quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Celebrar a Liturgia: cumprir o mandato do Senhor


Com a reforma conciliar do Vaticano II, a liturgia católica de rito latino voltou a ser fonte de vida espiritual para a Igreja em toda a sua plenitude. No entanto, no bojo das várias compreensões errôneas das propostas conciliares, a liturgia na sua forma celebrativa sofreu e ainda sofre deturpações aberrantes. Essas distorções se devem principalmente ao fato de que a liturgia ainda é vista tão somente como conjunto de rubricas adaptáveis e sujeitas a uma ilegítima inculturação (há uma inculturação legítima), e não como ação do próprio Deus, por Jesus, no seu Santo Espírito, sob o véu dos sinais.
Recordemos que a liturgia é o culto público da Igreja. Nesse culto, o novo Israel, a Igreja, prolonga, através dos tempos, a recordação das maravilhas que Deus realizou na história.
Mas, o que de fato celebramos nesse culto? O Verbo Eterno do Pai, ao se fazer homem, assumiu todo o ritual da Antiga Lei e o levou à plenitude. O sacrifício do templo, seu rito de expiação, no sacrifício da cruz, encontra seu pleno sentido.
No entanto, o próprio Cristo também ritualizou esse sacrifício irrepetível e único. Na última ceia, deixou-nos o mandato de fazer memória da sua oferta na cruz. Não se tratava de repetir, através dos tempos, a sua oblação no Calvário, mas tornar presente, na potência do Espírito Santo e nos gestos e nas palavras por Ele instituídas, o mistério pascal.
Assim, na liturgia, não celebramos algo criado por nós, mas cumprimos um mandato, algo que nos foi transmitido; primeiramente pelo próprio Jesus aos doze, e deles para nós. Tal missão a Igreja cumpre, como fiel esposa, todas as vezes que torna o mistério pascal acessível aos homens e mulheres de todos os tempos, nos sacramentos, principalmente na Eucaristia.
Celebrar a liturgia é adentrar no espaço de Deus, no seu ritmo. Tal acesso nos foi dado por seu filho Jesus, que ao se encarnar assumiu os gestos, as palavras e os ritos humanos. Prestar o culto litúrgico é estar como a sabedoria, diante de Deus, como o seu encanto, brincando todos os dias na sua presença (cf. Pr 8,30).
Celebrar a liturgia é obedecer à ordem do Senhor, que a confiou à sua Igreja. Não é, portanto, lícito modificar a liturgia a bel prazer de quem quer que seja. A Eucaristia e os demais sacramentos não são de determinado ministro ordenado, comunidade ou movimento. São da Igreja; e desrespeitá-los é acreditar que essa Igreja é uma realidade que pode ser reinventada por nós.

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