sábado, 10 de janeiro de 2009

Ser Cristão: Identificar-se com a cruz de Cristo


E Ele disse: “se alguém me quiser seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e me siga. Pois aquele que quiser salvar a vida vai perdê-la, mas quem perder e vida por amor de mim e pela causa do evangelho há de salvá-la” (Mc 8, 34-35). Mas, Ele disse também: “vinde a mim todos vós, fatigados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre os ombros meu jugo e aprendei e mim, que sou manso e humilde de coração, e achareis descanso para vossas almas. Pois meu jugo é suave e meu peso é leve”. (Mt 11, 28-30).
Ser cristão não significa apenas está enquadrado num sistema puramente moralista, e por isso seco e quase sem vida. Sê-lo requer, sobretudo, a descoberta e a atividade da dimensão mais nobre do ser humano, que o torna ser existente, plenamente homem. Falamos da dimensão espiritual. Esta, intrínseca substancialmente a todo homem, é descoberta quando optamos pela vida de verdade, sem confundi-la com simples ausência da morte. Vida no seu sentido pleno. E só assim estaremos certos de nossa própria existência. Teremos a certeza de estarmos no caminho que Nosso Criador, Príncipio e Fim de tudo, quer que estejamos. E Nosso Senhor disse: “Eu sou o caminho a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim” (Jo 14, 6). Ser cristão, além de ultrapassar a dimensão fisico-moral descobrindo a dimensão espiritual, é buscar, pela amizade com Cristo, a Ele se identificar. Nessa identificação desejamos segui-lo e, seguindo-o, nos deparamos com uma dor nunca vista ou sentida antes, a renúncia a nós mesmos. E isso dói! “E no silêncio da noite ouço meus gritos”. Eis a nossa cruz, eis a nossa dor! Eis a lembrança de Cristo no caminho do calvário! “Eis a identificação da minha agonia na agonia Dele”! “E isso me consola”. Na dor da cruz experimentamos, pela esperança, o sabor da não-dor, da felicidade perfeita e eterna. E isso é bom! E essa esperança, que é dom, é também comunhão na agonia de Cristo, que se esvaziou a si mesmo e se tornou obediente até a morte. Afinal, é na esperança que fomos salvos! Mas, como encontrar o dom da esperança? Por ser um dom ela é inesperada e imerecida. Deve brotar do nada, inteiramente livre. Por isso, para encontrá-la devemos descer ao nada. Segundo o monge cisterciense Thomas Merton, encontramos a esperança de modo mais perfeito quando estamos despojados de nossa autoconfiança, de nossa força, quando praticamente não mais existimos. Buscando a esperança assim, fazemos jus ao que disse Cristo: aquele que quiser salvar a vida vai perdê-la, mas quem perder e vida por amor de mim e pela causa do evangelho há de salvá-la.
Enfim, ser Cristão é se reconhecer e se aceitar como pessoa e, sobretudo, como afirma Merton, acreditar na afirmação mais paradoxal e ao mesmo tempo mais original e característica do cristianismo, de que na ressurreição de Cristo dentre os mortos, o ser humano venceu completamente a morte e que em Cristo os mortos vão ressurgir para gozar a vida eterna. Esta vida nova no reino de Deus não será uma herança recebida apenas de forma passiva, mas será, de certo modo, fruto de nossa agonia e esforço, amor e orações em união com o Espírito Santo. E lembremo-nos sempre: cristianismo sem crença nesta afirmativa escatológica fabulosa não passa de um mero sistema moral cheio de normas, sem grande consistência espiritual.

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