quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

A Missa - Plenitude da Salvação - I

Caríssimos, apresentamos, em duas partes, uma meditação sobre a Missa, lugar onde se realiza plenamente a nossa salvação.
A Missa é a plenitude da salvação. Esta afirmação coloca diante de nós, antes de tudo, que temos necessidade de salvação: se formos deixados entregues às nossas próprias forças nós nos perdemos, deixamo-nos arrastar “para baixo”. Isto é efeito do pecado que se instalou no gênero humano desde os nossos primeiros pais; e o pecado é o afastar-se, o estar distante de Deus pela desobediência, pela livre escolha do mal. Mas o nosso coração tem uma sede insaciável de plenitude, de felicidade, daquilo que é bom e belo, em suma, sede de Deus, conforme nos diz Santo Agostinho: “nos fizestes para vós e o nosso coração não descansa enquanto não repousar em vós” (Confissões). E, no entanto, o homem, apesar de todo esse anseio, não é capaz de chegar por suas próprias forças a essa comunhão com Deus; só Deus mesmo pode fazê-lo. O homem tem, portanto, necessidade de salvação, necessidade de um Salvador.
Ora, Deus fez-nos incapazes de viver sem Ele – sim, porque uma vida sem Ele na verdade não é vida. E previu, desde a eternidade, que deveria enviar seu Filho para nos salvar, mesmo que o homem não tivesse caído no pecado; com a queda, esta salvação se torna ainda mais premente. E durante toda a história da salvação Ele prometeu esta salvação à humanidade, a começar de Adão, passando por Noé, até nossos pais Abraão, Isaac e Jacó e por meio de Moisés e todos os profetas. Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus desceu do céu para nos salvar na Pessoa de seu Filho Unigênito: nosso Senhor Jesus Cristo. Toda a sua vida entre nós, desde sua miraculosa concepção, seu nascimento, sua vida simples junto com Maria e José em Nazaré, sua pregação, seus cansaços, suas curas e, sobretudo sua Paixão, Morte, Ressurreição e Ascensão aos céus, tudo isso foi para nós causa de salvação.
A salvação não pode ser outra coisa senão o movimento de aproximação do homem para Deus. E, como vimos, o homem, por causa do pecado original e da concupiscência que insiste em o “puxar para baixo”, necessita voltar para Deus. Assim, a salvação consiste em reconciliar o homem com Deus. Esta reconciliação é feita através do sacrifício. No sacrifício, o homem arrependido implora o perdão de Deus e realiza um gesto de desagravo por seu pecado: no Antigo Testamento e nas religiões antigas, esse gesto era geralmente a imolação de um animal sobre o altar de Deus: o sangue, que era sinal de vida e aliança entre as pessoas, servia de sinal de aliança entre Deus e os homens. Todo o culto da Antiga Aliança girava em torno dos sacrifícios oferecidos pelos sacerdotes no Templo. Também simbolizava a vida em troca da vida: a vida do animal em troca da vida do homem.
No entanto, os sacrifícios da Antiga Aliança eram provisórios e ineficazes. É o que diz o autor da Carta aos Hebreus: “(...) A Lei (de Moisés) é totalmente incapaz, apesar dos mesmos sacrifícios sempre repetidos, oferecidos sem fim a cada ano, de levar à perfeição aqueles que se aproximam de Deus. Se não fosse assim, não se teria deixado de oferecê-los, se os que prestam culto, uma vez por todas purificados, já não tivessem nenhuma consciência de seus pecados? Mas, ao contrário, é por meio destes sacrifícios que, anualmente, se renova a lembrança dos pecados. Além do mais, é impossível que o sangue de touros e bodes elimine os pecados” (Hb 10,1-4). E arremata: “(...) somos santificados pela oferenda do corpo de Jesus Cristo, realizada de uma vez por todas” (Hb 10,10). Eis aqui: é o sacrifício de Cristo na cruz, a oblação de seu Corpo e seu sangue, que, uma vez por todas, é capaz de nos dar a salvação em sua plenitude, ou seja, é capaz de, com eficácia máxima, eliminar as manchas dos nossos pecados – somos lavados pelo sangue do Cordeiro (cf. Ap 7,14) – e nos reconciliar definitivamente com o Pai. Nosso Salvador, de fato, “entrou uma vez por todas no Santuário, não com sangue de bodes e de novilhos, mas com o próprio sangue, obtendo redenção eterna” (Hb 9,13).

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