sexta-feira, 14 de novembro de 2008

O sacerdócio: o céu na terra


Das Homilias de S. João Crisóstomo, bispo e doutor da Igreja


O sacerdócio se exerce sobre a terra, mas seu lugar está entre as coisas do céu. E com razão. Não foi homem, anjo, arcanjo, ou qualquer outra potência criada, foi o próprio divino Paráclito que assim dispôs: que seres ainda permanecendo na carne exercessem esse ministério de anjos. Seria preciso que o sacerdote fosse tão puro como se estivesse no céu, colocado entre os anjos. Recorde-se a majestade das cerimônias no sacerdócio hebraico, o temor reverencial, o santo terror que inspirava todo aquele conjunto de campainhas de ouro, romãs de púrpura, pedras preciosas a brilharem sobre o peito e espáduas do sumo sacerdote, sua mitra, sua diadema, a longa túnica, a lâmina de ouro enfim o Santo dos santos e o silêncio profundo que lá havia. Todas essas exterioridades eram poucas em comparação aos mistérios da lei da graça, e o apóstolo disse justamente que o brilho do primeiro sacerdócio nada era ao da glória supereminente do segundo (2Cor 3, 10).
Realmente, quando vês o Senhor imolado sobre o altar, e o sacerdote a inclinar-se sobre a vítima, em profunda oração, e os circunstantes com os lábios enrubescidos pelo precioso sangue, pensas ainda estar ainda entre os homens e sobre a terra? Não te parece antes teres sido transportados subitamente pelo céu e ali, banido os pensamentos carnais, contemplares com a alma pura as coisas celestes? Ó prodígio! Ó bondade de Deus! Aquele que se assenta junto ao Pai, nesse momento se deixa segurar pelas mãos dos circunstantes e se doa aos que desejam recebê-lo e abraçá-lo. Eis o que percebem os olhos da fé! Tais grandezas acaso te parecem dignas de desprezo ou aptas para revoltar nosso orgulho?
Será preciso apelar para comparação com outro prodígio para se demonstrar a excelência de nossos santos mistérios? Imagina o profeta Elias, cercado de imensa multidão, no momento em que estendia vítimas sobre as pedras do altar. Os assistentes ali estão imóveis e no maior silêncio. Só o profeta fala, e para orar. Súbito desce fogo de céu e abrasa a vítima. Que cena admirável, própria para extasiar a alma!
Volta os olhos agora para os nossos altares e verás um prodígio ainda maior. Lá também o sacerdote está de pé. Invocando sobre a terra, não o fogo extinguível, mas o Espírito Santo. Se ficas algum tempo em oração, não é para pedir que uma chama desça do céu e devore a vítima, mas para que a graça, descendo sobre a vítima, abrase através dela almas ali presentes, tornando-as mais puras e mais refulgentes que a prata ao fulgor do sol. Quem, portanto, sem ser insensato ou pobre de espírito, desprezará tais mistérios terríveis?
E o ardor desse fogo espiritual – não o ignoras – jamais haveria alma humana capaz de o suportar: ela seria aniquilada se a graça divina não a viesse socorrer.
Jesus Cristo se humilha nas mãos dos sacerdotes; as mãos do sacerdote são como o útero da Virgem Maria que gera para o mundo o Filho de Deus.

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