Considera algumas circunstâncias de teus pecados para conhecer mais a sua gravidade. Quando pecavas, nem que fosse no meio da noite ou no lugar o mais afastado, ali estava Deus presente, e à Sua vista cometias aquela maldade. Que desacato e atrevimento! Na presença de um rei, de um bispo, de um sacerdote, não cometerias tal maldade, e a cometes na presença de Deus, ó suma vergonha! Mais: quando pecavas, tinhas de fazer alguma ação e, para executá-la, necessitavas da ajuda de Deus, o qual, como causa universal, era obrigado a servir-te na maldade, do que se queixa por um profeta. Que desacato mais horrendo! Poderá haver maior? Quando pecavas, estava lá Deus em seu infinito poder e não necessitava senão querer para tirar-te naquele mesmo instante a vida e passar-te do pecado em ato ao inferno, como aconteceu a outros, onde estarias queimando sem apelo e, ainda crendo nesta verdade, ias adiante, cometendo o pecado mortal. Que atrevimento! Digas, pecador: isso não é insultar a Deus? Ah, infeliz! Perdeste o temor de Deus, mas não por isso: se Ele não te levou antes, pode fazer neste momento caso não te arrependas imediatamente e lhe peças perdão com a mais viva dor e arrependimento.
Oração
Meu Deus, se grande é a minha culpa, maior é a vossa misericórdia em conservar-me a vida quando tão infamemente insultava e provocava vossa justiça pecando em Vossa Presença. Fazei, Senhor, que meu coração seja possuído pelo Vosso santo temor para que possa arrepender-me com grande dor.
Côn. Josep Antoni Arnautó, Manual de piadosas meditacions, 1835, p. 80-81.