Carta Encíclica QUAS PRIMAS,
Instituição da festa de Jesus Cristo rei.
Aos veneráveis irmãos Patriarcas, Primazes,
Arcebispos e todos os bispos do orbe católico
em paz e comunhão com a Sé Apostólica.
11 de dezembro de 1925: AAS 17(1925), pp. 593-610.
INTRODUÇÃO
1. Na primeira encíclica, que no início do nosso pontificado, dirigimos a todos os bispos do orbe católico – enquanto procurávamos individuar as causas principais das calamidades pelas quais víamos oprimido e angustiado o gênero humano – proclamamos claramente que esta abundância de males invadiram a terra porque a maioria dos homens tinha-se afastado de Jesus Cristo e de sua lei santíssima, tanto na sua vida e costumes, como na família e no governo do Estado. E também que nunca resplandeceria uma esperança certa de paz verdadeira entre os povos enquanto os homens e as nações negassem e recusassem o império do nosso Salvador. Portanto, como admoestamos que era necessário procurar a paz de Cristo no reino de Cristo, assim anunciamos que teríamos feito para isso tudo o que nos era possível; no Reino de Cristo – digamos – porque nos parecia que não se possa mais eficazmente tender à restauração e ao fortalecimento da paz, do que por meio da restauração do reino de Nosso Senhor. Entretanto não deixou de nos infundir firme esperança de tempos melhores a atitude favorável dos povos para com Cristo e sua igreja, a única que os pode salvar; o movimento pelo qual se podia prever que muitos que tinham desprezado o reino de Cristo e se tinham quase que tornado exilados da casa do Pai, se preparavam e até se apressavam a retomar os caminhos da obediência.
“O ano santo e o Reino de Cristo”
2. E tudo o que aconteceu e que se fez, no transcurso deste ano santo, certamente digno de memória perpétua, por acaso não redundou em honra e glória ao divino Fundador da Igreja, nosso supremo Rei e Senhor? Com efeito, a Mostra missionária vaticana quanto não atingiu a mente e o coração dos homens, quer fazendo conhecer o diuturno trabalho da Igreja pela maior dilatação do reino do seu esposo nos continentes e nas ilhas mais longínquas do oceano; quer o grande número de regiões conquistadas para o catolicismo com o suor e o sangue de missionários fortíssimos e invictos; quer finalmente fazendo conhecer quanto vastas regiões ainda existam a ser submetidas ao império suave e salutar do nosso rei. E aquelas multidões que, durante este ano jubilar, vieram de toda parte da terra à cidade santa, sob a guia dos seus bispos e sacerdotes, outra coisa não tinham no coração, purificadas as suas almas, a não ser proclamar-se junto ao túmulo dos apóstolos, e diante de nós, súditos fiéis de Cristo para o presente e para o futuro? E este reino de Cristo pareceu como que impregnado de nova luz quando nós, provada a virtude heroica de seis confessores e virgens, elevamo-los às honras dos altares. E qual alegria e qual o conforto experimentamos no ânimo quando, no esplendor da Basílica Vaticana, promulgado o decreto solene, uma multidão sem-número, levantando o cântico de agradecimento exclamou: “Tu és o rei da glória, o Cristo!” Com efeito, enquanto os homens e as nações, afastados de Deus, pelo ódio recíproco e pelas discórdias internas caminham para a ruína e a morte, a Igreja de Deus, continuando a oferecer ao gênero humano o alimento da vida espiritual, cria e forma gerações de santos e de santas a Jesus Cristo, o qual não cessa de chamar à felicidade do reino celeste aqueles que teve como súditos fiéis e obedientes no reino terreno. Além disso, recorrendo, durante o ano jubilar, o XVI século da celebração do Concílio de Niceia, quisemos que o acontecimento centenário fosse comemorado, e nós próprios o comemoramos na Basílica Vaticana com tanto mais boa mente enquanto aquele sagrado sínodo definiu e propôs como dogma a consubstancialidade do Unigênito com o Pai e ao mesmo tempo, inserindo no símbolo a fórmula “E o seu reino não terá fim”, proclamou a dignidade régia de Cristo.
3. Tendo, portanto, este ano santo concorrido não somente de uma, mas de várias maneiras, para ilustrar o reino de Cristo, parece-nos fazer coisa tanto mais consentânea com o nosso ofício apostólico, se, secundando os pedidos de muitíssimos cardeais, bispos e fiéis, feitos a nós, quer individualmente, quer coletivamente, fecharemos este mesmo ano introduzindo na sagrada liturgia uma festa especial a Jesus Cristo rei. Esse assunto nos oferece tanta alegria que nos leva, veneráveis irmãos, a dizer algo sobre ele; e em seguida vós procurareis adaptar o que nós diremos sobre o culto a Jesus Cristo rei à inteligência do povo e explicar o seu sentido de forma que desta solenidade anual derivem sempre mais copiosos os frutos.
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