domingo, 30 de agosto de 2009

XXII Domingo do Tempo Comun - Ano B

Deus é fonte de todo bem, não o homem...

Irmãos nos julgamos sábios demais a ponto de nos colocarmos no lugar de Deus e com isso alimentamos cada vez mais nossa auto-suficiência e prepotência. Criamos, até, nossos próprios valores que, em vez de, serem fundamentados na instabilidade da realidade eterna passam a ser sustentados em nossa fragilidade humana e, por isso, são efêmeros e muitas vezes maus. Assim, perdemos de vista o que nos é essencial, a vida e, conseqüentemente, valores imutáveis e divinos como o bem e o amor. Lembremo-nos, irmãos que não fomos feitos para o mundo presente, mas vivemos aqui na esperança do mundo e da vida futura na eternidade. Não fomos criados para nós mesmos! Não à nossa vontade, mas a de Deus! Por isso, reconheçamos ser pecadores por alimentar em nós a idéia de nos bastarmos a nós mesmos. Não percamos de vista a esperança da vida futura, a vida eterna a morada de e com Deus! Na verdade, começamos a perder, não somente a esperança na eternidade, mas também a própria vida eterna, quando deixamos de viver para Deus e nos tornamos o centro de nossas atenções. E, em vez de dizermos: que seja feita a tua vontade, dizemos: que seja feita a minha vontade e não a Tua!

No entanto, a vida eterna, ainda que, sendo doada como dom de Deus, deve brotar em nós também como dom e, sobretudo, como fruto de nosso esforço pessoal para a prática da Palavra de Deus enquanto formos peregrinos neste mundo vivendo na esperança. E perguntamos como aquele jovem: “Mestre, o que devo fazer de bom para ter a vida eterna?” Mt (19,16). E desejo daquele jovem é o nosso! Hoje a resposta a essa pergunta nos é dada no salmo quando o salmista faz a mesma pergunta, mesmo que de forma diferente. Ele diz: “Senhor, quem morará em vossa casa e em vosso monte santo habitará?”. E a resposta nos é dada em seguida: “quem pratica a justiça, quem tem reto coração, quem não calunia seu semelhante e quem honra e teme a Deus” (Sl 14(15). Estes preceitos são como que setas que nos levam a certeza de um dia ver Deus face a face na sua morada. Como mesmo nos mostra a Sagrada Escritura: “ouve as leis e os preceitos que hoje vou ensinar-vos. Ponde-os em prática para que vivais e entreis na posse da terra que o Senhor, Deus de vossos pais, vos dá”. (Dt 4,1). No entanto, a prática da realização desses preceitos não se resume somente a um simples ato de autodeterminação isolado, mas, é, sobretudo ação primeira de Deus pelo Espírito Santo. É o Espírito Santo de Deus que nos conduz! Afinal, não é pela efusão do Espírito Santo no batismo que nos tornamos co-cidadãos do Céu?

A verdade é que hoje nos foram dirigidas palavras muito fortes e duras. Os fariseus daquela época somos nós hoje. E as mesminhas palavras que foram dirigidas à eles nos são dirigidas hoje. Isso porque eles deixando Deus de lado, se apegaram a si mesmos e a suas normas. Eles se esqueceram que é o próprio Deus o fundamento de tudo, na pessoa de seu Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, pela ação do Divino Espírito Santo. E com isso eles se apegaram à sua própria fragilidade e a tiveram como fundamento. Mas Cristo nos mostra que frutos são produzidos pelo homem que se sobrepõe a Deus. A saber, “devassidões, roubos, assassinatos, adultérios, cobiças, perversidades, fraudes, desonestidade, inveja, difamação, orgulho e insensatez”. (Mt 7, 21).

Irmãos voltemos nosso olhar, vida e esperança para Deus. O tenhamos como fundamento de nossa vida. Acolhamos docilmente nosso Senhor Jesus Cristo, a Palavra de Deus semeada entre nós, pois só Ele pode nos levar ao nosso fim, a vida eterna. E só assim seremos verdadeiros sábios, não por outro motivo, mas pelo fato de carregarmos em nós os traços de Cristo, a verdadeira sabedoria. Reconheçamos somente em Deus na pessoa de seu Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, não em nós, a fonte primeira de todo o bem afim de que sejamos, no Espírito Santo, um só com Deus e com o próximo.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

A oração do Senhor IX - Livrai-nos do mal

Do Tratado sobre a oração do Senhor, de São Cipriano, bispo e mártir

Depois disto tudo, completando a oração, vem a petição final que, numa síntese brevíssima conclui todos os nossos pedidos e súplicas. Dizemos em último lugar: – Livrai-nos de todo mal – abrangendo com esta palavra as adversidades que o inimigo possa maquinar contra nós neste mundo. Contra todas as tramas suas estaremos firmes e seguros se Deus nos livrar delas, se conceder seu auxílio aos que Lho suplicam e imploram. Tendo dito: Livrai-nos do mal, nada mais resta a pedir, pois já pedimos, de um só vez, a proteção de Deus contra o mal; conseguida essa proteção estamos seguramente guardados contra as maquinações do diabo e do mundo. Com efeito, que se poderá temer no mundo se se tem a Deus por guardião?

terça-feira, 25 de agosto de 2009

A oração do Senhor VIII - Não nos deixeis cair em tentação

Do Tratado sobre a oração do Senhor, de São Cipriano, bispo e mártir

Manda-nos ainda o Senhor que digamos na oração: “E não nos deixeis cair em tentação”. Isto mostra que o adversário nada pode contra nós sem uma permissão de Deus. Assim, voltar-se-á para o Senhor todo nosso temor, zelo e devoção; pois nada é possível ao Maligno, no sentido de tentar-nos, sem a divina permissão. Prova-o a divina Escritura: Veio Nabucodonosor, rei da Babilônia, a Jerusalém e atacou-a: o Senhor entregou-a em suas mãos (Dn 1,1-2).
E o poder contra nós é dado a ele segundo os nossos pecados, pois está escrito: Quem entregou Jacó ao massacre e Israel aos espoliadores? Não foi Deus, contra quem pecaram, cujas vias não quiseram seguir e cuja lei não quiseram ouvir, que dirigiu para eles a ira de sua alma? E também a respeito de Salomão, quando pecou e se afastou dos caminhos do Senhor: O Senhor excitou Satanás contra Salomão.
De duas maneiras é dado poder contra nós: para castigo, quando pecamos; para glória, quando somos provados. Isso aparece concretamente no caso de Jó, por revelação do próprio Deus: Eis, tudo que é dele coloco em teu poder; cuida, porém, de nele não tocares (Jó 1,12).
No Evangelho, diz o Senhor sobre o tempo da paixão: Nenhum poder terias contra mim, se não te fosse dado do alto (Jo 19,11).
Rogando para não cair em tentação, lembramo-nos de nossa fraqueza e miséria, e não nos exaltaremos insolentemente, considerando orgulhosamente algo como nosso, não julgaremos nossa glória a confissão do martírio. Pois, ensinando-nos a humildade, diz o Senhor: Vigiai e orai para não cairdes em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca (Mt 26,41). Antepõe, assim, a confissão humilde e submissa à prece, atribui tudo a Deus a fim de obteres da sua misericórdia o que pedirdes com temor e reverência.

sábado, 22 de agosto de 2009

A quem nós iremos, Senhor Jesus Cristo? - XXI Domingo Comum

Antes de nos determos no estupendo Evangelho deste XXI Domingo Comum, Evangelho que encerra o capítulo sexto de São João e o discurso do Pão da Vida, é-nos útil rememorar brevemente este capítulo precioso que escutamos nos últimos domingos e que forma uma sequência precisa, um todo orgânico.
Atraídas pelo ensinamento e pela fama de Jesus, muitas multidões vão procurá-lo. Ele teve compaixão delas – eram como ovelhas sem pastor (Mc 6,34) – e realizou a prodigiosa multiplicação dos pães, para que não desfalecessem no caminho. No entanto, ao invés de enxergarem o sinal grandioso realizado por Jesus, as pessoas quiseram fazê-lo rei, um rei que pudesse matar a sua fome, curar suas doenças, lhe dar bem-estar; em suma, um rei terreno. Jesus, cujo reino não é desse mundo (cf. Jo 18,36), esquivou-se deles e partiu para um monte, sozinho, para orar.
De noite, quando os discípulos voltavam para Cafarnaum de barco, sem Jesus, viram-no andando sobre as águas e tiveram medo. Estes dois episódios, o da multiplicação dos pães e o do caminhar sobre as águas, prefiguram simbolicamente o que Jesus dirá a seguir: Ele é o Pão da Vida descido do céu, Pão dado por Deus e não por um homem, Pão que é a própria carne de Jesus. E como Jesus pode dar sua carne e seu sangue para ser comido – já que são ambos verdadeira comida? (Jo 6,55) Ele tem poder sobre os elementos deste mundo (já que multiplica os pães) e sobre seu próprio corpo (ele caminha sobre as águas); assim, através de tal poder, Ele pode cumprir sua promessa de ser alimento para os homens. Mas os judeus e muitos dos seus discípulos não entenderam isso, e escandalizaram-se: “Esta palavra é dura. Quem consegue escutá-la?” (Jo 6, 60) Quem comerá a carne de um homem, mesmo que este homem seja grande e milagroso como Jesus, mesmo que Ele seja o Messias? Tal proposta era absurda para a mentalidade judaica dos seus discípulos. Mas eles não souberam ultrapassar o puramente terreno, não conseguiram enxergar em Jesus o transcendente, o divino. Não compreenderam que “o Espírito é que dá vida, a carne não adianta nada” (Jo 6,63).Um mistério muito grande é o da incredulidade dos discípulos de Jesus: “Entre vós há alguns que não crêem” (Jo 6,64). Por que tantas vezes olhamos para a Igreja e não vemos a transparência dos outros cristos que são os cristãos? Por que não vemos resplandecer na vida de tantos batizados o Dom espiritual que possuem e que lhes dá uma vida de filhos de Deus, uma vida nova? Por que esta vida não se manifesta? Jesus nos oferece a resposta: “Ninguém pode vir a mim, a não ser que lhe seja concedido pelo Pai” (6,65). Não é por nossos próprios esforços, não é porque nós somos bons ou melhores que descobrimos os segredos de Jesus, lhe penetramos o Espírito, entendemos o que Ele fala, seguimos o que Ele manda: isso é um Dom dado a nós por Deus Pai. A fé em Cristo é um Dom, não um mérito nosso. E ela é tão fraca, tão pequena! Jesus tinha dito que se crêssemos só um pouquinho, moveríamos montanhas (Cf. Mt 17,20). Mas é comum vermos os cristãos fazendo milagres bem inferiores a mover montanhas? Não vemos e isso acontece porque a fé dos cristãos de hoje é tão pequena, tão pequena, que diante dela, um grão de mostarda é uma montanha. É por isso que devemos pedir a cada dia, a cada hora, a cada instante: “Senhor, aumenta-nos a fé!” (Lc 17,5) Senhor, que nós não sejamos como os discípulos descrentes em vós, que vos abandonam, que não andam mais convosco! Que não sejamos como os que apostatam a fé e se perdem no mundo, que não sejamos como aqueles que mesmo carregando o vosso Santo Nome nos lábios, vociferando “aleluias” e “améns”, não crêem de verdade! Senhor, o nosso desejo é que, do fundo do nosso coração, possamos dizer como Josué, como Pedro: eu e minha casa serviremos ao Senhor, pois a quem nos iríamos?, só Ele tem palavras de Vida eterna, só Ele é o Santo! Que se realize, ó Bom Jesus, ó Pastor de nossas almas, ó Pão da Vida Eterna, que se realize em nossa vida a vossa Santa Palavra, que é Espírito, que é Vida verdadeira! Que nós possamos enxergar na Santíssima Eucaristia, pelo olhar da fé, a vossa presença, o cumprimento da vossa promessa e o penhor de sua realização escatológica! Senhor, aumenta-nos a fé, vós que sois bendito para sempre, e que viveis e reinas com o Pai na unidade do Espírito Santo. Amém.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

A oração do Senhor VII - Perdoai-nos nossas dívidas...

Do Tratado sobre a oração do Senhor, de São Cipriano, bispo e mártir
.
Em seguida, também suplicamos pelos nossos pecados: E perdoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores. Depois do pão, pedimos o perdão dos pecados. Quem é alimentado por Deus, viva também em Deus; cuide não só da vida presente e temporal, mas sobretudo da eterna, à qual se pode chegar se os pecados são perdoados, pecados que o Senhor, no Evangelho, chama dívidas: “Perdoei-te toda a tua dívida, porque me pediste” (Mt 18,32)
Quão necessária, providencial e salvadora a advertência de sermos pecadores, e obrigados a rogar a Deus pelos pecados! Porque, quando recorre à indulgência de Deus, a alma se lembra de sua condição. Para que ninguém esteja contente consigo, como se fosse inocente e pela soberba se perca mais completamente, quando se lhe ordena pedir todos os dias perdão pelos pecados, cada um toma consciência de que diariamente peca.
Assim também João, em sua carta, nos adverte: Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos e a verdade não estará em nós. Se porém confessarmos nossas culpas, o Senhor, justo e fiel, perdoar-nos-á os pecados (1Jo 1,8-9). Em sua carta reuniu as duas coisas: o dever de rogar pelos pecados e, rogando, suplicar a indulgência. Por isso diz que o Senhor é fiel, mantendo a sua promessa de perdoar as culpas, pois quem nos ensinou a orar por nossas dívidas e pecados também prometeu, logo em seguida, a misericórdia paterna e o perdão.
Cristo acrescentou claramente uma lei que nos obriga a determinada condição: que peçamos a remissão das dívidas, se nós mesmos perdoamos aos nossos devedores, sabendo que não podemos alcançar o perdão a não ser que façamos o mesmo em relação aos que nos ofendem. Por esta razão, diz em outro lugar: Com a mesma medida com que medirdes, sereis medidos (Mt 7,2). E aquele servo que, perdoado de toda a dívida por seu senhor, mas não quis perdoar o companheiro, foi lançado ao cárcere. Por não ter querido ser indulgente com o companheiro, perdeu a indulgência com que fora tratado por seu senhor.
Cristo propõe o perdão com preceito mais forte e censura ainda mais vigorosa: Quando fordes orar, perdoai se tendes algo contra outro, para que vosso Pai, que está nos céus, vos perdoe os pecados. Se, porém, não perdoardes, também vosso Pai, que está nos céus, não vos perdoará os pecados (Mc 11,25-26). Não te restará a menor desculpa no dia do juízo, quando serás julgado de acordo com tua própria sentença e o que tiveres feito, o mesmo sofrerás.
Deus ordenou que sejamos pacíficos, concordes e unânimes em sua casa. Mandou que sejamos tais como nos tornou pelo segundo nascimento; assim também ele nos quer renascidos e perseverantes. Deste modo nós, filhos de Deus, permaneçamos na paz de Deus e os que possuem um só Espírito tenham uma só alma e um só coração.
Deus não aceita o sacrifício do que vive em discórdia e ordena deixar o altar e ir primeiro reconciliar-se com o irmão, para que, com preces pacíficas, possa Deus ser aplacado. Maior serviço para Deus é a nossa paz e concórdia fraterna e o povo que foi feito uno pela unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Nos sacrifícios que Abel e Caim foram os primeiros a oferecer, Deus não olhava os dons, mas os corações, de forma que lhe agradava pelo dom aquele que lhe agradava pelo coração. Abel, pacífico e justo, sacrificando com inocência a Deus, ensinou os outros a depositar seus dons no altar com temor de Deus, simplicidade de coração, empenho de justiça e de concórdia. Aquele que assim procedeu no sacrifício de Deus tornou-se merecidamente sacrifício para Deus. Sendo o primeiro a dar a conhecer o martírio, iniciou pela glória de seu sangue a paixão do Senhor, por ter mantido a justiça e a paz do Senhor. Esses serão, no fim, coroados pelo Senhor; esses, no dia do juízo, triunfarão com o Senhor.
Quanto aos discordantes, aos dissidentes, aos que não mantêm a paz com os irmãos, mesmo que sejam mortos pelo nome de Cristo, não poderão, conforme o testemunho do santo Apóstolo e da Sagrada Escritura, escapar do crime de desunião fraterna, pois está escrito: Quem odeia seu irmão é homicida. Não chega ao reino dos céus nem vive com Deus um homicida. Não pode estar com Cristo quem preferiu a imitação de Judas à de Cristo.

domingo, 16 de agosto de 2009

Solenidade da Assunção da Virgem Maria


Hoje celebramos a solenidade mariana mais importante: a Assunção da Virgem Maria aos céus em corpo e alma. Nesse dia solene, a Virgem resplandece vestida de sol (Ap 12,1), vestida de Cristo, luz verdadeira sem ocaso, como sinal de um tempo futuro.
O dogma da Assunção é consequência de um outro, o da Imaculada Conceição. Se Maria foi aquela que não conheceu o pecado, tendo em vista os méritos de seu Filho, ela não poderia experimentar a corrupção da morte, pois, como nos diz o apóstolo, o salário do pecado é a morte (cf. Rm 6,23). Como a Virgem não compartilhou do pecado, não poderia participar de seu soldo.
São Paulo diz em 1Cor 15,20-27 que em Cristo todos reviverão. Primeiramente o próprio Cristo, como o primeiro. Em seguida os que pertencem a Cristo. E não existe ninguém que viveu totalmente em Cristo como sua santa Mãe. Toda a vida de Maria foi vida na graça, graça que é o próprio Cristo. Por isso ela é a primeira criatura a participar da ressurreição plenamente, no seu corpo e na sua alma, ou seja: em todas as suas dimensões.
É por isso que Maria exulta e se alegra em Deus, que fez maravilhas em sua vida (cf. Lc 1,46-55). Maria reconhece que tudo aquilo que lhe aconteceu não se deveu aos seus méritos, mas foi tudo favor de Deus.
O hino da I e da II Vésperas do Ofício Divino de hoje canta no final da terceira estrofe: “no mais alto da Igreja estás sozinha” refedindo-se a Virgem Santa. De fato, somente Maria, depois de Cristo, encontra-se na glória. Mas ela permanece lá, sozinha, de braços erguidos, mostrando a todos os cristãos e a humanidade inteira que a meta é o céu.
E é justamente isso que a solenidade da Assunção nos recorda: não fomos feitos para vivermos aqui. Nossa vida somente tem sentido quando experimentamos caminhar aqui na certeza de que se Deus nos chamou e nos justificou no Batismo, também nos glorificará (cf. Rm 8,30). E a Virgem Santa é o sinal perfeito dessa realidade. Uma vez batizados no Espírito de Cristo, neste mesmo Espírito seremos divinizados.
Em um mundo que já não sabe viver e, consequentemente, morrer, nós cristãos devemos ser testemunhas de que Deus preparou para aqueles que Ele ama coisas que os olhos jamais viram, ouvidos não ouviram e nem sentiu o coração humano (cf. 1Cor 2,9). Dessa verdade a Virgem resplandece hoje como sinal.

sábado, 15 de agosto de 2009

Parabéns, Luciano!

Caro Luciano,
Nosso coração se rejubila de alegria com o seu neste dia em que receberás as primeiras ordens de leitor e acólito. São os primeiros degraus pelos quais se sobe até o dom sagrado do sacerdócio. De fato, a partir de hoje, estarás investido oficialmente pela Igreja na missão de proclamar a Palavra de Deus e de auxiliar o sacerdote na distribuição da Sagrada Comunhão. Embora sejam como que sombras do dom maior do sacerdócio, esses ministérios são uma espécie de antegozo – pequeno, mas significativo – do bem que acalentas no coração: ser um sacerdote.
É desnecessário dizer o quanto sua amizade é preciosa. Esses poucos anos de convivência criaram laços que devem permanecer por toda a eternidade. Você sempre foi presença amiga e orientadora, ajudando e fortalecendo nossa vocação com conselhos, nos ajudando a compreender melhor a teologia e as coisas de Deus com sua ampla visão de mundo; também nas brincadeiras e repreensões, mas sempre como um entre nós, mesmo sendo o primeiro entre os iguais. Não podemos deixar de nos espelhar em você como homem, como cristão, como intelectual, e temos certeza, havemos de nos espelhar em você também como sacerdote.
Neste dia da Assunção da Santíssima Virgem ao céu de corpo e alma, que ela envie do céu suas bênçãos sobre sua vida, para que seja longa e frutuosa no Senhor. A você, nossa admiração e sincero afeto de seus irmãos mais novos no Senhor, desejando que em tudo você seja “achado n’Ele” (Fl 3,9).
Seus amigos Bruno, Dos Anjos, Deyvid e Henrique.

Assunta es Maria in caelum

Nesta solenidade da Assunção da Virgem Maria, para você caro leitor do Veni Creator, a antífona gregoriana Assumpta es Maria in caelum, por Giovanni Vianini, em honra da Toda Santa Virgem Mãe de Deus.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Festa São Lourenço, Diácono e Mártir

Hoje a Igreja convida-nos a celebrar a santidade e também o martírio do diácono Lourenço, que mesmo sobre as ameaças de morte e as seduções que o mundo oferecia, conseguiu ser fiel a Cristo. Lourenço exerceu na Igreja de Roma a função de diácono, administrando os bens da Igreja. E, nesta mesma Igreja também derramou o seu próprio sangue pelo nome de Jesus Cristo.
Com esse grande exemplo que foi são Lourenço de serviço e doação total a Deus, a Igreja no mundo inteiro dedica este dia especial aos diáconos, convidando-os para olhar para esse grande homem e pedindo que os nossos diáconos sejam hoje verdadeiros servidores do povo, ajudando a administrar tanto a Igreja ao lado de seu bispo como também servindo ao povo de Deus que tanto necessita.
Diz a história que quando Lourenço foi preso e intimado a comparecer diante do prefeito Cornelius Saecularis, a fim de prestar contas dos bens e das riquezas que a igreja já possuía, Lourenço pediu-lhe um prazo para fazê-lo, dizendo que tudo entregaria. Confessou que a Igreja era muito rica e que a sua riqueza ultrapassava a do imperador Valeriano. Foram-lhes concedidos, então três dias. Lourenço reuniu os cegos, os coxos, os aleijados, todos os enfermos, crianças e velhos e disse ao imperador que os bens da igreja eram essas pessoas.
Se realmente amamos a Cristo, a exemplo de São Lourenço, imitemo-lo. Na verdade, Cristo sofreu por nós, deixando-nos seu exemplo, para que sigamos os seus passos (cf. 1Pd 2,21). Estas palavras do apostolo são Pedro parecem dar a entender que Cristo só sofreu por aqueles que seguem os seus passos e que Sua paixão de nada aproveita senão aqueles que o seguem. E isto não é verdade. Cristo não venho para os sadios mas para os que estão doentes (cf. Mt 9,19). Portanto, Jesus quer salvar a todos.
O mundo cristão hoje venera esse grande mártir da Igreja que foi Lourenço com a mesma veneração e respeito que honra os primeiros apóstolos. Depois de São Pedro e São Paulo, a festa de São Lourenço foi a maior da antiga liturgia da Igreja.

domingo, 9 de agosto de 2009

XIX Domingo do Tempo Comum - Ano B


Provai e vede como o Senhor é bom,
feliz o homem que nele se gloria
. (Sl 34,9)

O centro da liturgia que celebramos hoje é novamente o pão. Deus concede pão como alimento corporal ao profeta Elias; Jesus, por sua vez, oferece-se a si mesmo como o “pão descido do céu” (Jo 6,41).
Na Primeira Leitura (1Rs 19,4-8), Deus se compadece de Elias, concedendo-lhe pão e água para fortalecê-lo e animá-lo a seguir a diante. Longo demais é o caminho. Sustentado pelo pão dado por Deus, o profeta prossegue a sua caminhada, continua a sua missão de guardar a verdadeira fé no Deus de Israel. Esse pão alimentou Elias, dando-lhe forças. No entanto, Elias veio a sentir fome novamente...
No Evangelho (Jo 6,41-51), Jesus prossegue o discurso sobre o pão da vida – que é Ele mesmo! São palavras duras e cheias de vida. Assim como os hebreus murmuravam no deserto (cf. Ex 16,2s), aqueles que escutavam Jesus também murmuravam. Jesus falava de um pão novo, diferente. Um pão que nos salva e nos perdoa e nos dá coragem. Um pão que é alimento para a alma. Um pão que nos conduz à vida eterna. Esse pão é dado pelo próprio Jesus: “O pão que eu darei é a minha carne para a vida do mundo” (Jo 6,51). O pão que Jesus nos oferece é o verdadeiro alimento para a nossa jornada rumo ao céu, pois quem come desse pão não sentirá fome novamente.
Jesus continua, dia a dia, oferecendo-se a nós por meio da Eucaristia, em cada Santa Missa que participamos. É o dom de Deus para a nossa vida de fé, para o nosso dia-a-dia. Assim, Jesus dá sentido à nossa existência, tão cheia de dificuldades e sofrimentos. Mas o Senhor nos liberta de tudo isso, salvando-nos. Precisamos reconhecê-Lo como nosso Salvador. Precisamos fazer da Eucaristia o centro da nossa vida: onde tudo começa e termina, pois: “Quem come deste pão viverá para sempre” (Jo 6,51).


quinta-feira, 6 de agosto de 2009

"E transfigurou-se diante deles" - Festa da Transfiguração do Senhor


Hoje o Senhor Jesus, na alta montanha, diante de Pedro, Tiago e João, revela-se glorioso, revestido de uma glória jamais vista, jamais pensada (cf. Mc 9,2). S. Marcos expressa essa realidade com um detalhe interessante: Jesus se transfigura e suas vestes se tornam brancas como nenhuma lavadeira sobre a terra poderia alvejar (cf. Mc 9,3). O evangelista, de outra maneira, quer nos mostrar, aquilo que S. Paulo também afirma: a glória celeste na qual Jesus é totalmente revestido é algo que os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou (cf. 1Cor 2,9).
É essa a glória a qual a Igreja e toda a humanidade é chamada a participar, a glória que a Igreja e a humanidade esperam, e porque esperam, procuram, e procuram porque esse é o destino de todo ser humano: viver em Deus. E participar da glória Dele é algo para o qual fomos predestinados antes mesmo da fundação do mundo (cf. Ef 1, 4). Por isso Jesus, ao se transfigurar no monte, antecipa a glória com a qual será revestido na ressurreição, para que Pedro, Tiago e João, e cada um de nós reconheça que essa glória jamais vista, ouvida ou sentida pelo coração humano, Deus também a preparou para aqueles que o amam (cf. 1Cor 2,9).
Essa antecipação da ressurreição gloriosa de Cristo também tem por finalidade afastar dos discípulos o medo, o medo do escândalo da cruz. Sim, porque nós tendemos naturalmente ao medo. Cremos, mas muitas vezes é difícil aceitar que o crente de verdade é aquele livre do fardo de querer ter o controle, a certeza e a compreensão de tudo. A cruz escandaliza, mas seu jugo é suave e seu fardo é leve quando temos diante dos olhos a liberdade dos que confiam, dos que não querem ser a medida de todas as coisas, dos que caminham tendo diante dos olhos o Cristo transfigurado.
Caminhemos, portanto, com os olhos fixos nessa verdade: fomos criados para sermos revestidos da mesma glória com a qual Cristo é hoje transfigurado. E, enquanto peregrinamos nesse mundo, não nos desviemos pelo medo, mas confiemos e escutemos as palavras do filho amado do Pai (cf. Mc 9,7), palavras de vida eterna (cf. Jo 6, 68).

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Hino do Ofício das Leituras da Festa da Transfiguração do Senhor


"Para que a demora não faça nascer em nós a incredulidade, Cristo se tranfigura e nos mostra qual deve ser nossa esperança, a fim de que, mediante as realidades presentes creiamos nas futuras".

A beleza da glória celeste
que a igreja esperando procura,
Cristo a mostra no alto do monte,
onde mais que o sol claro fulgura.

Este fato é nos tempos notável:
ante Pedro, Tiago e João
Cristo fala a Moisés e Elias
sobre a sua futura paixão.

Testemunhas da lei, dos profetas
e da graça estando presentes,
sobre o Filho Deus Pai testemunha,
vindo a voz duma nuvem luzente.

Com a face brilhante de Glória,
Cristo hoje mostrou no Tabor
o que Deus tem no céu preparado
aos que o seguem, vivendo no amor.

Da sagrada visão o mistério
ergue aos céus o fiel coração.
e, por isso, exultante de gozo,
sobe a Deus a nossa ardente oração.

Pai e Filho, e Espírito de vida,
um só Deus, Vida e Paz, Sumo Bem,
concedei-nos por vossa presença,
esta glória no reino. Amém.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

"Eu te coloquei como vigia, para anunciares que o Reino está próximo" - Memória de S. João Maria Vianney, presbítero - Ano Sacerdotal

Nesse ano sacerdotal, inaugurado oficialmente pelo papa Bento XVI no último dia 19 de junho, emerge como modelo de sacerdote a figura de São João Maria Vianney, nos 150 anos de seu falecimento.
São João Maria Vianney nasceu em Lião, na França, no ano de 1786. Foi ordenado sacerdote no ano de 1815. Três anos depois, assumiu a paróquia de Ars. Ali exerceu um fecundo trabalho apostólico, principalmente através do atendimento das confissões, que se tornou a sua característica marcante. Eram muitas as pessoas da Europa e América que acorriam a pequena Ars para ouvir suas palavras de conforto e sabedoria. Outra marca do seu zelo pastoral, que contraria a crença comum, eram as suas pregações, tão bem preparadas e decoradas, cheias de piedade e amor a Cristo, cuja força convertia a muitos, e edificava e alimentava a tantos outros na fé.
As leituras próprias (cf. Ez 3, 16-21; Sl 116 e Mt 9, 35-10,1), propostas pela liturgia para a memória de hoje, ajuda-nos a compreender melhor a figura desse santo e a missão a qual são chamados todos os sacerdotes nesse ano a eles dedicados.
Na profecia de Ezequiel escutamos qual é a missão do profeta: “filho do homem, eu te coloquei como vigia para a casa de Israel” (Ez 3,17a). O profeta é aquele que se coloca de atalaia, e, de seu posto, vê mais longe, vê com os olhos do próprio Deus. E vê para que? Para poder advertir, instruir, formar na fé. Ars era um vilarejo insignificante. Mas isso não impedia que João Vianney enxergasse para além de seus horizontes, vislumbrasse o céu. Os limites de Ars eram estreitos demais para o seu cura e o rebanho a ele confiado. Por isso esse gigante era um incansável profeta do Reino dos Céus. Eis também a missão do padre: um homem embriagado pelo Espírito de Cristo, cujos olhos se tornam aguçados como os da águia para conduzir muitos à vida nova em Cristo.
As palavras do Evangelho de Mateus também apontam uma outra característica da missão de João Vianney e de todos os padres. Jesus chama os doze, conferi-lhes o poder de curar doenças e expulsar os demônios (cf. Mt 10,1), e lhes manda anunciar que o Reino dos Céus está próximo (cf. Mt 10,7). No Cura de Ars essas palavras se cumpriram perfeitamente: no poder do Espírito Santo, presente nas suas palavras e nos sacramentos, muitas vidas foram restauradas e o Reino se fez presente. E no mesmo poder, hoje, os sacerdotes, cujas mãos foram ungidas para se tornaram canais de graça, são chamados a tomaram cada vez mais consciência que sua missão é renovar todas as coisas, através da pregação e da administração dos sacramentos.
Nesse ano sacerdotal, rezemos pelos nossos sacerdotes, para que sejam fiéis ao ministério recebido. E, assim, a fidelidade de Cristo à obra redentora, seja a fidelidade de cada sacerdote. São João Maria Vianney, rogai por todos os sacerdotes.

domingo, 2 de agosto de 2009

Eu sou o pão da vida - XVIII Domingo Comum

Neste Domingo continuamos a ouvir o capítulo sexto de São João, que nos fala do Pão da Vida. Domingo passado ouvimos como Jesus realizou o milagre da multiplicação dos pães, mostrando, com esse sinal maravilhoso, a sua natureza verdadeira: Ele é o Cristo, o Messias, o Ungido de Deus, o Enviado do Senhor. Tanto isso é verdade que as multidões, percebendo a messianidade de Jesus, queriam coroá-lo rei, dizendo: Esse é, verdadeiramente, o profeta que deve vir ao mundo! (Jo 6,14). Entendiam, no entanto, a missão de Jesus de um modo puramente humano, carnal. Contra esse entendimento, o Senhor declarou em outro lugar: O meu reino não é deste mundo (Jo 18,36).
Hoje, essa mesma multidão, com o ventre cheio, mas com o entendimento embotado, não consegue transcender o sinal dos pães e pergunta: Que sinal realizas, para que possamos ver e crer em ti? Que obra fazes? (Jo 6,30). O Senhor lhes responde, antes, lhes propõe como matéria de fé ao dizer em verdade, em verdade vos digo: O pão que eles achavam que Moisés lhes deu de comer (cf. Ex 16,4.12-15), na verdade fora Deus quem lhes dera; e mais: Ele, o Cristo, o verdadeiro Moisés e o verdadeiro Deus, é quem pode dar o Pão da Vida, o Pão de Deus, que é Ele mesmo (cf. Jo 6,32-33.35). E Jesus diz: Esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna, e que o Filho do Homem vos dará (Jo 6,27). Aqui transparece o mistério da graça e da liberdade humana: ao mesmo tempo em que o homem deve procurar, deve se esforçar para encontrar o alimento da vida eterna, é o Filho de Deus quem o dá, como dom gratuito. Ou melhor dizendo, Ele se dá, uma vez que é Ele este alimento.
Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome e quem crê em mim nunca mais terá sede (Jo 6,35). Confiados nessa promessa do Senhor, tendo fé n’Ele, realizamos a obra de Deus, conforme ele disse (cf. Jo 6,29). Alimentados com o Pão da vida, alimentados de Jesus, sobretudo de Jesus Eucarístico, podemos viver uma vida nova, em conformidade com a verdade que está em Jesus, como nos diz São Paulo na segunda leitura (Ef 4,21). É por este Alimento que revestimos o homem novo, criado à imagem de Deus (cf. Ef 4,24). Vivamos, pois, em Jesus, renovemos o nosso espírito e a nossa mentalidade (cf. Ef 4,23) para vivermos uma vida de acordo com o nosso Senhor, pensando como Ele, sentido e agindo como Ele e não como os pagãos. Vivamos aquilo que já somos pelo Batismo: Filhos de Deus, chamados a ser santos como o Pai, que está no céu, é santo (cf. 1Pd 1,16).