
Se na Nova Aliança se impõe ao cristão a obrigação rigorosa de não ter medo, nem diante de Deus, nem diante do mundo, nem diante de qualquer outro poder que não seja o de Cristo, podemos concluir que também os “fatos” apresentados no que respeita à importância da angústia pela filosofia e a psicologia modernas, caem sob a alçada deste mandamento. É uma afirmação que, à primeira vista, poderá parecer grotesca, e o homem moderno dirá que com uma proibição não se exclui o fato de que a angústia existe.
O cristão pode responder que os “fatos” não anulam a proibição da sua existência. Se é verdade que o medo de estar no mundo, o sentimento de “estar perdido” nele, a angústia do mundo em si, com todos os seus aspectos abissais, reais ou presumidos, o medo da morte e a angústia da culpabilidade talvez obrigatória, estão na raiz da consciência moderna, e que esta angústia é a causa das neuroses modernas; se é verdade que uma moderna filosofia existencialista presume de superar a angústia aceitando-a, mergulhando nela e sofrendo-a resolutamente até o fim – é igualmente verdade, porém, que o Cristianismo não pode senão opor a tudo isto com um “não” radical, categórico. Ao cristão é simplesmente proibido ter medo, ter ligações com ele.
Se não obstante isto, ele é neurótico e existencialista, quer dizer que lhe falta autenticidade cristã, que a sua fé está doente ou é fraca. Porque esta angústia foi proibida por Cristo, o cristão não tem qualquer pretexto para ser tímidos com os tímidos, ainda que com a intenção de se tornar mais semelhante a eles, para melhor os compreender, para os poder aconselhar e remir. “Irmãos, nós somos devedores, mas não da carne, para vivermos segundo a carne” (Rm 8,12); e como poderia alguém com o tornar-se carnal e mundano, ajudar outros a vencer carne e mundo e a superá-los no Espírito? Ainda que a doença da angústia em todos os seus matizes tenha atingido hoje a humanidade, ela pode compreender-se bem, embora não a tenha experimentado em si próprio (o que é proibido), indagando, seja sobre as suas causas, seja sobre os efeitos e sobre as atitudes que delas derivam. Para curar esta doença não é preciso contraí-la, tal como o melhor remédio para um doente é o aspecto e o exemplo de uma pessoa sã. Assim foi nos primeiros tempos do Cristianismo quando os jovens cristãos penetravam, sem se contagiarem, entre os existencialistas da antiguidade em decadência, e davam aos fracos exemplo de uma vida vigorosa, que ia buscar a sua linfa em fontes e reservas completamente diferentes. Isto é válido também para os tempos modernos. E se é verdade que na atual “hora cósmica” é mais difícil aos homens manterem-se livres da angústia e da neurose, só se poderá deduzir daí que a esta geração se exige mais do que às outras e que por isso, provavelmente, há menos cristãos autênticos do que noutras épocas. Menos homens que, com a coragem objetiva da fé e fortalecidos por ela, afrontem a vida, tendo compreendido o que Deus lhes reserva: esta vocação, esta missão cristã, esse atrevimento (sem o qual o homem não alcançará nenhuma meta nobre), esta responsabilidade, esta pureza. É contra tudo isto que se opõe atualmente a angústia neurótica, arruinando tantas vocações cristãs – que exigem sempre um intrépido sim à graça divina – e daí termos de lamentar na Cristandade de hoje a sua morna e insípida mediocridade. Quelle chrétienté rampante: – exclamava o velho Bernanos – le monde regorge d’humilité, sous ses airs d’orgueil, mais d’une humilité pervertie, dégradée, qui n’est plus qu’une forme de lâcheté d’esprit et de coeur (Aquela Cristandade rasteira: o mundo transborda de humildade, sob seus ares de orgulho, mas de uma humildade pervertida, degradada, que não é mais que uma forma de covardia do espírito e do coração). Só um cristão que não se deixe contagiar pela angústia neurótica da humanidade moderna – ainda que esta, tentando transfigurar-se, se considere e se proclame o coração, isto é a parte mais preciosa da existência, e aqueles que não adoram este animal sejam excluídos do comércio entre os iniciados neste medo (Ap 13,7) – tem alguma esperança de poder exercer uma influência cristã sobre o seu tempo. Ele não se desviará orgulhosamente da angústia dos outros homens e dos outros cristãos, mas indicará os caminhos para se livrarem de estéreis tumores e saírem corajosamente para o ar livre da fé. Jamais descerá, porém, a compromissos, nem em teoria nem na prática. Ele será cônscio de que “preocupação” está entre as coisas proibidas pelo Senhor (Mt 6,25), que para o cristão não existe uma fatalidade de culpa, e que a morte perdeu o seu aguilhão por obra de Cristo (1Cor 15,55).
O cristão pode responder que os “fatos” não anulam a proibição da sua existência. Se é verdade que o medo de estar no mundo, o sentimento de “estar perdido” nele, a angústia do mundo em si, com todos os seus aspectos abissais, reais ou presumidos, o medo da morte e a angústia da culpabilidade talvez obrigatória, estão na raiz da consciência moderna, e que esta angústia é a causa das neuroses modernas; se é verdade que uma moderna filosofia existencialista presume de superar a angústia aceitando-a, mergulhando nela e sofrendo-a resolutamente até o fim – é igualmente verdade, porém, que o Cristianismo não pode senão opor a tudo isto com um “não” radical, categórico. Ao cristão é simplesmente proibido ter medo, ter ligações com ele.
Se não obstante isto, ele é neurótico e existencialista, quer dizer que lhe falta autenticidade cristã, que a sua fé está doente ou é fraca. Porque esta angústia foi proibida por Cristo, o cristão não tem qualquer pretexto para ser tímidos com os tímidos, ainda que com a intenção de se tornar mais semelhante a eles, para melhor os compreender, para os poder aconselhar e remir. “Irmãos, nós somos devedores, mas não da carne, para vivermos segundo a carne” (Rm 8,12); e como poderia alguém com o tornar-se carnal e mundano, ajudar outros a vencer carne e mundo e a superá-los no Espírito? Ainda que a doença da angústia em todos os seus matizes tenha atingido hoje a humanidade, ela pode compreender-se bem, embora não a tenha experimentado em si próprio (o que é proibido), indagando, seja sobre as suas causas, seja sobre os efeitos e sobre as atitudes que delas derivam. Para curar esta doença não é preciso contraí-la, tal como o melhor remédio para um doente é o aspecto e o exemplo de uma pessoa sã. Assim foi nos primeiros tempos do Cristianismo quando os jovens cristãos penetravam, sem se contagiarem, entre os existencialistas da antiguidade em decadência, e davam aos fracos exemplo de uma vida vigorosa, que ia buscar a sua linfa em fontes e reservas completamente diferentes. Isto é válido também para os tempos modernos. E se é verdade que na atual “hora cósmica” é mais difícil aos homens manterem-se livres da angústia e da neurose, só se poderá deduzir daí que a esta geração se exige mais do que às outras e que por isso, provavelmente, há menos cristãos autênticos do que noutras épocas. Menos homens que, com a coragem objetiva da fé e fortalecidos por ela, afrontem a vida, tendo compreendido o que Deus lhes reserva: esta vocação, esta missão cristã, esse atrevimento (sem o qual o homem não alcançará nenhuma meta nobre), esta responsabilidade, esta pureza. É contra tudo isto que se opõe atualmente a angústia neurótica, arruinando tantas vocações cristãs – que exigem sempre um intrépido sim à graça divina – e daí termos de lamentar na Cristandade de hoje a sua morna e insípida mediocridade. Quelle chrétienté rampante: – exclamava o velho Bernanos – le monde regorge d’humilité, sous ses airs d’orgueil, mais d’une humilité pervertie, dégradée, qui n’est plus qu’une forme de lâcheté d’esprit et de coeur (Aquela Cristandade rasteira: o mundo transborda de humildade, sob seus ares de orgulho, mas de uma humildade pervertida, degradada, que não é mais que uma forma de covardia do espírito e do coração). Só um cristão que não se deixe contagiar pela angústia neurótica da humanidade moderna – ainda que esta, tentando transfigurar-se, se considere e se proclame o coração, isto é a parte mais preciosa da existência, e aqueles que não adoram este animal sejam excluídos do comércio entre os iniciados neste medo (Ap 13,7) – tem alguma esperança de poder exercer uma influência cristã sobre o seu tempo. Ele não se desviará orgulhosamente da angústia dos outros homens e dos outros cristãos, mas indicará os caminhos para se livrarem de estéreis tumores e saírem corajosamente para o ar livre da fé. Jamais descerá, porém, a compromissos, nem em teoria nem na prática. Ele será cônscio de que “preocupação” está entre as coisas proibidas pelo Senhor (Mt 6,25), que para o cristão não existe uma fatalidade de culpa, e que a morte perdeu o seu aguilhão por obra de Cristo (1Cor 15,55).
Nenhum comentário:
Postar um comentário