Da Encíclica Ecclesia de Eucharistia,
do Bem-Aventurado João Paulo II, papa (n. 48)
Tal
como a mulher da unção de Betânia, a Igreja não temeu
« desperdiçar », investindo o melhor dos seus recursos para
exprimir o seu enlevo e adoração diante do dom incomensurável da Eucaristia.
À semelhança dos primeiros discípulos encarregados de preparar a « grande
sala », ela sentiu-se impelida, ao longo dos séculos e no alternar-se das
culturas, a celebrar a Eucaristia num ambiente digno de tão grande mistério.
Foi sob o impulso das palavras e gestos de Jesus, desenvolvendo a herança
ritual do judaísmo, que nasceu a liturgia cristã. Porventura haverá algo
que seja capaz de exprimir de forma devida o acolhimento do dom que o Esposo
divino continuamente faz de Si mesmo à Igreja-Esposa, colocando ao alcance das
sucessivas gerações de crentes o sacrifício que ofereceu uma vez por todas na
cruz e tornando-Se alimento para todos os fiéis? Se a ideia do
« banquete » inspira familiaridade, a Igreja nunca cedeu à tentação
de banalizar esta « intimidade » com o seu Esposo, recordando-se que
Ele é também o seu Senhor e que, embora « banquete », permanece
sempre um banquete sacrificial, assinalado com o sangue derramado no Gólgota.
O Banquete eucarístico é verdadeiramente banquete « sagrado »,
onde, na simplicidade dos sinais, se esconde o abismo da santidade de Deus: O
Sacrum convivium, in quo Christus sumitur! - « Ó Sagrado Banquete, em
que se recebe Cristo! » O pão que é repartido nos nossos altares,
oferecido à nossa condição de viandantes pelas estradas do mundo, é « panis
angelorum », pão dos anjos, do qual só é possível abeirar-se com a
humildade do centurião do Evangelho: « Senhor, eu não sou digno que entres
debaixo do meu tecto » (Mt 8, 8; Lc 6, 6).
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