terça-feira, 4 de novembro de 2008

XI - A Amizade na Vida Comunitária


É um grande desafio viver a amizade na vida comunitária. O grande número de pessoas, os diferentes gostos, maneiras de pensar, de se comportar e o constante clima de desconfiança que há nas casas de formação religiosa são obstáculos que a pessoa deve enfrentar para construir os seus relacionamentos amistosos.
Muitos caem no erro de dizer que são amigos de todos, que vivem bem com todos, e não enfrentam dificuldades em seus relacionamentos interpessoais. Outros dizem: “A comunidade é meu melhor amigo”, “Jesus é meu único amigo”. São frases perigosas, que mostram o quanto se está distante de compreender o verdadeiro sentido da amizade.
É impossível ser amigo de todas as pessoas de uma mesma comunidade. Mas é obrigação cumprir o mandamento do Senhor: "Amai-vos uns aos outros como eu vos amei" (Jo 15,12). Cada um é chamado a viver a fraternidade. Na amizade, no entanto, não se é forçado a ser amigo de todos. Amizade não é fraternidade. Amizade é um amor que se escolhe, com liberdade e identificação. Amizade é, antes de tudo, um relacionamento que se é vivido na intimidade. Portanto, como diz o sacerdote jesuíta Carlos G. Vallés: "O grupo nunca pode substituir a pessoa".
Na vida comunitária existem os extremos quando se fala de amizade: há aqueles que são amigos de todos e aqueles que não têm amigos. Para os últimos, há defeito em tudo: na casa, na comida, nas pessoas, nas aulas, na liturgia e em outras coisas. São pessoas azedas, que vivem espalhando infelicidade na comunidade e na vida dos outros. Vivem angustiadas e insatisfeitas. Com muita razão, sentencia Santo Agostinho: "Sem amigo, nada é agradável". De fato, nada é agradável ao homem que não tem amigo.
A amizade não é uma bobagem, como pensam os insensatos e recalcados. A amizade é o sentimento dos grandes corações, dos homens nobres, dos homens que sabem amar verdadeiramente. 'A amizade é um amor que nunca morre", como rezou tão bonito o poeta Mário Quintana. Por isso, somente os homens virtuosos são capazes de vivê-la.
Carlos G. Vallés falou da importância dos amigos, com estas lindas palavras: "O melhor de meu ser se manifesta na amizade; minha alegria, meu humor, minha ternura, meu lado ridículo, meu interesse pelos outros e minha coragem de ser eu mesmo, tudo isso floresce de maneira espontânea e irreprimível quando me encontro na presença de um amigo a quem amo". É o amigo como um “espelho”...
Um amigo é uma riqueza. Sem amizade, a vida do homem seria pouca coisa ou quase nada. A amizade é, realmente, o maior bem da vida. É indispensável para uma vida boa e reta. Não obstante todas as imperfeições do homem, todas as decepções, vale a pena acreditar na amizade. Foi pelos seus amigos que Jesus entregou a sua vida, amando-os até o fim (cf. Jo 15,13).

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