sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

A vida espiritual


Do Livro Na Liberdade da Solidão de Thomas Merton


A vida espiritual não é vida mental. Não é só pensamento. Nem tampouco, é claro, é vida de sensações, vida de sentimentos – “sentir” e experimentar as coisas do espírito e as coisas de Deus.
A vida espiritual, contudo, não exclui o pensamento nem o sentimento. Precisa de ambos. Não é uma vida simplesmente concentrada no “ponto alto” da alma, vida da qual a mente, a imaginação e o corpo estão excluídos. Se assim fosse, poucas pessoas poderiam vivê-la. E, ainda uma vez, se isso fosse a vida espiritual, não seria, de modo algum, vida. Para que possa viver, tem o homem de estar plenamente vivo, corpo, alma, coração, mente, espírito.Tudo tem de ser elevado e transformado pela ação de Deus, no amor e na fé.
Inútil tentar fazer meditações apenas pensando – pior ainda, meditar ligando palavras umas as outras, passando em revista um exército de banalidades.
Uma vida puramente mental pode ser causa de ruína, se nos levar a substituir a vida pelo pensamento e as ações pelas idéias. A atividade própria do homem não é puramente mental, pois o homem não é apenas um espírito desencarnado. Nosso destino é viver o que pensamos, porque se não vivermos aquilo de que temos conhecimento, nem chegamos a conhecê-lo. Somente tornando aquilo que conhecemos parte de nos mesmos, pela ação, é que penetramos na realidade significada por nossos conceitos.
Viver como animal racional não significa pensar como homem e viver com animal. Temos tanto de pensar como de viver como homem. É ilusão tentar viver como se as duas partes abstratas de nosso ser – racionalidade e animalidade – existissem de fato, separadamente, como duas realidades concretas diversas. Somos uma só coisa, corpo e alma e, se não vivermos como uma unidade, morreremos.
Viver não é pensar. O pensamento é formado e guiado pela realidade objetiva que existe fora de nós. Viver é o constante ajustar-se do pensamento à vida e da vida ao pensamento, de tal modo que estejamos sempre tendo a experiência de coisas novas nas antigas, e de antigas nas novas. Assim, a vida é sempre coisa nova.

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