CONGREGAÇÃO PARA O CLERO
A IDENTIDADE MISSIONÁRIA DO PRESBÍTERO NA IGREJA COMO DIMENSÃO INTRÍNSECA DO EXERCÍCIO DOS TRIA MUNERA
Carta Circular
Introdução
Ecclesia peregrinans natura sua missionaria est.
« A Igreja peregrina é, por sua natureza, missionária, visto que tem a sua origem, segundo o desígnio de Deus Pai, na «missão» do Filho e do Espírito Santo ». [1]
O Concílio Ecumênico Vaticano II, no fluxo ininterrupto da Tra- dição, é bem explícito na afirmação da missionariedade intrínseca da Igreja. A Igreja não existe por si e para si mesma: sua origem está nas missões do Filho e do Espírito; a Igreja é chamada, por sua natureza, a sair de si mesma dirigindo-se ao mundo, para ser sinal do Emanuel, do Verbo que se fez carne, do Deus-conosco.
Do ponto de vista teológico, a missionariedade está inserida em cada uma das notas da Igreja, sendo particularmente representada pela catolicidade e pela apostolicidade. Como cumprir fielmente a tarefa de sermos apóstolos, testemunhas fiéis do Senhor, anunciadores da Pa- lavra e administradores humildes e seguros da graça, senão mediante a missão, entendida como verdadeiro e próprio fator constitutivo do ser Igreja?
Além disso, a missão da Igreja é a que ela recebeu de Jesus Cristo, por meio do dom do Espírito Santo. Tal missão é única e está confiada a todos os membros do povo de Deus, que se tornam participantes do sacerdócio de Cristo mediante os sacramentos da iniciação, com a finalidade de oferecer a Deus um sacrifício espiritual e testemunhar Cristo diante dos homens. Essa missão se estende a todos os homens, a todas as culturas, a todos os lugares e a todos os tempos. A uma única missão corresponde um único sacerdócio: o de Cristo, do qual participam todos os membros do povo de Deus, embora de maneira efetivamente diferente, e não apenas em grau diverso.
Nessa missão, certamente, os presbíteros, enquanto colaboradores mais preciosos dos Bispos, sucessores dos Apóstolos, têm um papel central e absolutamente insubstituível, que lhes é confiado pela providência de Deus.
1. Consciência eclesial da necessidade de um renovado empenho missionário

Para realizar essa missão, a Igreja recebe o Espírito Santo, enviado pelo Pai e pelo Filho no dia de Pentecostes. O Espírito que desceu sobre os Apóstolos é o Espírito de Jesus: leva a reproduzir os gestos de Jesus, a anunciar a palavra de Jesus (cf. At 4,30), a repetir a oração de Jesus (cf. At 7,59s; Lc 23,34.46), a perpetuar, na fração do pão, o agradecimento e o sacrifício de Jesus e conserva a unidade entre os irmãos (cf. At 2,42; 4,32). O Espírito Santo confirma e manifesta a comunhão dos discípulos como nova criação, como comunidade de salvação escatológica, e envia em missão: « Sereis minhas testemunhas [...] até os confins da terra » (At 1,8). O Espírito Santo impele a Igreja nascente à missão no mundo inteiro, demonstrando, dessa forma, que ele é derramado sobre « toda carne » (cf. At 2,17).
Nos dias de hoje, vistas as condições novas da presença e atividade da Igreja no panorama mundial, renova-se a urgência missionária, não apenas ad gentes, mas dentro do próprio rebanho, já constituído, da Igreja.
Nas últimas décadas, o magistério petrino expressou com autoridade e tons cada vez mais fortes e decididos a urgência de um renova- do esforço missionário. Basta pensar na Evangelii nuntiandi, de Paulo VI, ou na Redemptoris missio e Novo millennio ineunte, de João Paulo II, [2] até chegar às numerosas intervenções de Bento XVI. [3]
Não é menor a preocupação do Papa Bento XVI pela missão ad gentes, como demonstra sua constante solicitude. É preciso destacar e encorajar cada vez mais a presença, nos dias de hoje, de um número muito grande de missionários enviados ad gentes. Obviamente, eles não são suficientes. E vem-se delineando, ainda, um fenômeno novo: missionários africanos e asiáticos que ajudam a Igreja, por exemplo, na Europa.
É preciso também que nos alegremos e agradeçamos a Deus por vários novos Movimentos e Comunidades Eclesiais, até mesmo de caráter leigo, que vivem a missionariedade, quer em sua região – entre os católicos que, por motivos diversos, não vivem a pertença à comunidade eclesial –, quer ad gentes.
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