
Neste quinto Domingo da Páscoa, a Sagrada Liturgia nos faz contemplar o céu, destino de todos os santos, e o caminho para se chegar até ele.
Céu, o que significa esta palavra tão enigmática, a que realidades ela se refere? Seria uma realidade puramente física, material, seria o céu aquilo que vemos ao olhar para o alto, lugar onde ficam as estrelas e os elementos espaciais? O astronauta russo Yuri Gagarin, primeiro homem a chegar ao espaço sideral, disse: “Fui ao céu e não vi Deus”. Não, não é, definitivamente, a primeira coisa que nos vêm à mente quando falamos de céu. A primeira delas é Deus. Não é a Ele que nos referimos quando falamos às crianças sobre o “Papai do céu”? De fato. Na consciente coletivo, a palavra céu está ligada diretamente a Deus e às realidades divinas. O céu, assim nos foi ensinado, é o lugar para onde vão as almas justas após a morte – enquanto as más vão para o inferno. No entanto, quando falamos de céu, efetivamente, a que nos referimos? A segunda leitura, do Livro do Apocalipse, nos mostra esta realidade de forma belíssima: em primeiro lugar, após a consumação dos séculos e o julgamento escatológico, o mundo será inteiramente renovado: “Um céu novo e uma nova terra” (Ap 21,1), conforme diz o Senhor: “Eis que eu faço novas todas as coisas” (Ap 21,5). Neste mundo renovado, o mar, símbolo da violência, do pecado e do mal, já não existirá; assim como o Mar Vermelho foi aberto para que o povo santo de Deus rumasse para a libertação, assim o mar do mundo, no fim dos tempos, será definitivamente varrido da face da terra, para que o povo eleito, o povo santo de Deus, passe, triunfante, vitorioso, para a Terra Prometida e definitiva que é Deus mesmo. Eis aqui, o céu: o povo eleito de Deus habitando junto com Ele, o Deus conosco, o “‘Deus-com-eles’ [que] será o seu Deus. Ele enxugará toda lágrima dos seus olhos, pois nunca mais haverá morte, nem luto, nem clamor, e nem dor haverá mais. Sim! As coisas antigas se foram!” (Ap 21,3-4). Que palavras consoladoras! Tudo pelo que o nosso coração almeja será dado de presente àqueles que guardarem a Palavra fielmente até o fim e alvejarem suas vestes no sangue do Cordeiro imaculado, que tira o pecado do mundo (cf. Ap. 7,14; Jo 1, 29).
Mas há uma outra coisa importante: o “lugar” dessa salvação de Deus, o “lugar” no qual Deus habita junto de seu povo é a Jerusalém Celeste, a Cidade Santa, que desce do céu de junto de Deus, pronta como uma esposa que se enfeitou para o marido (cf. Ap. 21,2). Esta Jerusalém Celeste é a Igreja, Una, Santa, Católica e Apostólica, o novo Povo de Deus, Povo da Nova e Eterna Aliança firmada no sangue de Cristo, do qual ela se alimenta cotidianamente na Eucaristia e que será, para ela, penhor da salvação futura.
O que fazer, pois, para ganhar a salvação, o que fazer para participar do banquete das núpcias do Cordeiro, o que fazer para tornar-se cidadão da Cidade Santa? O Senhor Jesus nos diz no Evangelho de hoje, em seu discurso de despedida após a Última Ceia, ao dar a seus discípulos o seu novo mandamento: “Que vos ameis uns aos outros. Como eu vos amei, amai-vos também uns aos outros.” (Jo 13,34). É novo este mandamento? Já não existia na Lei Antiga, quando se dizia: “Amarás o Senhor teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, com toda a tua força e de todo o teu entendimento; e ao teu próximo como a ti mesmo” (Lc 10,27; cf. Dt 6,5; Lv 19,18)? Não: a medida do amor ao próximo, que na Antiga Lei era o amor a si mesmo, é mudada: a medida agora é o amor de Cristo. E o amor de Cristo foi a sua entrega total ao serviço da humanidade, desde sua Bendita Encarnação, passando por toda a sua existência humana, e culminando com a sua Paixão, Morte e Ressurreição. Sim, a medida é outra, o amor é muito mais exigente! O Senhor dirá mais adiante: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15,13). É preciso que meditemos profundamente sobre esta realidade: será que estamos amando, por Cristo, ao nosso próximo, independentemente de quem ele seja? É grave a palavra do Senhor: “Nisto reconhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns pelos outros”. Por que será que muitos se escandalizam com os cristãos e não creem por causa deles? Não será porque nós não nos amamos e, ao contrário, estamos em constante contenda uns com os outros? Não foi à toa que o Evangelista João destacou um capítulo inteiro, o décimo sétimo de seu Evangelho, para a oração sacerdotal de Jesus, que implorava do Pai a unidade para seus irmãos: “Não rogo somente por eles, mas pelos que, por meio de sua palavra, crerão em mim: a fim de que todos sejam um. Como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, que eles estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste.” (Jo 17,20-21) Portanto, “amados, amemo-nos uns aos outros, pois o amor vem de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece a Deus”, porque “Deus é amor: aquele que permanece no amor permanece em Deus e Deus permanece nele” (1Jo 4,7.16), assim Deus se torna “Deus-conosco”.
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