segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Tempo de delicadeza: Expressão do Amor de Deus


A Primeira Carta de S. João em 4,8 afirma: “Deus é amor”. Essa afirmação é a síntese daquilo que é a essência do nosso Deus e da mensagem cristã. Podemos dizer que a expressão concreta desse ser Amor que é o próprio Deus é a delicadeza. Se voltarmos nosso olhar para todo o percurso da revelação, descobriremos que o modo de agir de Deus, inaugura nesse mundo o tempo da delicadeza. Deus vem mostrar quem Ele é, evento iniciado com Abraão e plenamente realizado em Jesus. E em todo esse caminho, Deus não entra na vida dos homens de qualquer jeito. Deus tem seu jeito de se fazer amigo dos homens, tem suas etapas, enfim, tem seus ritos no processo de conquistar o coração humano.
Se Deus por primeiro nos amou assim, com delicadeza, nós também devemos agir dessa maneira (cf. 1Jo 4,11). Comumente, afirmamos não haver verdadeira humanização sem a conversão a Cristo, expressão máxima e concreta da delicadeza de Deus. Pois bem, essa humanização implica expressar nossa vida na delicadeza em relação a Deus e ao próximo.
Mas, afinal, o que é esse tempo de delicadeza? É a capacidade de contemplar a criação e as pessoas não como um dado evidente, mas como realidades a serem conquistadas a cada dia. Aqui é fundamental o papel dos ritos. Ritualizar a vida não é sinônimo de mecanizá-la ou manipulá-la. Pelo contrário, o rito devolve a sacralidade à realidade, restaurando-lhe a sua dimensão mistérica. A criação e as pessoas são um mistério inexaurível inscritas no coração do próprio Deus. E para desse mistério nos aproximar, precisamos dos ritos. O rito longe de se apossar da realidade, revela o nosso assombro permanente diante do dom da vida.
A ritualidade, expressão e manifestação da delicadeza, revela-se no processo de conquista das pessoas, seja no amor, seja na amizade. Precisamos de encontros, palavras, gestos, intervalos, ausências, permanências, cuidados, pequenas atenções, tempo e contratempos para irmos adentrando na vida dos outros. Agir de outra forma é violentar e desrespeitar a singularidade humana.
Mas não somente no processo de conquista se expressa a delicadeza humana. No processo de permanência na vida dos outros o rito deve se fazer presente. É o rito que mantém o aspecto lúdico da amizade, conserva os casamentos na novidade do primeiro encontro, mantém os laços familiares no respeito mútuo. Enfim, o rito devolve-nos a capacidade de ver a beleza sempre oculta e sempre pronta a ser descoberta dos amigos, namorados, esposos, familiares, do desconhecido, que, de repente, passa a ser conhecido.
Assim conhecemos se experimentamos a delicadeza do amor de Deus: se ajudamos a inaugurar aqui o tempo da delicadeza. Retiremos o rosto amoroso de Deus da vida do mundo e das pessoas, e seremos pobres na ritualidade da delicadeza; seremos violentos.

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