domingo, 25 de janeiro de 2009

V - A Amizade entre Homens


A amizade entre homens sempre foi exaltada e louvada pelos sábios de todos os tempos. Os grandes homens da história da humanidade e os grandes mestres do pensamento humano sempre tiveram outros homens como amigos. Gregos e latinos viam na amizade entre homens o caminho para uma vida virtuosa e feliz.
A Antiguidade é repleta de amizades heróicas entre homens, amizades que se tornaram célebres pelo exemplo de amor e fidelidade ao amigo: na Ilíada, Homero, poeta épico grego, escreveu versos belíssimos sobre a amizade de Aquiles e Pátroclo; na Eneida, Virgílio, o maior poeta épico latino, escreveu sobre a amizade de Niso e Euríalo; no Da Amizade, Cícero recorda a incrível amizade de Orestes e Pílades; na sua obra Odes, Horácio, poeta latino, chama seu amigo Virgílio de "metade da minha alma". A Bíblia, por sua vez, apresenta a comovente história de Davi e Jônatas como autêntico exemplo de amizade. A lista dos nomes é infinita...
Outro grande exemplo de amizade entre homens surge na Idade Moderna: Goethe e Schiller. O primeiro era tranqüilo, sereno, clássico, solene. Gostava da calma da natureza. O segundo era fisicamente mais fraco. Tinha um olhar mais vivo. Era exaltado. Gostava de uma conversa agitada. Era romântico, barroco. Eles eram diferentes em muitos aspectos, mas o amor aos homens do seu tempo, o patriotismo e a paixão pela poesia eram coisas que os dois possuíam em comum. Quando Schiller morreu, Goethe confessou abatido: "Perdi a metade de minha existência". A existência de um estava tão envolvida na existência do outro que a morte do amigo significava a perda de metade da vida.
Um dos mais celebrados escritores contemporâneos, Antoine de Saint-Exupéry conhecia muito bem a alma humana. Foi um homem que viveu profundamente a dimensão da amizade em sua vida. Na amizade com outro homem, Exupéry encontrava aceitação, pureza, fortaleza, segurança. Testemunhou isso numa belíssima confissão de amizade a seu amigo Léon Werth, para quem também dedicou o seu excelente livro O Pequeno Príncipe. Ele escreveu: "Por isso, meu amigo, preciso tanto de sua amizade. Tenho sede de um companheiro que, para além das questões controversas da razão, vê em mim o peregrino desse fogo... A você posso ir sem necessidade de vestir uniforme ou recitar uma sura do corão; não preciso renunciar a nenhum pedaço de meu lar interior. Quando estou perto de você não preciso me desculpar, não preciso me defender, não preciso provar nada... Para além de minhas palavras desajeitadas, para além dos julgamentos que podem levar-me ao erro, você apenas enxerga em mim a pessoa... Eu, que como todos os outros, sinto a necessidade de ser reconhecido, sinto-me puro em você e vou até você. Preciso ir até onde sou puro... Meu amigo, preciso de você como de uma altura onde se respira outra coisa".
A amizade é vivida numa contínua partilha daquilo que se é. Ao homem amigo, revelam-se segredos, revela-se o verdadeiro eu. No diálogo, percebe-se que existem problemas e dificuldades que são comuns. A amizade possui o poder de dividir a tristeza e a dor pela metade. Os amigos sofrem juntos. No seu amigo, o homem encontra aquele porto seguro que tanto necessita. Amizade também é disponibilidade, apoio, ajuda. O amigo é alguém em quem se deposita confiança. Na amizade, encontra-se uma misteriosa força para se refazer, para recomeçar. Friedrich Nietzsche, polêmico filósofo alemão, fez muito bem essa experiência de se restituir pela amizade. Ele escreveu a seu amigo Rohde: "Quanto aos meus auto- sentimentos tudo está fraco e deplorável e você precisa sempre de novo garantir-me comigo mesmo".
Um homem, seja ele solteiro ou casado, precisa da amizade com outros homens. Namoro casamento não substituem a amizade. São totalmente diferentes. A amizade jamais representa perigo para a vida e intimidade do casal. Antes, fortalece e enriquece tais relacionamentos. Os amigos contribuem para que tanto o namoro quanto o casamento sejam vividos com liberdade e profundidade. Vale a observação feita por Anselm Grün no seu livro Eu lhe Desejo um Amigo: "A amizade com outros homens enriquece o amor entre homem e mulher, em vez de ameaçá-lo. Ela alivia tanto o homem quanto mulher de superexpectativas. A mulher não consegue satisfazer todas as expectativas do homem e vice-versa. Ambos precisam de outros relacionamentos para que o relacionamento entre os dois encontre a medida certa". Além disso, o homem encontra na amizade com outros homens a sua própria identidade de homem, fortalece sua masculinidade.
Por fim, a amizade entre homens nasce a partir de uma identificação. Um vê no outro algo que também possui e faz parte de sua personalidade. A amizade com outro homem é fundamental para o um desenvolvimento humano, afetivo, intelectual e espiritual. Os homens precisam de amigos homens para caminhar juntos no dia-a-dia da tão cansada existência, para caminhar juntos pelos longos caminhos da vida. O homem precisa de um amigo homem para ser mais homem e humano.

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