segunda-feira, 20 de julho de 2009

Rito Romano: sem saudosismo, sem rubricismo


Há um movimento estranho na Igreja. É o movimento do saudosimo e do rubricismo. Esse movimento, composto principalmente por pessoas jovens, decidiu sacralizar o rito romano vigente na Igreja até a reforma promovida pelo Concílio Vaticano II, o XXI concílio ecumênico legitimamente válido da história da Igreja.
Os diversos grupos que defendem e promovem o rito de s. Pio V são movidos pela saudade daquilo que simplesmente eles não experimentaram. Acrescente-se a isso um certo rubricismo que se deixa perceber nos diversos blogs e sites do gênero. Discutir se a assembléia deve ou não erguer os braços durante a oração do Pai nosso na celebração eucarística é puro rubricismo “letra morta”.
O Santo Padre Bento XVI acertadamente permitiu o uso extraordinário da missa segundo o missal de Pio V. Assim, na compreensão do Romano Pontífice, na Igreja latina temos um único rito ordinário, segundo o chamado missal de Paulo VI. Extraordinariamente pode-se celebrar sob as rubricas do rito tridentino, sempre reservado a um grupo que o deseje, desde que não seja por oposição ao rito atual. Não era intenção, portanto, de Bento XVI voltar ao passado, mas tão somente deixar claro que não há ruptura na tradição litúrgica da Igreja.
Houve, de fato, após o Concílio Vaticano II, uma verdadeira deturpação da proposta da reforma litúrgica. No entanto, a missa segundo o missal de Paulo VI é sóbria, rica e restabelece o equilíbrio entre as duas dimensões da celebração eucarística: sacrifício e banquete. Esta não é uma “sub-missa”, ou não se trata de um rito pejorativamente denominado de “moderno” ou "missa nova" por esses movimentos. Trata-se da celebração eucarística legitimamente aprovada pelos padres conciliares junto a Pedro. Na Igreja não há missa moderna ou nova, há a sagrada liturgia, a mesmíssima de todos os tempos, expressão da experiência de fé da Igreja nesses mais de dois milênios de história.
O que se faz necessário é colocar em prática seriamente a reforma litúrgica conciliar, fazer valer a letra do que está contido na Sacrossanctum Concilium. Aqui deve ser a preocupação e tarefa de todos os católicos, inclusive dos “tridentinos”: promover a formação litúrgica dos leigos, exigir um clero liturgicamente bem instruído e corrigir abusos.
Solenidade e sobriedade não são sinônimos de rubricismo, mas devem ser expressão da fé e incidir na vida cristã. O rito bem celebrado não deve apontar para um beleza mundana. O rito bem celebrado, o bom gosto pelo paramentos e pelo espaço sagrado nos colocam diante da beleza do mistério pascal de Cristo, sacrifício redentor sacramentalizado por Ele sob a forma de ceia. Toda essa riqueza está contida nas rubricas da missa romana ordinária. Não há, portanto, do que sentir saudade.

3 comentários:

  1. Luciano, paz! Sou seminarista dehoniano, residente em Paulista-PE e estou na filosofia; gostaria de saber indicações de leitura quanto a liturgia. Gostei mt da abordagem que fizeste: é perigoso cair no rubricismo. Muitos seminaristas só sabem pensar no externo a si, esquecendo primeiro da purificação interior pra que a dignidade de dentro se externalize na veste exterior. Participei de um curso com irmã Miria Kolling. Ela afirmou que pode haver palmas na celebraçao, com restrições. Aqui na ´minha paroquia de origem , quando o sacerdote proclma o evangelho, logo após aplaudimos. Naõ vejo que aplaudir nesse caso seja tao grave.
    Obrigado pela atenção.

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  2. Sr. Luciano,
    Da mesma forma que chama de saudosismo esse desejo de "saudade daquilo que simplesmente não viveram", poderíamos dizer que a RCC é uma fábrica de sonhos que tenta reviver uma Igreja que ficou nos tempos do Apóstolo Paulo, em Corinto. Algo que ninguém nunca viveu, ou diria, que se viveu muito pouco tempo e que agora tiraram da sepultura para tentar fazer "reviver" uma Igreja que estava morta pelo rubricismo. Eu mesmo nunca vivi. Nem por isso acho que é uma coisa do passado esta tal RCC. Talvez isso não dê muito certo. Não vamos tirar os mortos da sepultura, não é?
    A liturgia da RCC está em algum Missal Romano? Em qual edição? 1570,1955, 1962, 1969, 2000?
    E o que dizer do outro comentário? Existe um missal da irmã Miria Kolling para dizer onde e quando bater palmas? É um rubricismo à parte?
    Ninguém quer obedecer a mais nada porque todos têm a sua verdade em matéria moral, p.ex. Por que obedecer em matéria litúrgica, se liturgia é uma coisa pessoal ou daquele grupo? Triste constatação, não é?
    Veja o que diz o Prefeito da Congregação para o culto divino e a disciplina dos sacramentos
    no prefácio da edição espanhola do livro: A reforma de Bento XVI - A liturgia entre a inovação e a tradição, Nicola Bux, Ciudadela Libros, 2009.
    "A vontade do Papa não foi apenas de satisfazer os fiéis de Monsenhor Lefebvre, nem de se limitar a responder aos justos desejos dos fiéis que se sentem ligados, por motivos diversos, à herança litúrgica representada pelo rito romano, mas justamente para oferecer a todos os fiéis a riqueza da liturgia da Igreja, permitindo a descoberta dos tesouros de seu patrimônio litúrgico pelas pessoas que ainda o ignoravam. Quantas vezes, com efeito, o desprezo manifestado por esses tesouros foram causados apenas por seu desconhecimento?!"
    Na Igreja de Cristo que abre as portas para os de fora, não devem existir rivalidades litúrgicas, nem muito menos acusações rubricistas.
    Na Igreja tudo é perene: o eterno toca as nossas pobres vidas com a sua chama reluzente. Não existe passado, presente e futuro. Por isso, lhe digo, que ainda hoje este rito que você chama de "antigo" atrai principalmente os jovens. E não é por mera curiosidade. Mas é porque ali se mostra uma face da Igreja que estava escondida e que ninguém podia contemplar. Agora, desvelado o seu rosto, quem é que pode dizer que isso é saudade. Senhor, é a vossa face que eu procuro. Não me escondais a vossa face.
    O rito é da Igreja e não deste ou daquele grupo. Não se engane. Não é saudosismo, não é nostalgia. É vida humana que busca a vida eterna, hoje, não no passado.

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  3. Querer dizer, ou enquadrar a celebração da Santa Missa no rito extraordinário num simples saudosismo, é lamentável. O mais triste e deplorável é participar da Santa Missa e ver o desrespeito com a Liturgia a começar pelos próprios padres.
    Tivemos a pouco tempo um Assembleia Arquidiocesana em Maceió para tratar da Liturgia. É uma pena que muitos sacerdotes que estiveram ali presentes não têm interesse de formar os leigos que atuam em suas paróquias.
    Eliana

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