quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus – Oitava de Natal

Tamanha é a grandiosidade do mistério celebrado no Natal – o aparecimento do Filho de Deus no meio dos homens – que tal solenidade estende-se por oito dias e culmina com a terceira grande festa do tempo de Natal: a solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus. Mas, quem imagina que a principal personagem celebrada nesta festa é a Santíssima Virgem, engana-se. Basta um olhar mais aprofundado no título desta solenidade para compreender-lhe o sentido: o menino há oito dias nascido em Belém, filho de Maria, é o Deus perfeito; Aquele que nasceu de uma mulher, conforme nos disse a Carta aos Gálatas (4,6), é o Filho de Deus, o Verbo de Deus, como ouvimos na Liturgia do dia do Natal: Verbo que era no princípio, que estava com Deus, que era Deus (cf. Jo 1,1). Pois bem, aquela criançinha choramingando no presépio e que hoje, oito dias depois, foi circuncidada e recebeu o nome de Jesus (cf. Lc 2,21), é o Deus bendito por quem foram feitas todas as coisas (cf. Jo 1,3).

A festa de hoje, portanto, proclama o dogma fundamental da nossa fé: a divindade de Cristo, que é, ao mesmo tempo, homem. Este dogma foi proclamado solene e triunfalmente após o Concílio de Éfeso, em 431. Naquela época, a heresia do Nestorianismo, que pregava que em Cristo subsistiam duas pessoas, uma divina e outra humana, estava amplamente difundida. Em decorrência disso, Maria seria mãe da pessoa humana de Cristo, seria apenas Christotokos. Reunidos num Concílio em Éfeso, cidade da Ásia Menor, os bispos da Igreja seguiram a doutrina já apontada por Inácio de Antioquia, Orígenes, Atanásio e João Crisóstomo, dizendo que em Cristo existe apenas uma pessoa divina, na qual subsistem duas naturezas, uma divina e uma humana, as quais, como definirá a seguir o Concílio de Calcedônia (451) estão juntas “sem confusão nem mudança, sem divisão nem separação”. Todo este ensinamento estava incluso no título que se deu à Virgem Maria: Theotokos, Mãe de Deus, já que não se pode separar o Jesus divino do Jesus humano. Dessa forma, Maria é verdadeiramente Mãe de Deus, a segunda Pessoa da Santíssima Trindade, em sua natureza humana.

No sentir da Igreja, no entanto, mais importante do que a maternidade divina de Maria, foi sua fé em Deus. O Senhor Jesus já tinha dito quando uma mulher lhe disse: “Felizes as entranhas que te trouxeram e os seios que te amamentaram!”: “Felizes, antes, os que ouvem a palavra de Deus e a observam” (Lc 11, 27-28). É isso que vemos com clareza em toda a história da anunciação e do nascimento de Jesus: todos aqueles fatos extraordinários geraram em Maria uma mais entranhada fé e confiança em Deus, que nela havia já cumprido as extraordinárias promessas do nascimento miraculoso do Messias e, por isso, ela meditava todos esses fatos em seu coração. Em outras palavras, ela procurava compreender a ação de Deus nos acontecimentos de sua vida, de forma que estivesse melhor preparada para dar as respostas adequadas quando se pusessem os questionamentos que a nossa carne humana, tão débil, nos faz ter nos tempos de crise. Sem dúvida, pela meditação nas palavras e nos acontecimentos extraordinários que viveu, a Virgem Mãe foi crescendo em sua fé em Deus e em seu amor pelo Filho maravilhoso que tinha gerado miraculosamente. Assim, ela é para nós modelo de fé e de escuta da Palavra de Deus; ao contemplar extasiada o fruto bendito de seu ventre reclinado sobre o presépio, ela é também o modelo de perfeita contemplativa para os cristãos, que deveriam, da mesma forma, aprender a contemplar as maravilhas de Deus, sobretudo Aquela grande maravilha deitada no presépio, dormindo o sono profundo e tranquilo dos inocentes.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

A Vós, ó Deus, louvamos

Chegamos ao último dia do ano de 2009. Neste dia agradecemos ao Senhor porque Ele nos sustentou e nos guardou em seus caminhos. Mesmo que tenhamos perambulado longe d'Ele, em sua infinita misericórdia, Ele espera de nós que caiamos em si e voltemos a Ele, como o filho pródigo (cf. Lc 15). Alegramo-nos recordando os bons momentos de 2009; entristecemo-nos lembrando os maus momentos, as dificuldades; estas, no entanto, devem servir de exemplo para nós, para que evitemos os terrenos pantanosos pelos quais nos aventuramos e possamos caminhar por caminho mais firme nesse ano que começa.
Eis um tempo propício, no começo de um novo ano, em meio ao tempo de Natal, para começar uma vida nova. Sobretudo para nós, batizados, é tempo de renovar os propósitos para viver a vida nova em Cristo que já está em nós. Olhemos para frente confiantes: neste ano que se iniciará amanhã, o Senhor continuará nos protegendo e guardando, continuará de braços abertos para nos acolher se pecarmos; neste ano, continuar-se-á a celebrar a Eucaristia, como sempre; continuarão a existir sacerdotes para nos ouvir, aconselhar e perdoar em nome de Cristo; neste ano, mais uma vez, as suas misericórdias se renovarão cada manhã, porque o seu amor é para sempre!
Ergamos os olhos e o coração para o alto e louvemos ao Senhor por este ano que passou com o antiquíssimo hino Te Deum. A Igreja concede Indulgência Plenária a todos os que, reunidos em alguma Igreja, capela ou oratório, cantarem ou rezarem o Te Deum. Deixamos vocês com ele.

Em latim:

Te Deum laudamus: te Dominum confitemur.

Te æternum Patrem omnis terra veneratur.

Tibi omnes Angeli, tibi Cæli, et universæ Potestates: Tibi Cherubim et Seraphim incessabili voce proclamant: Sanctus, Sanctus, Sanctus Dominus Deus Sabaoth.

Pleni sunt cæli et terra majestatis gloriæ tuæ.

Te gloriosus Apostolorum chorus, Te Prophetarum laudabilis numerus, Te Martyrum candidatus laudat exercitus.

Te per orbem terrarum sancta confitetur Ecclesia, Patrem immensæ majestatis: Venerandum tuum verum et unicum Filium: Sanctum quoque Paraclitum Spiritum. Tu Rex gloriæ, Christe.

Tu Patris sempiternus es Filius, Tu, ad liberandum suscepturus hominem, non horruisti Virginis uterum.

Tu, devicto mortis aculeo, aperuisti credentibus regna cælorum. Tu ad dexteram, Dei sedes, in gloria Patris. Iudex crederis esse venturus.

Te ergo quæsumus, tuis famulis subveni, quos pretioso sanguine redemisti.

Æterna fac cum Sanctis tuis in gloria munerari.

Salvum fac populum tuum, Domine, et benedic hereditati tuæ.

Et rege eos, et extolle illos usque in æternum.

Per singulos dies benedicimus te; Et laudamus Nomen tuum in sæculum, et in sæculum sæculi.

Dignare, Domine, die isto sine peccato nos custodire.

Miserere nostri domine, miserere nostri.

Fiat misericordia tua, Domine, super nos, quemadmodum speravimus in te.

In te, Domine, speravi: non confundar in æternum.


Em português:

A Vós, ó Deus, louvamos,
A Vós, Senhor, cantamos.
A Vós, Eterno Pai,
adora toda a terra.

A Vós cantam os anjos,
os céus e seus poderes:
Sois Santo, Santo, Santo,
Senhor, Deus do universo!

Proclamam céus e terra
a vossa Imensa glória.
A Vós celebra o coro
glorioso dos Apóstolos,

Vos louva dos Profetas
a nobre multidão
e o luminoso exército
dos vossos santos Mártires.

A Vós por toda a terra
proclama a Santa Igreja,
ó Pai onipotente,
de imensa majestade,

e adora juntamente
o vosso Filho único,
Deus vivo e verdadeiro,
e ao vosso Santo Espírito

Ó Cristo, Rei da glória,
do Pai eterno Filho,
nascestes duma Virgem,
a fim de nos salvar.

Sofrendo Vós a morte,
da morte triunfastes,
abrindo aos que têm fé
dos céus o reino eterno.

Sentastes à direita
de Deus, do Pai na glória.
Nós cremos que de novo
vireis como juiz.

Portanto, vos pedimos:
salvai os vossos servos,
que Vós, Senhor, remistes
com sangue precioso.

Fazei-nos ser contados,
Senhor, vos suplicamos,
em meio a vosso santos
na vossa eterna glória.

Salvai o vosso povo.
Senhor, abençoai-o.
Regei-nos e guardai-nos
até a vida eterna.

Senhor, em cada dia,
fiéis, vos bendizemos,
louvamos vosso nome
agora e pelo séculos.

Dignai-vos, neste dia,
guardar-nos do pecado.
Senhor, tende piedade
de nós, que a Vós clamamos.

Que desça sobre nós,
Senhor. a vossa graça.
porque em Vós pusemos
a nossa confiança.

Fazei que eu, para sempre,
não seja envergonhado:
Em Vós, Senhor, confio,
sois vós minha esperança!

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Hodie Christus natus est, allluia!

Hódie Christus natus est;

hódie Salvátor appáruit;

hódie in terra canunt ángeli,

lætántur archángeli;

hódie exsúltant iusti, dicéntes:

Glória in excélsis Deo, allelúia.

Hoje o Cristo nasceu,

Hoje apareceu o Salvador;

Hoje na terra os Anjos cantam,

Alegram-se os arcanjos;

Hoje exultam os justos dizendo:

Glória a Deus nas alturas, aleluia.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Pio XII: Servo de Deus!

O Santo Padre Bento XVI reconheceu as virtudes e heróicas de seu Predecessor Pio XII, de veneranda memória. É uma notícia realmente fantástica! Agora, falta pouco para que seja elevado à honra dos altares aquele que – na minha opinião – foi o maior Papa do século XX! Num século de grandes papas – Leão XIII (1878-1903), São Pio X (1903-1914), Bento XV (1914-1922), Pio XI (1922-1939), João XIII (1958-1963), Paulo VI (1963-1978) João Paulo I (1978) e João Paulo II (1978-2005) – o papa Eugenio Pacelli (1939-1958) conduziu a barca de Pedro pelos mares encapelados da mais sanguinolenta guerra de todos os tempos conseguindo, por sua ação e inspiração, salvar centenas de milhares de pessoas e atenuar o sofrimento de outras tantas. Sem Pio XII, o sofrimento humano durante aqueles anos tenebrosos teria sido infinitamente maior. Além de tudo, ele foi um baluarte da ortodoxia da fé e da tradição da Igreja, ao mesmo tempo em que deu os primeiros passos para a renovação tão necessária de alguns pontos da vida da Igreja no Concílio Vaticano II. Há alguns meses fiz um site em sua homenagem, onde publico algo a seu respeito. Ele estava meio parado, mas pretendo voltar a publicá-lo, e se tornará um meio de fazer com que as pessoas o conheçam melhor e compreendam a grande pessoa que foi! Não deixe de visitá-lo! Para tanto, clique aqui: Pastor Angelicus.

sábado, 5 de dezembro de 2009

São João Crisóstomo, bispo e doutor da Igreja

Da obra A Igreja dos Tempos Bárbaros, de Daniel-Rops


Em 26 de fevereiro de 398, na catedral de Constantinopla, havia sido entronizado bispo da capital um homem franzino, de aparência frágil, mas em cujo rosto brilhava a chama de Deus. Chamava-se João e tinha sido sacerdote em Antioquia. No seu país de origem, a Síria, esse homem havia adquirido uma imensa celebridade, tanto pelas suas virtudes, sabedoria e coragem, como pela eloquência dos seus sermões. Durante vinte anos, as multidões se tinham acotovelado para ouvir essa voz maravilhosa que lhes falava, numa linguagem de perfeição clássica, de temas concretos, vivos, dirigidos diretamente ao coração. Certo dia, explodira na cidade um grande motim, e fora somente por sua intervenção que se pudera restabelecer a calma. Chamavam-lhe “João da Boca de Ouro”. E fora precisamente esta celebridade que o fizera subir ao trono episcopal mais cobiçado do Oriente. Para dar brilho a esta sé – depois dos dezesseis anos pouco reluzentes do velho Nectário –, a eleição fora preparada por um verdadeiro partido dentro da corte, formado por um poderoso ministro, o eunuco Eutrópio, pela imperatriz Eudóxia e pelo clã dos burgueses ricos e de todos aqueles cuja intenção última era erigir a Nova Roma em rival da antiga, mesmo no plano cristão. João Crisóstomo foi raptado – literalmente, pois se receava que os fiéis de Antioquia não deixassem sair de lá o seu santo presbítero –, e vi-se sagrado bispo de Constantinopla sem o ter desejado. Este singular golpe do destino haveria, porém, de trazer-lhe mais preocupação do que felicidade.

Aqueles que se gabavam de ter trazido para o seu jogo o novo bispo em breve se desencantaram. João Crisóstomo era justamente o tipo desses cristãos que se recusam a aceitar conchavos. Mal se instalara na sua sé, avaliou imediatamente o valor exato dos autores da peça em que queriam dar-lhe um papel: Arcádio, o imperador, débil filho do grande Teodósio, era um homenzinho mirrado, de pele esverdeada e tez mortiça, dócil instrumento nas mãos rivais da sua mulher e dos seus sucessivos ministros; Eudóxia, uma ambiciosa sedenta de gloríolas; Eutrópio, um indivíduo suspeito, sem moral e de uma vaidade ilimitada; e, por último, nesses fiéis bem situados na vida que tanto haviam aclamado a sua chegada, descobria-se mais jactância do que moral, mais autocomplacência do que fé.

Com uma intransigência serena, sem se preocupar com agradar ou desagradar aos poderosos, João fez aquilo que a sua consciência – e somente a sua consciência – lhe ordenava. Começou por reformar a casa episcopal, desfazendo-se de todo o luxo. Ao contrário de Nectário, que comia sempre fora ou no Palácio, tomava as refeições sozinho e com a maior frugalidade; o clero, que se permitira certas liberdades em matéria de costumes, foi logo chamado à ordem, e os monges, demasiado habituados a perambular pela capital, foram convidados a recolher-se urgentemente às suas celas. Do alto da sede episcopal, o santo fazia ouvir a sua voz todos os domingos e as verdades caíam equitativamente repartidas da sua boca: quer se tratasse de um general godo ou de algum alto funcionário, todos os que o mereciam eram atingidos, porque o bispo fustigava os arianos do exército com a mesma tranquilidade com que verberava a miséria dourada da corte imperial. E o povo, que a princípio vira com frieza a eleição deste bispo trazido da Ásia por uma intriga de palácio, não tardou a amar com fanatismo esse apóstolo dos pobres, esse bispo de inesgotável caridade, esse homem franzino que dizia as verdades aos ricos e que não temia os poderosos.

Um incidente acabou por fixar posições. Eutrópio, o ministro todo-poderoso, caiu em desgraça; a bem dizer, a sua ambição e a sua vaidade haviam-no tornado intolerável para toda a gente, mesmo para Eudóxia, a quem, no entanto, tinha conduzido anos antes ao tálamo do imperador. De combinação com Gainas, o chefe dos aliados godos, a basilissa instigou o fraco marido contra o eunuco. Perseguido, Eutrópio refugiou-se em Santa Sofia, invocando o direito de asilo, um direito que – pormenor irônico – ele próprio tinha querido suprimir quando se encontrava no auge do poder. São João Crisóstomo, sem a menor hesitação, defendeu-o, acolheu-o e protegeu-o. Da mesma forma que tinha criticado livremente os excessos do ministro, empenhou-se agora em salvar o decaído. Na prática, isso não serviu para nada, a não ser para dar um belo testemunho da independência de uma consciência cristã. Pouco tempo depois, Gainas exigiu que o refugiado se entregasse, e o fantoche Arcádio mandou decapitar o seu favorito da véspera, à espera de que também Gainas, algum dia, por sua vez...

A partir desse momento, viraram-se contra Crisóstomo todos os que o tinham trazido para Constantinopla. Aquele que não deveria ser mais do que um político acabara por comportar-se como um cristão. Não era um descalabro? O alto clero, a quem o bispo incomodava na sua vida fácil; os monges que andavam rompidos com os seus conventos; as grandes damas que tinham ouvido, do alto da cátedra episcopal, transparentes alusões aos seus desvios morais acobertados por uma devoção bem apregoada; os pregadores da moda agora eclipsados; os godos arianos furiosos com o apoio dado a Eutrópio; os bispos da Ásia – incluídos alguns prelados certamente apreciadores da boa mesa e humilhados pela sóbria hospitalidade do seu colega de Bizâncio –, que São João Crisóstomo tinha acusado de simonia e obrigara a destituir, todos eles provocaram uma terrível perseguição contra o santo. Eudóxia fazia parte do conluio, desde que algumas boas almas lhe tinham dito que certo sermão sobre Jezabel era com certeza dirigido contra ela. E Arcádio, manejado sem dificuldade pelos que o rodeavam, persuadiu-se de que o santo intrigava contra ele.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Deus, nossa Salvação

“O Senhor Deus eliminará para sempre a morte e enxugará as lágrimas de todas as faces e acabará com a desonra do seu povo em toda a terra; o Senhor o disse” (Is 26,8). O que dizer dessas palavras, o que dizer dessa promessa? O nosso coração se enche de comoção diante do amor misericordioso do nosso Deus, que quer nos salvar, nos livrar do sofrimento, do mal e da morte. Realmente feliz é quem crê nessa promessa do Senhor, porque desde já, na esperança, pode saborear a alegria e a felicidade dos que conhecem a fidelidade arquicomprovada de Deus. De fato, nos diz o Apóstolo: “Isto é para vós a fonte de uma alegria inefável e gloriosa, porque vós estais certos de obter, como preço de vossa fé, a salvação de vossas almas” (1Pd 1,8s). Que poderemos retribuir ao Senhor Deus, por tudo aquilo que Ele fez, faz e fará em nosso favor? (cf. Sl 115,4). Diremos naquele dia e dizemos já, hoje: “Este é o nosso Deus, esperamos nele, até que nos salvou; este é o Senhor, nele temos confiado: vamos alegrar-nos e exultar por nos ter salvo” (Is 26,9).

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Deus age na nossa pequenez

A divina promessa de salvar o povo eleito está alicerçada no mais concreto da história humana. Da família do Rei Davi deveria vir Aquele sobre quem repousaria o Espírito do Senhor. Da descendência de Jessé, pai de Davi, passando por toda a linhagem dos reis de Israel até chegar ao simples carpinteiro José, de Belém, Deus foi tecendo no subterrâneo de nossa vida miúda o seu plano de salvação que haveria de desabrochar como um rebento de uma flor (cf. Is 11,1). Esta é uma realidade concreta e que o cristão deve diariamente esforçar-se para crer e viver: Deus, embora se manifeste maravilhosamente com prodígios e milagres, opera a nossa salvação na pequenez de nosso dia-a-dia. De fato, no dia do julgamento, seremos julgados menos pelos nossos grandes atos do que pela fidelidade cotidiana, no dizer sim a Deus a cada dia, no rejeitar o pecado e o mal que se insinua permissiva e lentamente em nossos corações, no trabalhar duro para comer o pão com o suor do próprio rosto, no dar sempre ações de graças Àquele que nos livra diariamente do mal e que nos sustenta e acaricia como um pai amoroso, dando-nos muito mais do que ousamos pedir. Convençamo-nos, irmãos caríssimos: na nossa atividade habitual, nas nossas pequenas fidelidades diárias, o Senhor vai invadindo o nosso coração como Doce Hóspede da alma e o Reino de Deus vai já se realizando neste mundo. Não precisamos fazer grandes coisas, não precisamos mudar o mundo: apenas precisamos guardar a nossa fidelidade ao Senhor nas pequenas coisas. Este é o caminho que o Senhor nos oferece para sermos felizes.