sexta-feira, 10 de julho de 2009

Breve história do aristotelismo cristão - II

Platão aponta para cima, Aristóteles para baixo: modos diferentes de conceber o mundo
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ARISTÓTELES

Neste artigo, voltaremos um pouco em nossa história sobre a filosofia aristotélica no mundo cristão para olharmos a figura de Aristóteles.
Aristóteles nasceu em Estagira, na Macedônia, em 384 a.C. Seu pai, Nicômaco, era médico e freqüentador da corte do rei Amintas II, pai de Filipe II. Provavelmente foi a profissão do pai, a medicina, que desde cedo orientou o espírito do jovem Aristóteles para as ciências naturais. Aos 16 ou 17 ele chegou a Atenas para estudar na Academia de Platão e ficou por lá durante vinte anos, até a morte de seu mestre, em 347.
Saindo de Atenas, Aristóteles passou quatro anos em Assos e Mitilene, onde realizou grande parte de suas pesquisas biológicas. Em 343, ele foi chamado por Filipe II para ser o preceptor de Alexandre, cargo que exerceu até 336, quando Alexandre herdou o trono da Macedônia. Aristóteles voltou, então, a Atenas, onde fundou o Liceu, uma escola como a Academia platônica, mas que se distinguia pelo estudo privilegiado das ciências naturais.
Aristóteles possuía muitas convergências e outras tantas divergências doutrinárias com mestre Platão, tanto umas como as outras bastante marcantes. Eles concordavam, essencialmente, na inteligibilidade do mundo e na capacidade da razão humana de achar a estrutura real das coisas; divergiam, porém, significativamente, quanto ao modo de ver este mundo: Aristóteles o via como uma realidade em si mesmo, sendo a natureza capaz de oferecer as respostas para as perguntas dos homens, uma visão positivamente empírica, baseada nos sentidos; seu mestre, todavia, ao olhar o mundo, via apenas a projeção imperfeita de um mundo perfeito, que estaria além dos sentidos: o mundo das ideias. Rubenstein resume esta divergência dos filósofos quanto a visão do mundo de uma maneira interessante. Diz ele: “Enquanto Platão ouvia, através do ruído da imperfeição e da ilusão, a música imortal dos deuses, Aristóteles percebia ritmos e melodias ordeiros dentro da mesma cacofonia aparente” (RUBENSTEIN, p. 39).
Toda a filosofia natural – o principal interesse de Aristóteles – girava (tanto quanto isso possa parecer paradoxal) em torno de sua metafísica. Aristóteles, como já dito, achava o mundo dotado de sentido. Este sentido podia ser captado pela razão através dos sentidos que nos dão o conhecimento das coisas pelas suas causas. As causas, para Aristóteles, são aquelas quatro clássicas: formal, material, eficiente (ou motora) e final. É o conhecimento destas causas que permite o conhecimento de cada objeto analisado pelo sujeito. Assim, o universo, para o Filósofo, é finalisticamente ordenado. Ele também admite a existência de um Deus, não pessoal como no cristianismo, mas uma “Causa primeira”, co-eterna ao mundo, cuja função é inspirar a “atualização” do mundo, dando movimento e mudança a todas as coisas, mas não sendo nem movido nem mudado; consciente, mas não providente, perfeitamente autônomo, pensa somente em si mesmo. A visão aristotélica de Deus será uma das maiores dificuldades para conciliá-lo com a doutrina cristã de um Deus Criador e Providente.
Quando Aristóteles morreu, em 322 a.C., sua biblioteca foi confiada a seu discípulo e grande amigo Teofrasto. Posteriormente, as obras aristotélicas passaram para Neleu, que as guardou em sua Adega, onde ficaram por quase dois séculos. Essas obras foram achadas perto do século I, a.C. e ficaram aos cuidados de Andrônico de Rhodes, que as catalogou e levou para Roma, centro da cultura mundial na época. Depois disso, o grosso da obra de Aristóteles perdeu-se novamente por quase dois séculos.

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