terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

É preciso ser como crianças



É notória no Evangelho a predileção de Jesus pelas crianças (cf. Mc 10,13-16; Mt 19,13-15; Lc 18, 15-17). Ele as recebe, as abençoa e manda seus discípulos serem semelhantes a elas. No entanto, essa preferência de Jesus não se trata de uma atitude de bom moço, nem de alguém politicamente correto. Sim, porque é politicamente correto gostar de crianças. Só alguém de coração muito duro não se comove diante delas.
Mas, assim como outra categoria bíblica, o pobre, criança no evangelho não aponta para o ser criança, mas orienta para a situação do ser criança.
No salmo 130, 2 o salmista diz que fez a sua alma sossegar e calar como uma criança bem tranqüila e amamentada no regaço acolhedor de sua mãe. E, nesse contexto, o salmista convida Israel a confiar no Senhor. Não se trata de um comportamento regressivo, infantil; isso seria imbecilidade. Trata-se de confiar. Assim como a situação da criança, cuja fragilidade e dependência, leva confiar e encontrar paz no colo de sua mãe, assim deve ser a atitude de Israel: encontra em Deus o seu repouso, entregando-se confiantemente Nele.
É nesse contexto bíblico que Cristo fala a respeito das crianças. Somente entende a radicalidade de sua mensagem quem se fizer como elas, na sua situação concreta; quem recebê-lo na atitude da criança no regaço acolhedor de sua mãe.
Observe-se ainda que não se trata de se fazer como crianças, porque as crianças são boazinhas ou puras. As crianças não são imaculadas, elas já trazem as marcas do pecado. Basta olhar para o desenvolvimento humano delas, e já se vê a presença da inveja, do ciúme, da mentira. Trata-se de fazer a experiência da confiança filial das crianças na vida espiritual.
As categorias bíblicas são sempre categorias concretas. A Escritura desconhece o viés abstrato da filosofia, assim como desconhece qualquer viés ideológico nas suas categorias. Quando fala do pobre e da criança, por exemplo, não quer dizer que serão melhores no acolhimento e na vivência de sua Palavra quem for miserável economicamente e quem regredir para ser como criança.
Pobre e criança são situações que colocam o homem numa situação mais dócil e de dependência em relação aos outros. É assim que o Pai espera que seus filhos recebam e acolham o reino que se manifesta no seu Filho Jesus: com docilidade e em atitude de humilde confiança e dependência. E ninguém simboliza melhor isso do que as crianças. Um cristão adulto, orgulhoso e auto-suficiente, não imita o Senhor Jesus, que se humilhou e confiou no Pai até a morte, e morte de cruz.

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