aurora

Dos livros “Moralia” sobre Jó, de São Gregório Magno, papa (séc. VI)

A madrugada ou aurora é o tempo de passagem das trevas para a luz. Portanto, é muito justo dar estes nomes à Igreja de todos os eleitos. Pois, conduzida da noite da infidelidade á luz da fé, qual aurora depois das trevas, ela se abre para o dia com o esplendor da caridade celeste. O Cântico dos Cânticos bem o diz: quem é esta que se adianta qual aurora nascente? Indo em busca dos prêmios da vida, a Santa Igreja é chamada aurora porque abandonou as trevas dos pecados e começou a refulgir com a luz da justiça.
Sobre esta qualidade de ser madrugada ou aurora, temos algo a pensar com sagacidade. A aurora e a madrugada anunciam ter passada a noite, no entanto, ainda não mostram a claridade do dia: repelem aquela, acolhe este, e, enquanto isso, as trevas e a luz se misturam. Que somos nós nesta vida, nós que seguimos a verdade, a não ser aurora ou madrugada? Já havendo realizado algo que pertence à luz, no entanto, não nos libertamos inteiramente das trevas. Pelo Profeta foi dito a Deus: Diante de ti, nenhum vivente é justo. Em outro lugar: Em muitas coisas falhamos todos.
Por isto, quando Paulo diz: Passou a noite; não acrescenta logo: Chegou o dia, mas: O dia se aproximou. Ao dizer que, passada a noite, o dia não veio mas se aproximou, demonstra, sem qualquer dúvida, estar ainda na aurora, depois das trevas e antes do sol.
A Santa Igreja dos eleitos será então plenamente dia quando já não houver nela sombra de pecado. Será então plenamente dia quando for clara pelo perfeito ardor da luz em seu íntimo. Bem se mostra estar a aurora como que de passagem, nas palavras: E mostrastes à aurora seu lugar. Aquele a quem se mostra seu lugar é chamado daqui para ali, é claro. Qual é então o lugar da aurora, a não ser a perfeita claridade da visão eterna? Quando, conduzida, lá chegar, nada mais lhe restará das passadas trevas da noite. A aurora apressa-se em alcançar seu lugar, no testemunho do salmista: Minha alma tem sede do Deus vivo; quando irei e aparecerei diante da face de Deus? A esta lugar já conhecido a aurora apressava-se a chegar, quando Paulo dizia ter o desejo de morrer e estar com Cristo. E de novo: Para mim, viver é Cristo e morrer, um lucro.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

É Preciso Apostar em Deus

Do Livro O Meu Cristo de cada Dia,
Padre Virgílio, ssp.

Põe o teu dedo aqui; e experimenta (Jo 20,27).

De gente como Tomé a terra está cheia.
Gente desconfiada, gente incapaz de levantar os olhos para o alto, gente temerosa de “apostar” em Deus.
Aposta-se na loteria, porque lá existe ao menos uma possibilidade entre um milhão de acertar. Aposta-se no espiritismo, porque lá hábeis embusteiros sabem tão bem manipular as coisas, e a gente gosta de deixar-se enganar... Aposta-se em curandeiros e em adivinhos, porque sabem curar doenças que não temos ou adivinhar coisas que já sabemos.
Mas não se aposta no Deus que criou o céu e a terra.
Temos uma evidente desconfiança com relação àquilo que Cristo falou e prometeu. Somos filhos contestadores de Tomé, talvez porque somos o parto de um século materialista, cuja deusa infalível é a matemática. E como de matemática pouco entendemos, eis que só nos resta confiar em nossos dedos...
A nossa fé está se desfazendo que nem cera perante a luz ilusória projetada pelo progresso material. O progresso não deixa o homem pensar, não o deixa sair dos confins da matéria, amarra-o às coisas visíveis e não lhe dá chance de amar aquilo pelo qual foi criado.
Você não percebeu? Estamos sendo condenados a crer só naquilo que se vê. Não há condenação mais cruel.
Alguém se refugia no amanhã. “Não percamos a esperança, amanhã será melhor”. É o que muitos dizem.
Não, não percamos a esperança; mas o amanhã é preparado hoje. E se hoje não mais se acredita, amanhã poderia ser pior ainda.
Se nós, hoje, em nada acreditamos, em que poderão acreditar os nossos filhos amanhã? Olhando para nossas caras de pais, de irmãos, de amigos e professores, qual fá e qual esperança poderão eles captar? Qual mensagem de amor poderão colher?
Sim, porque sem fé nem esperança haverá. E sem esperança não se pode mesmo viver.
A fé é um dom oferecido a todos. Mas há quem o recuse, porque diz que o domínio do espírito não tem lá muita importância para o homem de hoje. Porém, se nós hoje recusamos este dom, como pretendemos que nossos filhos o aceitem amanhã?
Não percamos a esperança. Mas se a gente não tomar providência, o futuro será mais sombrio que presente. “E se o filho do homem voltar, não encontrará mais fé sobre a terra”.
O homem não pode se conformar em viver numa paisagem desértica. Precisa levantar a cabeça: a estrela o conduzirá ao reino da luz e da vida.
Mas para que isso aconteça, o único jeito é declarar-se derrotado perante Cristo. Abandonar-se nele, deslizar nele, deixar-se guiar por ele. Porque ele é o único que tem sempre razão e sempre acaba vencendo.
Jogar-se aos pés de Jesus e gritar: “Meu Senhor e meu Deus” significa tomar consciência daquilo que estávamos perdendo por vivermos longe dele. Significa deixar-se vencer pela força do amor.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Adeus às Ilusões

Apagar outras lembranças,
Perder outras ilusões,
E ter por sonho melhor
O sonho das esperanças...
Machado de Assis, Crisálidas, Versos à Corina I.

Há um momento na nossa vida em que precisamos parar, precisamos tomar consciência de como estamos vivendo no mundo, precisamos redefinir os nossos relacionamentos com as pessoas, precisamos recomeçar a nossa vida. Há um momento em que precisamos voltar o nosso coração, a nossa mente e toda a nossa vida para Deus. Há um momento em que precisamos dar aquele salto no escuro e confiarmos... somente confiarmos. Há um momento na vida em que precisamos abandonar aquelas velhas ilusões, tudo aquilo que nos consome inutilmente, fazendo-nos sofrer... e sofrer em vão.
Passamos tanto tempo sonhando... planejando... querendo o impossível e o irrealizável! Passamos tanto tempo vivendo uma vida completamente desprovida de significado. Insistimos em ser fiéis aos nossos ideais, mas muitas vezes isso não vale a pena, porque não contribui para a nossa felicidade e realização pessoal.
Passamos tanto tempo correndo atrás de pessoas que não nos merecem, pessoas que fazem pouco caso do nosso amor... da nossa atenção... da nossa dedicação. Passamos tanto tempo mendigando atenções de pessoas que nunca serão nossas... pessoas que nada tem a ver com a nossa vida, com o nosso mundo, com a nossa vocação. Enquanto isso... há tanta gente esperando uma oportunidade para nos demonstrar todo o seu amor, para nos oferecer o seu sorriso e para nos abraçar... e nos fazer experimentar a gratuidade do humano amor de Deus!
Passamos tanto tempo insistindo em viver miseravelmente, sem sentido algum... insistimos em viver longe de Deus, mas não conseguimos. Uma vida assim não foi feita para nós, seres humanos... mas mesmo assim existe tanta gente querendo viver como animal, árvore, pedra ou outra coisa qualquer... que triste, meu Deus!!!
Então nos perguntamos: será que vale a pena viver dessa maneira??? Não fomos nós criados para viver uma vida infinitamente mais bonita e feliz??? Não somos nós um projeto infinito, que só encontra sua plena realização em Deus??? Não fomos nós criados para amar, apesar de tudo (e para amar como ser humano, e não como animal)???
Há um momento na nossa vida em que precisamos mudar. Mudar de pensamento... mudar de atitude... mudar de vida... e acolher a vida que Deus tem para nos oferecer. Para isso é necessário dizer adeus... adeus às ilusões!!! É preciso dizer adeus àquelas ilusões que tanto nos machucam e nos escravizam. É preciso abandonar aquelas inúteis paixões e nos entregar inteiramente ao amor... ao amor que é belo, bom, verdadeiro. Amor que se torna realidade quando assumimos a nossa história pessoal, quando somos fiéis à vocação que Deus nos deu.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

A oração do Senhor I – Brote a oração do coração humilde

Caros leitores, para vosso deleite e aproveitamento espiritual, apresentamos, nestes dias, o belíssimo comentário de São Cipriano sobre o Pai-nosso em sua obra Tratado sobre a oração do Senhor. Seguimos em parte o texto apresentado na Liturgia das Horas (Vol. 3, XI Semana do Tempo Comum, pp. 314-343) e em parte o texto presente na obra de Cirilo Folch Gomes, Antologia dos Santos Padres (São Paulo: Paulinas, 1979, pp. 187-194).

Haja ordem na palavra e na súplica dos que oram, tranquilos e respeitosos. Pensemos estar na presença de Deus. Sejam agradáveis aos olhos divinos a posição do corpo e a moderação da voz. Porque se é próprio do irreverente soltar a voz em altos brados, convém ao respeitoso orar com modéstia. Por fim, ensinando-nos, ordenou o Senhor orarmos em segredo, em lugares apartados e escondidos, até nos quartos, no que auxilia a fé por sabermos estar Deus presente em toda a parte, ouvir e ver a todos e na plenitude de sua majestade penetrar até no mais oculto. Assim está escrito: Eu sou Deus próximo e não Deus longínquo. Se se esconder o homem em antros, acaso não o verei eu? Não encho o céu e a terra (Jr 23,23-24)? E de novo: Em todo lugar os olhos de Deus vêem os bons e os maus (Pr 15,3).
Quando nos reunimos com os irmãos e celebramos com o sacerdote de Deus o sacrifício divino, temos de estar atentos à reverência e à disciplina devidas. Não devemos espalhar a esmo nossas preces com palavras desordenadas, nem lançar a Deus com tumultuoso palavrório os pedidos, que deveriam ser apresentados com submissão, porque Deus não escuta as palavras e sim o coração. Com efeito, não se faz lembrado por clamores Aquele que vê os pensamentos, como o Senhor mesmo provou ao dizer: Que estais pensando de mal em vossos corações (Mt 9,4). E em outro lugar: E saibam todas as Igrejas que eu sou quem perscruta os rins e o coração (Ap 2,23).
Ana, no Primeiro Livro dos Reis, como figura da Igreja, tem esta atitude, ela que suplicava a Deus não aos gritos, mas silenciosa e modesta, no mais secreto do coração. Falava por prece oculta e fé manifesta, falava não com a voz mas com o coração, pois sabia ser assim ouvida pelo Senhor. Obteve plenamente o que pediu porque o suplicou com fé. A Escritura divina declara: Falava em seu coração, seus lábios moviam-se, mas não se ouvia som algum e o Senhor a atendeu (1Sm 1,13). Lemos também nos salmos: Rezai em vossos corações e compungi-vos em vossos aposentos (Sl 4,5). Através de Jeremias ainda o mesmo Espírito Santo inspira e ensina: No coração deves ser adorado, Senhor.
O orante, irmãos caríssimos, não ignora por certo como o publicano orou no templo, com o fariseu. Não com olhos orgulhosos levantados para o céu nem de mãos erguidas com jactância, mas batendo no peito, confessando os pecados ocultos em seu íntimo, implorava o auxílio da misericórdia divina. Por que o fariseu se comprazia em si mesmo, mais mereceu ser santificado aquele que rogava sem firmar a esperança da salvação na presunção de sua inocência, já que ninguém é inocente; rezava, porém, reconhecendo seus pecados; e atendeu ao orante aquele que perdoa aos humildes.

Virgem Maria: luz que vem de Cristo

Existiria, pois, olhos incapazes de enxergar a beleza de uma lua cheia? Seria, a luz que ela resplandece, insuficiente a ponto de termos, ainda, o olhar fechado ao seu brilho? A lua, quando cheia, resplandece uma admirável luz que ilumina toda a treva da noite e a torna quase dia. Assim, a noite que era escura se torna clara. Eis, o bem de uma lua cheia: iluminar a noite para que não andemos por caminhos tortuosos e, caso andemos, não caiamos! No entanto, ao brilho de tal luz, temos plena certeza de que essa mesma luz, não é intrínseca à lua, mas que provém de algo maior que ela, do sol. Dessa forma, a lua é um astro que não possui luz própria. E isso já nos foi provado. Afinal, resplandecer não significaria refletir o brilho de algo? Mas, mesmo não tendo luz própria, ela continua a iluminar e em nenhum momento deixa de ser astro. É do sol que ela recebe toda luz e simultaneamente a reflete; e a luz que ela nos dá é, verdadeiramente, a mesma que ela recebeu. E na noite escura o brilho da luz do sol não chega até nós sem antes iluminá-la primeiramente para que assim ela também, com a luz que ela mesma recebeu do sol nos ilumine a nós. Bendita seja a lua, que mesmo na noite, não nos deixa no escuro, mas nos traz a luz do sol! Isso porque do sol, ela se veste.
E, para nós cristãos, a imagem da lua não nos lembraria a Virgem Maria, Mãe de Deus? Verdadeiramente, por analogia, podemos afirmar que a lua é imagem de Nossa Senhora. Mas, em que sentido? Da mesma forma que a lua recebe toda a luz do sol e a resplandece, a Virgem Maria recebe e resplandece a luz do verdadeiro Sol cuja luz nunca se apaga. E esse Sol é próprio Cristo. A luz de Maria é a luz de Cristo que ela mesma resplandece porque a recebeu Dele pele Espírito Santo de Deus. E nos é dito: “apareceu um grande sinal no céu: uma mulher revestida de sol” (Ap 12,1). No mais, não seria Mãe de Deus, nos trazendo a luz de Cristo, aquela que ilumina os caminhos de nossas vidas, a fim de não nos dispersemos. Verdadeiramente, por analogia, lua é a imagem de Virgem Maria, Mãe de Deus.
E se Maria recebeu a luz de Cristo e a resplandece, acorramos, pois, a ela a fim de que sejamos também iluminados e tragamos em nós, também, a luz que ela traz, para que assim, a exemplo dela, possamos resplandecer essa maravilhosa luz de um sol sem ocaso: A luz que vem e que é o próprio Cristo. Dessa forma, se cumprirá o que outrora proferira o profeta: “o povo que andava nas trevas viu uma grande luz” (Is 9,1). E nós que temos fé somo este povo e, porque temos fé, vemos essa grande luz.

sábado, 13 de junho de 2009

"O Reino de Deus é como a semente espalhada na terra" - XI Domingo do Tempo Comum


Nesse Domingo da XI Semana do Tempo Comum, ano B,a liturgia da igreja nos faz refletir sobre Cristo como o agricultor que lança as sementes do seu reino na vida das pessoas, a partir de suas parábolas, método usado por Jesus para explicar o seu Reino para aquelas pessoas mais simples.
Na primeira leitura, extraída do profeta Ezequiel, Deus nos revela a sua fidelidade para com o povo com o qual ele fez aliança dizendo: “eu mesmo tirarei um galho da copa do cedro do mais alto de seus ramos, arrancarei um broto e o plantarei sobre um monte alto e elevado” (Ez 17,22). A promessa que Deus fez a esse povo faz a nós mesmos hoje, porque é um Deus que é amor, fidelidade, misericórdia, justiça.Embora muitas vezes sejamos infiéis às nossas promessas ao nosso Deus. Essa nossa infidelidade acontece unicamente por causa de nossa inclinação ao pecado. No entanto, mesmo com o nosso pecado, Deus não volta atrás em suas palavras e continua com a sua obra de salvação para com todos os homens.
No Evangelho Jesus faz uma analogia do Reino de Deus com a semente, dizendo estas palavras as pessoas: “o Reino de Deus é como quando alguém espalha a semente na terra. Ele vai dormir e acorda,noite e dia e a semente vai germinando e crescendo,mas ele não sabe como isso acontece” (Mc 4,26-27).
Essa semente sobre a qual Jesus nos fala no Evangelho é a própria vida Dele lançada na nossa vida para que mais tarde dê muitos frutos. É isso o que nos diz o salmo 91: “o justo crescerá como a palmeira, florirá igual ao cedro que há no Líbano”. Esse crescimento só se realiza por causa de Cristo. São Paulo nos mostra essa realidade, falando à comunidade de Corinto: “eu plantei, Apolo regou, mas é Deus quem fez crescer” (1Cor 3,6).
As palavras de Jesus sobre o Reino, que é a sua presença em nós, cumprem a profecia de Ezequiel: cada cristão é um broto, separado e colocado no mais alto, na vida do próprio Cristo.
Portanto, busquemos o agricultor que é Cristo, para que Ele possa plantar sempre em nossos corações e em nossas vidas a sua semente, para que possa germinar e crescer, e só assim poderemos dar testemunho de cristo.

Poema de Amigo Aprendiz


Padre Zezinho, SCJ.

Quero ser o teu amigo.
Nem demais e nem de menos.
Nem tão longe nem tão perto.
Na medida mais precisa que eu puder.

Mas amar-te, sem medida,
e ficar na tua vida
da maneira mais discreta que eu souber.

Sem tirar-te a liberdade.
Sem jamais te sufocar.
Sem forçar a tua vontade.
Sem falar quando for hora de calar,
e sem calar, quando for hora de falar.

Nem ausente nem presente por demais,
simplesmente, calmamente, ser-te paz...

É bonito ser amigo.
Mas, confesso, é tão difícil aprender!
E por isso eu te suplico paciência.

Vou encher este teu rosto de lembranças!
Dá-me tempo de acertar nossas distâncias!

O Tesouro dos Livros

Do Livro Felicidade, onde Moras?,
do Padre Roque Schneider, SJ.

A frase é de Lacordaire: “Três elementos reunidos são capazes de fazer feliz uma pessoa: Deus, um amigo, um livro”.
Livro... o mundo anda cheio de livros publicados... e pouco lidos. Já disse alguém que a maior tragédia dos homens é passarem eles tão perto da felicidade, sem abraçá-la...
Um bom livro é um tesouro, fonte de manancial inesgotável. Sinaleira vigilante que avisa. Posto de abastecimento. Mesmo empoeirado, esquecido na instante, é um amigo fiel, sempre disponível. Um morto que nos pode ressuscitar, traçando rumos, corrigindo distorções, injetando coragem.
Ler é abrir, com mãos leves e coração generoso, portas que outros já entreabriram para nossa utilidade. O renomado matemático Einstein, agradecendo o que encontrara na obra de Newton, falou: “Eu vi tão longe, porque subi nos ombros de um gigante”.
O ritmo acelerado do mundo moderno vai matando um pouco, em cada um de nós, a disponibilidade para uma leitura repousada, tonificante. Rui Barbosa varava madrugadas, lendo. A paixão da leitura o empolgava. Para espantar o sono, colocava os pés numa bacia de água fria.
Os Rui Barbosa são cada vez mais raros. Muitos, embora conservando intacto o amor à leitura, já não lêem, ou lêem pouco. As tarefas demasiadas dispersaram. Os compromissos sociais solicitam. O telefone não cansa de chamar.
Outros não lêem por falta de paciência para se debruçarem sobre as páginas de uma revista ou jornais. Os ônibus superlotados, desumanos, já não colaboram para corrermos os olhos pelo livro que levamos na bagagem. Os comodistas não têm motivação, desconhecem o amor à leitura. Ler exige, pede esforço. Ver um programa de TV é mais confortável. Vem prontinho, bem iluminado. Podemos bebê-lo, refestelados na poltrona, bebericando uísque. O egoísta desdenha obras alheias. Tristão de Ataíde lembra com acerto: “Quem olha demais para si mesmo não tem tempo nem gosto por leituras. Contenta-se consigo mesmo. Converte-se no centro do mundo”.
A gente acaba sempre, mais cedo ou mais tarde, convertendo-se no que pensa, no que escreve, no que vê, no que ouve, no que lê. Há livros-veneno. Outros, devolvem-nos a contagiante alegria de viver. Uns entram-nos pelos olhos e descem direto ao coração, suaves como a brisa. E há os que nos sacodem até os alicerces, levando-nos aos pés de quem disse: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”. A história de tantas conversões o prova fartamente.
“Se nos tirassem os livros – afirmou M. de Ornelas – pediríamos uma sentença de morte. Que tristeza seria envelhecer sem livros”. Quem já não lê está envelhecendo. Porque o amor à leitura é sinal de juventude de espírito.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo


A Solenidade que celebramos hoje está intimamente ligada àquela da Quinta-Feira Santa. Enquanto a de hoje possui um caráter mais devocional e popular, a da Quinta-Feira Santa é uma celebração mais importante, porque é muito mais rica de significado: recorda-nos um acontecimento importantíssimo para a nossa fé, que é a Instituição da Eucaristia.
O Senhor Jesus Cristo não se contentou apenas em conviver conosco, mas quis viver para sempre presente na nossa vida, sendo o nosso mais fiel companheiro de caminhada, tornando-se pão-nosso-de-cada-dia. Pão que não somente nos alimenta e nos fortalece, mas também nos perdoa e nos dá coragem e nos salva, guardando-nos para a vida eterna. Assim, o Senhor é o nosso Salvador.
“Ó precioso e admirável banquete, fonte de salvação e repleto de toda suavidade! Que há de mais precioso que este banquete? Nele, já não é mais a carne de novilhos e cabritos que nos é dada a comer, como na antiga Lei, mas é o próprio Cristo, verdadeiro Deus, que se nos dá em alimento. Poderia haver algo de mais admirável que este sacramento?” (Santo Tomás de Aquino, Liturgia das Horas Vol. III, Segunda Leitura do Ofício de Leituras da Solenidade do Santíssimo Sacramento do Corpo e Sangue de Cristo).
A Solenidade de hoje, portanto, convida-nos a descobrir no Sacramento da Eucaristia a razão e o centro da nossa fé, como nos ensina o nosso Catecismo: “A Eucaristia é ‘fonte e ápice de toda a vida cristã’” (Catecismo da Igreja Católica, n. 1324). De fato, toda a ação da Igreja começa e termina na Eucaristia: nela pedimos, oferecemos e agradecemos. Com os cristãos do mundo inteiro, digamos: “Senhor, dá-nos sempre deste pão!” (Jo 6,34), e o Senhor nos responderá: “Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim, nunca mais terá fome, e o que crê em mim nunca mais terá sede” (Jo 6,35).

terça-feira, 9 de junho de 2009

Cristo, Conta Comigo!

Do Livro O Meu Cristo de cada Dia,
do Padre Virgílio, ssp.

Darei a minha vida por ti! (Jo 13,37).

A palavra de ordem é: REALIZAR-SE.
Não se discute. É preciso vencer na vida. E o símbolo da vitória está lá: um carrão potente, com o qual ninguém pode competir.
Mas vocês acreditam que o homem pode se realizar também entregando a vida pelo Cristo e pelos irmãos?
Eu sei que muitos entre os jovens católicos já sonharam com isso. Mas depois recuaram, vítimas do comodismo e do conformismo.
A vocação religiosa e sacerdotal é o fruto de um grande amor e de uma grande paixão. Pergunto se os jovens de hoje, católicos ou não, são ainda capazes de grandes amores e de grandes paixões. Pergunto se as palavras de Pedro – “darei a minha vida por ti” – têm sentido em nossa sociedade de consumo. Pergunto se a história de Romeu e Julieta se encaixaria no contexto da era atômica...
A humanidade tem cara indiferente, fria, mole, decadente... Onde encontrará a força para as soluções radicais e para os compromissos definitivos?
A consagração a Deus representa uma das grandes ocasiões que o homem de hoje tem para se realizar e para vencer. Poucos, porém, encontram a coragem de aproveitá-la.
O fato é que para “se oferecer” a Deus seria necessário pagar com a vida e pela vida. E ninguém quer pagar um preço tão alto. O preço do amor total.
Ora, se um homem não for capaz de entregar a sua vida por amor, por qual outro motivo a entregará?
A minha impressão é que se tem medo de amar. E se alguém tem medo de amar, também terá medo de viver. A vida sem amor não é vida, é apenas função vegetal.
Amar significa esquecer-se de si e perder-se atrás do outro. A comparação do Bom Pastor e da ovelha, talvez é isso que significa: Cristo esperando que alguém assuma o papel de pastor e se disponha a dar a vida...
Francamente, fico comovido diante de tantos jovens que se reúnem para discutir, para rezar, para contestar e para fazer algo pelos outros, com a finalidade muito vaga de “construir um mundo melhor”.
E tudo isso é bom, não digo que não. Mas, para que possa nascer um mundo novo, talvez seja necessário pagar um preço mais alto. Sim, é preciso que um ou outro se levante e diga: “Cristo, conta comigo. Eu darei a minha vida por ti!”
É inútil choramingar sobre um mundo que não anda direito, sobre os homens que promovem guerras e injustiças, sobre a sociedade que não aceita o amor e não reconhece o Cristo.
“Como é que os homens invocarão aquele em quem não acreditam? E como haveriam de crer se nunca ouviram falar? E como haveriam de ouvir falar se ninguém lhes prega?” (Rm 10,14).
Cortem esta, amigos.
Vocês ficaram perturbados com estas palavras de Paulo? Não faz mal. Afinal, está na hora de vocês se perturbarem com alguma coisa que vale a pena...
Saibam que, apesar de tudo, eu ainda acredito em vocês. Acredito, sim, e por isso estou tranqüilo quanto ao futuro da Igreja e do mundo.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Valor Agregado da Universidade Católica: humanismo Cristão


Visão do arcebispo Jean-Louis Brugues O.P., secretário da Congregação para a Educação Católica, por Isabel Margarita Lecaros. Extraído de http://www.zenit.org/article-21802?l=portuguese

Segundo arcebispo Brugues, secretário da Congregação para a Educação, o humanismo cristão é um valor que deve ser dito não como opção, mas, como ardente obrigação e como algo intrínseco à educação universitária Católica. Veja:

SANTIAGO, sexta-feira, 5 de junho de 2009 (ZENIT.org).- O humanismo cristão não é um curso opcional para as universidades católicas, é seu valor agregado a cada disciplina, considera o secretário da Congregação para a Educação Católica, arcebispo Jean-Louis Brugues O.P., em um documento do último número da Revista Humanitas (www.humanitas.cl).

O texto, que recolhe uma conferência do prelado francês pronunciada ao visitar a Pontifícia Universidade Católica do Chile, apresenta a essência de toda universidade que se considera e qualifica como católica.

Diante da atual tendência à fragmentação e à falta de comunicação entre as disciplinas ensinadas nas escolas, o arcebispo recorda o convite de Bento XVI a “redescobrir a unidade do conhecimento”.

Aduz, a respeito disso, que “corresponde às nossas universidades despertar esta ‘razão aberta’ da qual falamos e, em consequência, abrir ao humanismo cristão todas as disciplinas ensinadas”.

“Tal humanismo não se apresenta como uma simples opção para os que lecionam ou para os estudantes, mas como uma ardente obrigação. Além disso, ninguém obriga um professor a lecionar em uma universidade católica; tampouco, ninguém obriga um jovem a matricular-se em uma universidade católica: fazê-lo corresponde a assinar um acordo de ordem moral, segundo o qual uns e outros se comprometem nesta perspectiva.”

Recordando que “a verdade não pode caminhar sem o amor”, em palavras de Bento XVI, Dom Brugues convoca as universidades para serem “um testemunho de comunidade educativa”, evitando o desmembramento das relações.

“Para um cristão, a universidade é, ao mesmo tempo, um lugar de busca e transmissão da verdade e um lugar de encontro. Neste novo humanismo, deve-se realizar uma configuração inédita das relações entre professores e estudantes.”

Exorta as universidades a serem um testemunho de fé: “em primeiro lugar, a Igreja deseja que haja dentro das universidades, sejam católicas ou públicas, centros de confissão da fé, que envolvam os que lecionam e os estudantes. Este papel pertence às diversas capelanias universitárias”.

Neste sentido, acrescenta: “A Igreja está em seu direito de esperar da parte dos responsáveis da universidade católica um testemunho pessoal de compromisso na vida eclesial. Aceitando seu cargo, um reitor e um docente aceitam participar, na universidade ou no lugar em que se encontrem, da pastoral da Igreja”.

“A Igreja espera de suas universidades que estimulem o saber dar razão da cultura cristã e que a façam presente, de maneira ativa e criativa, na construção da cultura do país.”

O secretário da Congregação para a Educação conclui sua exposição recordando que em agosto de 2010 se completam 20 anos desde a promulgação da constituição apostólica Ex corde Ecclesiae, o que equivale ao espaço de uma geração.

Segundo o prelado, é então o momento de convidar as universidades das diversas regiões linguísticas a realizarem, em conjunto com a Congregação, uma atualização desse texto fundamental, alentando-as assim a desenvolverem suas ideias e propostas.

domingo, 7 de junho de 2009

"Batizai a todos os povos em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo"- Solenidade da Santíssima Trindade


Após o encerramento do Tempo Pascal com a solenidade de Pentecostes, a Igreja celebra a solenidade da Santíssima Trindade. Esta celebração é permeada pela contemplação do mistério divino, plenamente revelado na Páscoa Cristo: Deus é um, em três pessoas.
A experiência de Israel levou o povo da Antiga Aliança à consciência da unicidade de Deus. Tal experiência se deu porque o próprio Deus venho ao encontro do homem, mostrando quem Ele é, um Deus próximo, e não uma essência distante e fria (cf. Dt 4,32-39).
No entanto, é somente na plenitude dos tempos, com a vinda do Filho de Deus, que o mistério de Deus alcança o seu cume: Jesus apresenta-nos Deus como seu Pai, ao mesmo tempo em que se manifesta como participante da mesma dignidade divina. E mais, é pelo Espírito Santo dado na Páscoa, que também é Deus, que Jesus nos faz filhos de Deus por adoção (cf. Rm 8,14-15). A Trindade, portanto, é revelada na dinâmica da história da salvação. É no seu agir que Deus revela quem Ele é, e o que deseja para nós: dar-nos a sua vida divina.
O Deus cristão é, assim, totalmente diverso do Deus das outras fés monoteístas, como a judaica e a muçulmana. Nós confessamos uma só natureza em Deus, mas subsistente em três pessoas, enquanto as demais religiões monoteístas professam um Deus único, mas solitário. E o que significa isso? Para nós cristãos, os atributos da natureza divina, a onipotência, a onisciência, a onipresença, juntamente com o seu desejo de salvação para a humanidade e para a toda criação, constituem o próprio ser de Deus. Mas esse “ser Deus” não é um essência cósmica solta, fria, distante. Esse “ser Deus” está totalmente presente no Pai, no Filho e no Espírito Santo. Há três modos concretos de Deus existir, numa relação de comunhão, pois o Pai ama o Filho e a Ele tudo entrega, no amor que é o Espírito Santo. E quando falamos em modos de Deus existir não queremos dizer que são três maneiras de Deus se apresentar a nós, mas que o Pai é realmente uma pessoa distinta do Filho, e ambos são distintos do Espírito Santo. E nos três subsiste a mesma natureza divina.
O nosso Deus vem ao nosso encontro para que possamos balbuciar algumas palavras sobre o seu mistério inefável, e fazer-nos participar da comunhão das Pessoas Divinas, dessa realidade viva, plena de amor. E é essa a missão da Igreja: anunciar o mistério do Deus Uno e Trino, batizando a todos os povos em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo (cf. Mt 28,19), fazendo-os filhos de Deus em Jesus, na força santificante do Espírito Amém.

sábado, 6 de junho de 2009

VII - A Amizade entre Homens e Mulheres


A amizade entre homem e mulher sempre foi vista com certa desconfiança por muitas pessoas. Para alguns, esse tipo de amizade chega a ser até mesmo impossível. Quando iniciamos um relacionamento amistoso com alguém do sexo oposto, os nossos pais e familiares já começam a dizer que “isso vai terminar em namoro... noivado... casamento”. Para eles, é somente isso que pode haver entre um jovem e uma jovem. Eles foram educados assim. É difícil para as pessoas mais velhas entenderem que também é possível haver amizade entre um moço e uma moça, que eles podem se encontrar, sair, conversar, partilhar a vida, fazer confidências... e serem apenas amigos!
A amizade heterossexual nos complementa. É o que nos testemunha o sacerdote espanhol Atilano Alaiz, no seu belíssimo livro O Valor da Amizade: “Não podemos nos esquecer de algo elementar: o homem e a mulher são seres que se completam, não somente a nível físico, sexual, mas a nível psicológico e, portanto, todo encontro autêntico é enriquecedor e favorece o equilíbrio interior. Pouco a pouco vão amadurecendo, naqueles que cultivam a amizade com pessoas do sexo oposto, certas dimensões da personalidade que, caso contrário, ficariam atrofiadas”. De fato, a amizade entre homem e mulher é tão importante que não se trata simplesmente de um gosto ou uma opção, mas de uma necessidade. Necessitamos estabelecer relações de amizade com a pessoa do outro sexo. Quando ignoramos isso, tornamo-nos seres humanos incompletos, pela metade: no homem, faltará a presença da sensibilidade feminina; na mulher, faltará a presença da proteção masculina. Essa amizade é um relacionamento de descobrimento e de crescimento para ambos. Anselm Grün nos confirma isso no seu livro Eu lhe Desejo um Amigo: “A amizade entre homem e mulher tem sempre algo de inspirador e vivificante”.
A amizade com pessoas do sexo oposto nos eleva. Não é difícil perceber isso. É bastante notar o quanto esse relacionamento influencia aqueles que fazemos essa experiência. É incrível como a presença de certas pessoas transforma a nossa vida, fazendo-nos enxergar o mundo e os outros seres humanos com novos olhos; fazendo-nos descobrir aqueles valores que possuímos, mas não os reconhecíamos; fazendo-nos ser melhores do que aquilo que somos. É o mistério do amor que só a amizade tem...! O sacerdote jesuíta Teilhard de Chardin, renomado cientista e pesquisador francês, dá-nos um valioso testemunho disso, quando nos fala da presença de três mulheres na sua vida, com as quais se correspondeu por meio de diversas cartas: “Desde o momento em que comecei a acordar para mim mesmo e realmente expressar a mim mesmo, nada mais se desenvolveu dentro de mim que não fosse sob o olhar e a influência de uma mulher”. A amizade com essas mulheres o fez estudar com uma sensibilidade maior os problemas do fenômeno humano.
Sem desconfiança, como faz a maioria das pessoas, mas sem ingenuidade também, é preciso reconhecer um certo perigo que há nas amizades heterossexuais. Isso existe porque se trata de um relacionamento entre pessoas de carne e osso. Mas sabemos também que existem pessoas maduras, tanto afetivamente quanto sexualmente, que, para além de suas diferenças de gênero, admiram-se e vivem com toda simplicidade e responsabilidade essa amizade – sem em momento algum deixar o erotismo se apossar do relacionamento. Em outro belíssimo livro seu – O Amigo, um Tesouro –, Atilano Alaiz nos oferece uma reflexão muito adequada sobre isso. Ele escreve: “O relacionamento amistoso com a pessoa de outro sexo educa a afetividade, ensina a conviver com naturalidade com o outro sexo”. Devemos admitir, com toda certeza, que sempre existiram pessoas que viveram de maneira sublime esse tipo de amizade. Não somente os santos, como São Francisco de Assis e Santa Clara, São João da Cruz e Santa Teresa de Ávila, mas também pessoas solteiras e casadas. Conhecemos exemplos de jovens do nosso dia-a-dia, jovens que se relacionam com todo carinho e respeito – na simplicidade dos filhos de Deus. Os livros nos relatam exemplos de mulheres casadas que, com toda fidelidade aos seus maridos, viveram uma rica e profunda amizade com homens de bem. É o caso de Raïssa, esposa do filósofo francês Jacques Maritain, e de Christine, esposa de Van der Meer. Essas mulheres foram amigas do convertido ao catolicismo Léon Bloy, um homem de caráter e mestre espiritual delas. Em momento algum esse relacionamento prejudicou ou sufocou o casamento dessas mulheres virtuosas, nem tampouco seus maridos sentiram ciúmes (como fazem muitos homens fracos...). A amizade respeita a vida e a vocação do outro! Ao contrário de muitos, Jacques Maritain, um católico de verdade, reconheceu que a falta de amizades femininas na vida de um homem pode ser um “grave dano para o progresso e aperfeiçoamento da vida moral”. Os casados, especialmente, que vivem essa amizade sabem o quanto ela é importante – principalmente quando a pessoa é amiga do casal.
Finalmente, a escritora portuguesa Ana Paula Bastos escreveu um singelo livrinho intitulado Mensagem de Amizade, que traz um parágrafo muito significativo sobre a amizade entre homens e mulheres. Entre outras coisas, ela diz que a amizade “entre um homem maduro e uma mulher madura, no auge de suas faculdades intelectuais, afetivas, espirituais, é qualquer coisa de maravilhoso, por aquilo que tem de aventura, de descoberta e de exploração dos mistérios da vida. Tem algo de busca de crescimento interior a dois, de partilha de vida interior cada vez mais íntima, cada vez mais profunda, cada vez mais bela...”. Portanto, admitimos que é difícil uma amizade entre um homem e uma mulher (e isso por vários motivos), mas não é impossível! Admitimos que é também perigosa (e nós sabemos os motivos), mas muito mais perigoso é viver sem essa amizade. Quem a vive sabe muito bem...! Vale a pena arriscar... e ser infinitamente feliz!!!

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Ainda sobre o respeito humano

Algumas pessoas têm comentado a respeito da imagem colocada no post “Sobre o respeito humano” (http://venicreator2008.blogspot.com/2009/05/sobre-o-respeito-humano.html), achando-a chocante, desnecessária, de mal gosto. É uma imagem forte, mas é muito mais significativa do que chocante. Nela há uma boca, fechada por pontos, significando a mudez que é imposta à verdade pelo pensamento politicamente correto reinante e onipresente nos dias de hoje; mas há uma navalha, onde está gravada a palavra “truth”, “verdade” em inglês, que se aproxima para abrir a boca. Esta realidade significada não nos lembra, por acaso, a palavra de Jesus no Evangelho: “Conhecereis a verdade e a verdade vos tornará livres” (Jo 8,32)? E a verdade é o próprio Jesus, Palavra de Deus, viva e eficaz, mais afiada que uma espada de dois gumes (cf. Hb 4,12; Ap 1,16; 2,12). Assim, o Senhor, que é a própria verdade, é quem pode nos livrar do pecado de mentira, da omissão, do calar diante da injustiça e do pecado, e do receio de anunciar destemidamente o Seu Evangelho.
A verdade nem sempre é agradável. Na maior parte das vezes ela desnuda as nossas almas diante de nós mesmos, dos outros ou de Deus; a verdade nos faz enxergar a realidade em toda a sua crueza. Sobretudo nos tempos de hoje, onde a verdade é vilipendiada sem qualquer cerimônia pelos ávidos de poder e de domínio sobre os corpos e as mentes dos homens, a verdade dificilmente pode ser dita sem machucar, mesmo se usando da caridade; é que as pessoas tornaram-se tão anestesiadas e enganadas, vivendo em mundos fantasiosos criados pelas mais diferentes ideologias e por elas mesmas, que, ao nos depararmos com a verdade, nos sentimos atingidos; nossa reação, invariavelmente, é de incredulidade ou de negação ou ainda de ridicularização, quase sempre de escândalo. Dessa forma, aceitar a verdade, que nem sempre é óbvia, torna-se um processo de conversão em que há necessariamente uma crise psicológica, que é maior ou menor de acordo com as equivocadas concepções ou imagens que se têm na mente. Isso é quase que regra: é preciso se converter à verdade.
A origem desse problema está no pecado original, que obscurece a mente humana de forma que a realidade se torna difícil de conhecer e aceitar. Essa patologia do conhecimento foi incorporada ao homem na Queda de nossos primeiros pais, de forma que trocamos a verdade de Deus pela das criaturas, trocamos os papéis, invertemos as coisas. Desde o início o homem se deixou enganar pelo diabo e, depois, por si mesmo e pelos outros. E o homem de hoje, mais do que antes, se deixou enredar por um mundo fantasioso, virtual, diríamos; o homem conta uma mentira para si mesmo para ficar mais confortável diante de certas situações, e acaba se convencendo de que esta mentira é verdade; vira um neurótico. E para acabar com essa neurose é necessária a verdade, que para muitos é tão difícil que podem dizer como os judeus: “Isto é muito duro! Quem o pode admitir?” (Jo 6,60), e preferir estar no engano.
Voltemos à questão da imagem do post anterior. Será que ela é tão chocante assim? Ou a cruz de nosso Senhor não é mais? Será que é porque nós nos acostumamos com a cruz, que não somos capazes de nos chocar com ela? Nem tanto. A verdade é que, como aquela imagem é significativa para mostrar a realidade da verdade acima descrita, a cruz se tornou um símbolo supremo de realidades que estão além dela: não só a feiúra, a gravidade do pecado, mas, sobretudo, do amor incondicional de Deus pelos homens. Eis porque ao entrarmos numa igreja, nos voltamos para a cruz do Senhor, e dirigimo-nos a Ele olhando para ela: o significado que representa, ou melhor, a Pessoa que representa, é isso que nos atrai, é isso que nos faz termos um crucifixo pregado em casa ou carregado no peito. Enfim, as imagens nesse blog, mas as imagens como um todo, têm de ter o dom de comunicar algo, em nosso caso, comunicar as realidades espirituais. É preciso sempre transcender as imagens, porque elas são apenas a expressão material de realidades mais profundas.

"Chamou os que ele quis". (Mc 3,13)


Quem de nós, jovens ou adultos, em um certo momento de nossas vidas, não paramos um instante para nos interrogar a nós mesmos sobre o que somos neste mundo? E é a partir dessa atitude de escuta silenciosa do nosso intimo e de nossos sentimentos que o Espírito Santo de Deus age em nós. E dessa escuta, nasce a inspiração, por ação de Deus e não nossa, de querer servir a Jesus Cristo mais de perto e em total doação.
Mas, não basta somente termos a vontade de querer ser padre ou um religioso. É preciso antes que o próprio Cristo nos tenha chamado realmente: “E chamou a si os que ele queria,e eles foram até ele.”(Mc 3,13).
Sim, Jesus somente convoca aqueles que ele próprio escolheu muito antes de se encontrarem no ventre materno. E os chama para se tornarem uma via de acesso das para as pessoas até cristo. E isso não depende de nossas qualidades, dos nossos méritos, mas do amor de predileção de Jesus por nós. Na Escritura Sagrada o próprio Jesus diz: “não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu quem vós escolhi” (Jo 15,16). Ele nos pede para seguirmos os seus passos dolorosos, e ao mesmo tempo nos enche de esperança por meio de um amor incomparável.
A vocação é, portanto, um dom que recebemos de Deus para bem realizarmos o nosso papel na evangelização de seus filhos, ser sal da terra e luz para o mundo (cf. Mt 5,13). E a oração, o jejum e, principalmente, a vida sacramental são os elementos pelos quais adquirimos força e coragem, capacitando-nos em nossa vocação.
No entanto, para sermos fiéis ao nosso chamado, teremos sempre que passar por inúmeras batalhas seja ela com nós mesmos, com os familiares ou com o mundo em geral. Muitas vezes, nós sentimos o chamado de Nosso Senhor, mas não temos a coragem de deixar todo o conforto de casa, os estudos, uma suposta namorada ou um bom emprego, e quem sabe uma carreira profissional brilhante, prazerosa e lucrativa. Além disso, há pais que não acreditam e muito menos aceitam a vocação que Deus concedeu aos seus filhos e irão fazer de tudo para que ele não “desperdice” a sua vida.
Nesse mundo pragmático e relativista, do ter pelo ter, d prazer pelo prazer e do lucro pelo lucro, nós, jovens e adultos vocacionados do Senhor, temos a obrigação para com nós mesmos e principalmente com o nosso Deus de sermos “outros cristos” na terra e pescadores de homens. Por isso é preciso que haja um testemunho de nossa parte, porque é esse testemunho que irá ferir as consciências adormecidas que se fazem indiferentes ante a grande responsabilidade de viver e dar sentido às suas vidas. E quem nos diz quem somos e para onde vamos é Jesus Cristo, o Filho de Deus que se fez homem por amor a nós, pobres seres humanos manchados pelo pecado.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

O Seminário Provincial de Maceió – Casa de Formação do clero diocesano de Alagoas

Prédio onde funciona o Seminário Provincial Nossa Senhora da Assunção: Casarão Centenário

Em geral, os fiéis católicos e as demais pessoas não sabem onde e como se formam os padres que estão diariamente pastoreando o povo Deus nas paróquias, pequenas porções do rebanho maior que é a Igreja particular ou diocese.
Os padres são formados em casas de formação denominadas seminários (do latim semina, que significa semente), durante um período que varia entre 07 e 08 anos. Aqui em Maceió, há uma dessas casas, o Seminário Provincial Nossa Senhora da Assunção. Ele recebe o nome de provincial porque nele se encontram em formação os futuros sacerdotes da Província (agrupamento de dicoeses) Eclesiástica de Maceió, composta pela Arquidiocese de Maceió, pela Diocese de Penedo e pela Diocese de Palmeira dos Índios. Essas três Igrejas ou dioceses são as únicas verdadeiramente católicas do Estado de Alagoas.
O Seminário Provincial de Maceió foi fundado em 1902 por Dom Antônio Brandão. Inicialmente funcionou em Marechal Deodoro. Em 1904 foi transferido para Maceió, onde funciona até os dias de hoje, no belo casarão situado na Av. Dom Antônio Brandão, no bairro do Farol, defronte ao Colégio Marista de Maceió.
A formação de um futuro sacerdote consta de duas formações acadêmicas básicas: filosofia e teologia. São três anos de estudos filosóficos e quatro de estudos teológicos, precedidos de um ano propedêutico em preparação para os chamados estudos maiores. Este curso propedêutico é realizado no Seminário São Cura D’ars na cidade de Palmeira dos Índios, sede da diocese de mesmo nome.
A formação acadêmica, no entanto, não é a única formação recebida pelos candidatos ao sacerdócio católico. Caso fosse assim, o seminário não passaria de uma república de estudantes. A formação diocesana dá-se em quatro eixos: a formação humano-afetivo, a formação espiritual, a formação acadêmica e a formação pastoral. Todos estas dimensões da formação presbiteral são trabalhadas no anos de seminário, na convivência diária: nos momentos de oração e refeições em comum, na aulas, nas atividades esportivas e nos diversos ofícios realizados pelos seminaristas para manter o “Casarão da Assunção” em pleno funcionamento.
Esse ano o Seminário de Maceió conta com a presença de 57 seminaristas. São 21 seminaristas de Diocese de Penedo, 13 seminaristas da Diocese de Palmeira dos Índios e 23 seminaristas da Arquidiocese de Maceió. Em artigos próximos trataremos de cada eixo formativo na vida diária, da equipe de formadores e do corpo docente do Seminário Provincial de Maceió.

terça-feira, 2 de junho de 2009

“Simão, filho de João, tu me amas?" ”(Jo 21,15)

“Simão, filho de João, tu me amas mais do que a estes? Pedro respondeu:sim,senhor tu sabes que eu te amo. Jesus disse: Apascenta os meus cordeirinhos”.(Jo 21,15). Esta pergunta de Jesus feita a Pedro também é dirigida a nós cristãos do século XXI. De um modo particular é dirigida aos pastores da Igreja (bispos e presbíteros), àqueles que receberam a incumbência de guiar e orientar a porção de fiéis que lhes foi confiado em uma igreja particular.
Nessa bela passagem nosso Senhor nos pergunta não se amamos as ovelhas, mas, primeiramente, se amamos a Ele mesmo que é Deus feito homem por amor, apesar de nossa condição de pecadores. Pois para que o pastor não perca o foco de sua missão, que é conduzir o seu rebanho a Cristo, é preciso que ele busque e tenha uma intimidade com Jesus Cristo.Somente esse amor pelo Filho de Deus, o Bom Pastor, é que irá permitir que o bispo, o padre ou o vocacionado ao estado sacerdotal não procure o seu refúgio nas coisas vãs, mas tão somente no Ressuscitado, o maior motivo de sua vocação.
Essa manifestação que Jesus fez aos discípulos e em particular a Pedro, também faz a nós, todas as vezes que comemos o seu Corpo e bebemos do seu Sangue. No entanto, assim como Jesus disse que, antes que o galo cantasse três vezes, Pedro o negaria, também nós podemos fazer a mesma coisa, quando o negamos perante a sociedade, quando não somos fiéis às nossas promessas, quando não cuidamos do rebanho que Jesus confiou a nós, muitas vezes até o explorando para satisfazer os nossos próprios prazeres.
Por isso, amemos a Cristo por primeiro, o único pastor do rebanho, porque com essa nossa atitude de adesão radical à vontade do Senhor, conseguiremos ser capazes de amar aquelas pessoas que estão a nossa volta. E tudo isso acontece por ação do Santo Espírito de Deus, que vai nos dando discernimento e forças para sermos instrumentos de salvação na vida daqueles que nos procuram.

O Homem Moderno


O homem moderno é profundamente marcado pela prática, agilidade, rapidez e eficiência. Resolve em minutos o que, outrora, levaria dias, meses, e, até mesmo, anos. A técnica o faz cada vez mais apressado, tornando-o frio no trato com os seus semelhantes. Tornou-se individualista e egoísta; capaz de coisas absurdas para conseguir sua promoção pessoal. Deus é totalmente excluído de sua vida. Os valores morais, éticos e cristãos, essenciais à família e à sociedade, são assassinados todos os dias. Sem tais valores, o homem se converte em um desequilibrado, tornando-se, conseqüentemente, perigoso.
O homem moderno é solidário, mas materialista em demasia. Vive uma angustiante busca pela liberdade, felicidade e verdade. Todas as suas ações têm em vista sua realização pessoal: conseguir um bom emprego, ingressar na Universidade, comprar um carro, encontrar a pessoa amada etc. Entretanto, sua luta e seus esforços parecem não conseguir seu objetivo principal: ser feliz! É porque lhe falta “um ponto de apoio” do qual já falava Arquimedes na Antiguidade. No seu livro clássico, O Pequeno Príncipe, Antoine de Saint-Exupéry já denunciava a inconstância dos homens de hoje: “Eles não têm raízes. Eles não gostam de raízes”.
A característica que mais se sobressai no homem de hoje é o seu contato com os meios de comunicação. Esses meios de comunicação têm feito do homem moderno um “selvagem”, modificando em muito suas relações profissionais, interpessoais e familiares, superficializando-as. Diariamente, a Televisão transmite uma avalanche de informações deturpadas e tendenciosas. Algumas Emissoras de TV querem, a todo custo, destruir a família, além de fazer, abertamente, oposição à Igreja de Jesus Cristo. O Rádio despeja, a todo instante, uma tremenda poluição sonora nos ouvidas das pessoas. São músicas que só falam de pornografia. Há quem passe madrugadas inteiras, diante de um computador, navegando na Internet, a fim de conhecer pessoas novas e diferentes. Simplesmente, porque sua vida pessoal está um caos: brigou e mandou para o inferno todos os que estavam à sua volta. Até mesmo os amigos já não escrevem mais cartas, preferem enviar E-mails e recados pelo Orkut. Há também que vive conhecendo pessoas pelo celular: passando e recebendo imagens falsas. A Internet, muitas vezes, é sinônimo de preguiça: tudo se encontra pronto nas milhões de páginas dos inúmeros Sites. Assim, livros e bibliotecas são desprezados.
O homem moderno entende de Cibernética, Informática e Energética, mas continua analfabeto na arte do amor. Apesar de todas as informações que recebe e transmite, é cada dia mais ignorante. Apesar de está conectado ao mundo inteiro, é cada vez mais solitário. Ao homem-máquina de hoje, Exupéry deixa uma grande lição de vida, no seu O Pequeno Príncipe: “Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos”.