domingo, 29 de março de 2009

Quando for elevado da terra, atrairei todos a mim - V Domingo da Quaresma

Toda a história da salvação é história da aliança de Deus com seu povo, aliança de amor que continuamente foi renovada na história de Israel. O povo sempre rompia a aliança, corrompendo-se com os deuses estrangeiros, imitando as práticas idolátricas das nações que o cercavam. Como diz o salmo 105: “Muitas vezes ele os libertou, mas eles se obstinavam na sua rebeldia e se arruinaram por causa de suas iniqüidades.” (v.43). E continua: “Contudo ele olhou para sua desgraça, quando escutou suas súplicas. Lembrou-se da sua aliança, teve piedade deles na sua grande bondade, e fê-los achar misericórdia” (v. 44-46). Ele fez isso através da nova aliança selada pelo sangue de seu Filho, conforme este disse na Última Ceia: “Este cálice é a nova aliança no meu sangue. (1Cor 11,25). Através da cruz, onde derramou seu precioso sangue, o qual é tão precioso que por ele fomos resgatados da nossa vã maneira de viver (cf. 1Pd 1,18). Dessa forma, se cumpriu a Palavra que o Senhor dirigiu ao povo por meio do profeta Jeremias: “Eis que virão dias, diz o Senhor, em que concluirei com a casa de Israel e a casa de Judá uma nova aliança (...): imprimirei minha lei em suas entranhas, e hei de escrevê-la em seu coração; serei seu Deus e eles serão o meu povo” (31,31.33).
Aproximando-se o tempo da morte de Jesus, estando Ele pregando no Templo, numa das festas judaicas, o Senhor manifestou o mistério de sua paixão e morte aos seus discípulos, de acordo com o relato do Evangelho de hoje. Essa sua revelação deu-se dentro do contexto da procura de alguns gregos tementes a Deus, que tinham vindo ao Templo adorar e manifestaram a Filipe o desejo de ver Jesus (cf. Jo 12,20-21). Eles estavam no primeiro dos vários pátios do Templo, reservado aqueles que não eram do povo de Israel, mas que simpatizavam com a religião judaica e temiam a Deus. Não podiam aproximar-se de Jesus, que estava num dos pátios mais interiores do Templo. A resposta de Jesus a esse desejo dos pagãos é enigmática: “Chegou a hora em que o Filho do Homem vai ser glorificado. Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele continua só um grão de trigo; mas, se morre, então produz muito fruto.” (Jo 12, 23-24) Ao desejo de ver Jesus, este revela o mistério de sua paixão: se agora aqueles gregos não podem vê-lo por causa das prescrições da Lei, quando Ele for elevado da terra, atrairá todos a Ele (cf. Jo 12,32). Assim, se os pagãos não podem nem sequer entrar nos pátios internos do Templo, depois que o Senhor for elevado na cruz, Ele entrará “no Santuário, não com o sangue de bodes e bezerros, mas com seu próprio sangue, e isto, uma vez por todas, obtendo uma redenção eterna” (Hb 9,12); e, uma vez que Ele entrou no Santuário, isto é, na presença, na intimidade de Deus, também nós podemos ter a santa ousadia de entrar no Santuário pelo sangue de Jesus (cf. Hb 10,19), de sorte que, nossa intimidade com Deus será tão grande que “não será mais necessário ensinar seu próximo ou seu irmão, dizendo: ‘Conhece o Senhor!’ Todos me reconhecerão, do menor ao maior deles, diz o Senhor, pois perdoarei sua maldade, e não mais lembrarei o seu pecado” (Jr 31,34).
Façamos, portanto, nestes últimos dias quaresmais do ano da graça de 2009, nos quais o Senhor nos convida à conversão, conforme nos admoesta o autor da carta aos Hebreus: “Aproximemo-nos, portanto, de coração sincero e cheio de fé, com o coração purificado de toda a má consciência e o corpo lavado com água pura. Continuemos a afirmar a nossa esperança, sem esmorecer, pois aquele que fez a promessa é fiel.” (Hb 10,22-23).

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