quinta-feira, 28 de maio de 2009

No próximo domingo, 31 de maio, celebraremos a solenidade de Pentecostes, encerrando, assim, o Tempo Pascal. O mistério celebrado é a vinda do Espírito Santo, como Dom dado à Igreja.
A festa de Pentecostes era, para povo da Antiga Aliança, a festa da entrega da Lei, celebrada cinqüenta dias após a Páscoa. Essa festa coincidia também com o início das colheitas. Por isso Pentecostes também era identificada como festa das primícias. Para nós cristãos, a vinda do Espírito no contexto dessa festa judaica possui um significado profundíssimo: O Espírito Santo é o verdadeiro Dom vindo do alto, o fruto verdadeiro e bendito colhido da Páscoa do Senhor.
É exatamamente essa a novidade do cristianismo: pelo Espírito Santo, infundido em nós, a vida de Deus nos é interior. Pelo Espírito, partilhamos a mesma vida do Filho de Deus, Jesus Cristo; por isso também somos filhos adotivos. A fé cristã não se trata de um seguimento de regras externas. O Espírito é derramado sobre cada um de nós, assumindo a nossa forma, transfigurando aquilo que somos, não para nos despersonalizar, mas para fazer resplandecer aquilo que há de mais humano em nós. Á medida que o Espírito nos diviniza, Ele nos humaniza. Não se trata do Espírito agir em nós como numa possessão, mas Ele gera em nós uma obra nova, a vida da Graça, de tal forma que somos nós mesmos e ao mesmo tempo somos tão parecidos com o próprio Cristo. Sim, porque a missão do Espírito não é outra senão a de plasmar, modelar em nós os traços de Jesus Cristo. A fé cristã é, portanto, vida na interioridade do Espírito Santo.
E, no entanto, quanta pobreza na celebração de Pentecostes! Na verdade, grande parte dos cristãos não sabe e não conhece a riqueza da missão do Espírito, a não a de iluminar a vida, quando esta parece difícil. A Terceira Pessoa da Trindade é quase um adendo na história da salvação para a experiência religiosa do Ocidente. O Espírito não passa de uma força que impulsiona a missão da Igreja, Aquele dos setes dons. Quanto prejuízo para a fé! A fé trinitária, incluída aí a personalidade do Espírito, não passa de um teorema frio e distante para muitos católicos latinos. Enfatizamos por demais a unicidade de Deus, em detrimento das pessoas, quase que o identificando com o motor imóvel aristotélico. Um deus assim não corresponde à novidade da mensagem evangélica.
É evidente que tal compreensão da Trindade, e, consequentemente, da ação do Espírito, trouxe prejuízos à vida litúrgica, moral e espiritual para a Igreja latina: ser cristão se reduz, tratando-se de um “jesuísmo” sem vida, um ascetismo próximo ao pelagianismo; celebrar é liturgia é cumprir rubricas, e não celebrar a epifania do Espírito que torna presente o mistério pascal de Cristo; e a espiritualidade é simplesmente viver virtudes abstratas.
O Deus revelado nas Escrituras, da Tradição viva da Igreja, como ao Oriente e ao Ocidente, por outro, lado, nada tem a ver com frieza, solidão, distância. Ele é essencialmente relação de pessoas. O Pai, desde de toda a eternidade, nos criou para que, através do Seu Filho Jesus, pudéssemos comungar de sua vida divina. E isso tornou-se possível porque Cristo nos deu o Espírito Santo. Por isso, desde o Batismo, já participamos da vida de Deus. E cada sacramento esse Espírito vem ao nosso encontro para torna cada momento de nossa vida prenhe do amor de Deus.
Celebremos Pentecostes, o fruto a Páscoa do Senhor, o Doce e Suave Espírito Santo. Ele é a seiva que dá a vida a nós, ramos da Verdadeira Videira, Jesus Cristo, cujo agricultor é o Pai do Céu. O Pentecostes aconteceu historicamente há mais ou menos dois mil anos, e continua a acontecer em cada sacramento, principalmente Eucaristia, quando o Espírito é invocado e transfigura as espécies eucarísticas no Corpo e Sangue do Senhor, fazendo Cristo mais íntimo de nós do que nós mesmos.

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