terça-feira, 11 de novembro de 2008

Nós somos cidadãos do céu


O celibato sacerdotal continua sendo contestado, incompreendido e, muitas vezes, ridicularizado, principalmente no contexto pansexual em que vivemos. No entanto, a reflexão que se segue não é uma apologia ao celibato diante de um mundo hostil, mas uma meditação da riqueza desse dom dado por Deus à sua Igreja.
Na nossa Igreja latina o celibato sacerdotal é uma norma. Aquele que possui vocação ao ministério presbiteral mas está cônscio de não ter recebido o dom de renunciar à vida conjugal não pode ser padre. Essa compreensão do celibato como um cânon causou e ainda causa prejuízos à vivência dos já ordenados - e candidatos ao sacerdócio - e ao despertar vocacional dos jovens cristãos de hoje.
O celibato não é uma norma fria, canônica tão somente. Não se trata de simplesmente não casar. O celibato é um dom que manifesta ao mundo uma das realidades da vida futura.
Nós, porém, somos cidadãos do céu, nos diz São Paulo em Fl 3,20. Eis a melhor definição do que é ser padre celibatário: habitante do céu. E como serão as relações dos habitantes do céu? O próprio Jesus nos responde: Na ressurreição, nem eles se casam e nem elas se dão em casamento, mas são todos como os anjos do céu (Mt 22, 30).
Pode-se objetar: mas Jesus fala da ressurreição e não do tempo presente. A refutação é legítima. Mas é exatamente aqui que está a riqueza do celibato: entre o “já e o ainda não” do tempo da Igreja, ele antecipa para o “já” aquilo que seremos no futuro. O padre deve apresentar já agora para o mundo a face do homem novo, ressuscitado, liberto dos laços humanos.
O celibato torna concreto aquele desejo de todo coração verdadeiramente humano: amar de um jeito novo, amar com o coração de Cristo e no compasso do seu sentir. Jesus, o Habitante do céu, trouxe para esta terra de exílio a experiência de ter um coração dilacerado de amor, e ao mesmo tempo livre de um amor em particular, a dois.
O padre renuncia a ser marido e pai biológico. No entanto, essa renúncia permite-o ser não somente esposo e pai, mas irmão, filho, à medida que o seu coração vai se entranhando de amor e misericórdia pelos que lhes são confiados; ao passo que ele vai sofrendo com os que sofrem e se alegrando com os que se alegram.
O cristão deve desejar o céu. Se não o faz, é um meio-cristão. Muito mais o sacerdote; ele não somente deseja o céu, como já vive aqui uma das realidades eternas. Evidentemente, como o Cristo ressuscitado traz as marcas da sua imolação, o celibatário manifesta o homem novo com as marcas das tentações e desafios próprios de seu tempo.
Ser celibatário é o dom de um jeito novo de amar. Dom que é um dos frutos do Espírito em nós: a castidade. Essa graça deve ser tão marcante nos padres que, ao olhá-los, as pessoas aspirem às realidades eternas, desejem serem também habitantes do céu.

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