terça-feira, 16 de novembro de 2010

Efeitos morais e materiais da verdadeira paz


Da encíclica Ubi Arcano, de Pio XI, papa (1922)
À paz de Cristo que, filha da caridade, reside no mais íntimo da alma, é aplicável a palavra de São Paulo sobre o reino de Deus, porque é precisamente pela caridade que Deus reina nas almas: “O reino de Deus não é comida nem bebida” (Rm 14,17). Por outras palavras, a paz de Cristo não se alimenta de bens perecíveis, e sim das realidades espirituais e eternas cuja excelência e superioridade o mesmo Cristo revelou ao mundo e não cessou de mostrar aos homens. Neste sentido é que ele dizia: “Que aproveita ao homem ganhar o universo se vier a perder a alma? Ou que dará ele pelo resgate dela?” (Mt 16,26). Desta maneira indicou ainda a perseverança e firmeza de que deve estar animado o cristão. “Não temais aqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma; temei antes aquele que pode perder o corpo e a alma na geena” (Mt 10,28; Lc 12,14).
Para gozar desta paz não é necessário renunciar aos bens desta vida: pelo contrário, Jesus Cristo promete-os em abundância: “Buscai primeiro o reino de Deus e sua justiça, e todos estes bens vos serão dados por acréscimo” (Lc 6,33; 12,31). Na verdade, “a paz de Deus ultrapassa todo o sentimento” (Fl 4,7) e é precisamente por isto que ela domina os apetites cegos e evita as discussões e discórdias que a sede de riquezas produz.
Se a virtude refreia as ambições e as realidades do espírito recobram a consideração que merecem, obter-se-á naturalmente este feliz resultado: a paz cristã assegurará a integridade dos costumes, e a dignidade da pessoa humana, resgatada pelo sangue de Cristo e adaptada pelo Pai celeste, consagrada pelos laços fraternais que a unem a Cristo, tornada pelas orações e pelos sacramentos participante da graça e da natureza divinas, na esperança de que, como recompensa de uma vida santa, goze ternamente a posse da glória eterna.
(n. 27-29)

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