quinta-feira, 9 de abril de 2009

Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim - Missa na Ceia do Senhor

Neste primeiro dia do Tríduo Pascal que começa na quinta-feira à tardinha com esta celebração, a Igreja faz memorial da entrega do Senhor, agora de forma incruenta e sacramental, e algumas horas mais tarde, na Nona Hora do dia, de forma cruenta na cruz. Mas é o mesmo sacrifício oferecido; o mesmo sacerdote que oferece; o mesmo altar no qual é oferecido; é Cristo. O que difere é a forma.
“Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que tinha chegado a sua hora, hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim. Foi durante a ceia.” Estas palavras do Evangelho desta missa introduzem-nos no sentido pleno de todo o mistério que celebramos no Sagrado Tríduo da Paixão e Ressurreição do Senhor.
A incrível realidade celebrada nesta Missa é expressa nas palavras da Consagração usadas no Cânon Romano: “Na noite em que ia ser entregue, para padecer pela salvação de todos, isto é, hoje, ele tomou o pão em sua as mãos, elevou os olhos a vós, ó Pai, deu graças e o partiu e deu a seus discípulos dizendo: Tomai todos, e comei: isto é o meu corpo, que será entregue por vós”. Neste hoje entramos, pela força do Espírito Santo, naquela ceia derradeira como se estivéssemos lá realmente. Por isso essa missa se diz “in Cena Domini”, na Ceia do Senhor. Nela, o Senhor Jesus entregou, no meio da ceia pascal judaica, o ritual para que se celebrasse o mistério de sua entrega ao Pai pelos homens e mandou que o celebrasse perpetuamente: “Fazei isto em memória de mim”, e como diz S. Paulo: “De fato, todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, estareis proclamando a morte do Senhor, até que ele venha” (1Cor 11,26).
O Evangelho, soleníssimo, nos relata o gesto de Jesus de lavar os pés dos discípulos. O próprio Senhor explica este gesto: “Se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo, para que façais assim como eu fiz para vós” (Jo 13,14-15). O gesto do lava-pés é, portanto, simbólico: ele serve para ilustrar aos discípulos o mandamento que o Senhor vai dar mais adiante: “Dou-vos um novo mandamento: Amai-vos uns aos outros. Como eu vos tenho amado, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros” (Jo 13,34; cf. 15,12). E “ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos” (Jo 15,13). Assim, a maior prova de amor, o maior serviço, o maior lava-pés de Jesus é sua entrega na cruz. Neste sentido, o diálogo entre o Senhor e Pedro assume um sentido contundente: Pedro não deixar que o Senhor lhe lave os pés é o mesmo que não aceitar a morte de Jesus por ele e, em consequência, não ter parte com o Senhor pela ressurreição e vida nova. Assim, o Senhor faz entender a Pedro que aceitar com fé o sacrifício, o serviço, o lava-pés de Jesus, é condição sem a qual não é possível participar da morte e da ressurreição do Senhor.
Coloquemo-nos com humildade diante do Senhor que foi humilde para conosco, para que Ele, vindo Ressuscitado nesta Páscoa que se aproxima, nos faça participar da sua realeza já agora, nesta vida, e na vida no mundo que virá.

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