Por Henrique Nogueira de Albuquerque
Os livros de história que tratam do mais catastrófico evento do século XX, a Segunda Guerra Mundial, dificilmente falam do envolvimento da Igreja no conflito e, quando falam, é para criticar a postura da Igreja de não condenação explícita do Holocausto nazista. Na verdade, isto não é de se surpreender, visto que a semi-onipresente ideologia esquerdista que forma os nossos historiadores se incomoda com uma Igreja que desde sempre condenou o comunismo ateu e não admitiria que fossem escritas em seu favor páginas gloriosas sobre luta contra o nazismo, da qual só os comunistas podem ter o monopólio.
Mas a verdade histórica é bem diversa e o provam os documentos e testemunhos. A Igreja católica de Pio XII não tem do que se envergonhar, mas do que se orgulhar por ter sido a campeã na luta pela liberdade e pela salvação dos povos oprimidos da Europa e do mundo.
Pio XII, nascido Eugenio Pacelli, foi treinado desde a juventude para ser um hábil diplomata. Formado em princípios cristãos vigorosos, ele nunca tergiversou com a iniquidade nem com o compromisso fácil, mas sabia negociar sutilmente, mesmo com o diabo, para salvar tantas vidas quantas pudesse, a começar pelos mais de 500 milhões de católicos dos quais era líder espiritual. Foi assim que ele, mesmo antes de ser eleito papa, negociou uma Concordata com o recém-criado Terceiro Reich para salvaguardar os direitos dos católicos alemães, com os quais Hitler não podia se indispor totalmente. Atribui-se em grande parte a ele a duríssima encíclica Mit brenneder Sorge, na qual o papa Pio XI condena sem rodeios as doutrinas nazistas e que foi contrabandeada ilegalmente para dentro da Alemanha, escondida até dentro de sacrários e lida publicamente, para estupefação geral, nos púlpitos lotados de todas as igrejas alemãs.
Uma vez eleito papa, Pacelli (não por acaso, o seu nome significa “paz do céu”, “pax caeli”) envidou todos os esforços na tentativa de evitar o conflito iminente e manter a paz. Mas quando Hitler invadiu a Polônia em 1º de setembro de 1939, dando início à Segunda Guerra Mundial, o papa apressou-se em socorrer os desgraçados poloneses e fez o mesmo com os holandeses, belgas, franceses e todos os povos oprimidos, sem descuidar, entretanto, dos católicos nos países agressores. Suas iniciativas para impedir a Itália de entrar na Guerra do lado da Alemanha postergaram esta entrada até junho de 1940; depois disso, o Pontífice não perdia qualquer ocasião para exortar e até suplicar aos Aliados que poupassem Roma, a capital da Cristandade, dos bombardeios. Mesmo assim, Roma foi vítima de um bombardeio em 19 de julho de 1943 que causou a morte de 500 pessoas. Pio XII apressou-se em ir para o local a fim de consolar os infelizes romanos.
Foi Pio XII o responsável pela relativa calmaria da ocupação alemã de Roma. Sua ação direta e sua ameaça de denúncia impediram a deportação da maioria dos judeus romanos: apenas um oitavo destes foi deportado para os campos de morte na Polônia. Suas negociações com as forças de ocupação, frequentemente tensas, ajudaram a salvar Roma dos combates armados: os alemães aceitaram retirar-se da cidade sem nenhum incidente, e os Aliados entraram nela sem alvoroço. O povo acorreu, então, pressuroso, homenagear o homem a quem atribuíam a salvação de Roma, o papa Pacelli, chamado defensor civitatis.
Pio XII envolveu-se grandemente na salvação dos perseguidos pelos regimes nazista e fascista, inclusive os judeus. Embora não pudesse ter feito uma condenação inequívoca da perseguição judaica, o que teria piorado a situação (como prova o caso do protesto dos bispos holandeses que, longe de sanar a situação, contribuiu para o seu agravamento) e também porque não sabia da enormidade catastrófica da matança dos judeus (nem os Aliados sabiam e do que sabiam duvidavam), ele empenhou-se em salvar da morte e da deportação todos os judeus que pôde; a ação direta ou inspirada por ele em toda a Europa para salvar os judeus é amplamente documentada e testemunhada por muitos destes mesmos judeus. Atribui-se ao papa a salvação de, pelo menos, 860 mil judeus, mais do que todas as organizações de socorro juntas.
Diante dos fatos da história, a lenda negra suscitada tardiamente pelo teatrólogo alemão Rolf Hochhut em 1963 e aumentada pelo escritor britânico John Cornwell que apresenta Pio XII como “O Papa de Hitler”, simplesmente carece de fundamento histórico e constitui-se claramente como uma peça de propaganda ideológica anticatólica. Como poderia “O Papa de Hitler” se envolver numa conspiração para assassinar Hitler, como fez Pio XII no começo de 1940? E como poderia Hitler chamar o “Seu Papa” de “antinazista e amigo dos judeus”, e intentar sequestrá-lo, como revelou o general SS Karl Wolff e que está amplamente documentado no livro do escritor americano Dan Kurzman, Conspiração contra o Vaticano? De fato, apenas a ideologia cega pode querer fazer ainda enxergar o papa Pacelli, o maior pontífice do século XX, pelo avesso da história.
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