domingo, 24 de maio de 2009

Sentou-se à direita de Deus – Ascensão do Senhor

Eis, irmãos, um dia glorioso! O Senhor Jesus, a quem o Pai ressuscitou dos mortos, subiu hoje aos céus! Durante quarenta dias apareceu aos discípulos há dois mil anos atrás; mas nesses dois mil anos e nesse ano da graça de 2009, o Senhor apareceu aos cristãos desses tempos e à nós que comemos e bebemos com ele (cf. At 10,41) cotidianamente na Eucaristia, durante quarenta dias, nesta Páscoa. Hoje, então, quando a Igreja se reúne mais uma vez para estar com Ele, observa, estupefata, como outrora os discípulos, o Senhor que se eleva aos céus, para sentar-se à direita do Pai.
Qual o motivo da admiração da Igreja? Simplesmente, como nos diz a coleta da Missa de hoje, a ascensão do Senhor já é nossa vitória. Porque o Filho sempiterno de Deus tendo descido do céu para unir-se à nossa humanidade, subiu, hoje, de volta para lá levando a sua humanidade, que também é a nossa, divinizada. Isso melhor nos diz o Santo doutor de Hipona: Desceu do céu por sua misericórdia e ninguém mais subiu senão ele; mas nele, pela graça, também nós subimos.
A narração da Ascensão do Senhor nos Atos dos Apóstolos nos dá um pormenor significativo da ocasião deste fato: diz-nos São Lucas que durante uma refeição, [Jesus] deu-lhes esta ordem: “Não vos afasteis de Jerusalém, mas esperai a realização da promessa do Pai, da qual vós me ouvistes falar: ‘João batizou com água; vós, porém, sereis batizados com o Espírito Santo, dentro de poucos dias’” (1,4-5), e diz em seguida: Depois de dizer isso, Jesus foi levado ao céu, à vista deles. Uma nuvem o encobriu, de forma que seus olhos não podiam mais vê-lo. (1,9). O contexto nos insinua que os Apóstolos estavam reunidos com o Senhor numa refeição, a qual podemos entender como sendo a Eucaristia e que, logo em seguida, o Senhor foi elevado aos céus. Assim podemos compreender que nós, reunidos para a Eucaristia neste hoje, somos testemunhas do Ressuscitado, que nos instrui pela Sua Palavra, parte o Pão que é Seu Corpo para nós, e que se vai em sua presença física quando comemos o Seu Corpo para ficar em nós pela presença do Seu Espírito Santo, o Paráclito prometido.
Deu-lhes esta ordem: “Não vos afasteis de Jerusalém” (At 1,4). Como entendermos isso senão como uma ordem para permanecermos em Sua Igreja? Somente na Igreja de Cristo, somente reunidos e orando unanimemente com os Apóstolos, os irmãos e com Maria, a Mãe de Jesus (cf. At 1,14), podemos receber o Espírito Santo prometido. É na Igreja que recebemos o Espírito. Porque é o Espírito como que a alma do Corpo de Cristo, que é a Igreja, Corpo esse que é Deus juntamente com a Cabeça, Jesus Cristo, Senhor nosso. Assim participamos da plenitude divina de Cristo, assentado nos céus, conforme nos diz o Apóstolo: Sim, ele pôs tudo sob seus pés e fez dele, que está acima de tudo, a Cabeça da Igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que possui a plenitude universal (Ef 1,22-23).
Antes de subir de volta para o seu Pai e Deus (cf. Jo 20,17), o Senhor nos deixou ainda uma última ordem, como nos relata o Evangelho de hoje: Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura! Quem crer e for batizado será salvo. Quem não crer será condenado (Mc 16,15-16). Eis a missão da Igreja: anunciar, testemunhar Aquele que se manifestou a Ela, e que subiu aos céus. E essa missão foi, é e será cumprida, até que Ele volte da mesma forma que foi (cf. At 1,11), conforme nos é dito: Depois de o terem adorado, voltaram para Jerusalém com grande júbilo (Lc 24,52) e em outro lugar: Os discípulos então saíram e pregaram por toda parte (Mc 16,20).
Muitas coisas mais se poderiam dizer acerca deste mistério que celebramos hoje, capazes de encher muitos livros; mas, com o que foi dito, basta somente acrescentar isto que diz Santo Agostinho: Hoje nosso Senhor Jesus Cristo subiu ao céu; suba também com ele o nosso coração.

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