quarta-feira, 6 de maio de 2009

Espaço sagrado: lugar da manifestação de Deus


O mundo atual está repleto de apelos que nos bombardeiam através de todos os sentidos. Dentre esses sentidos nenhum outro sofre tantos apelos como a visão e a audição. Há um excesso de informações em tempo real pela via cibernética e há também os apelos visuais e a multiplicidade de sons nas ruas das nossas cidades. Nesse contexto, onde repousar o nosso olhar? Onde pararmos para contemplar o silêncio? Onde experimentar o vazio que nos coloca em contato com nossa interioridade?
O lugar por excelência para esse verdadeiro momento sabático dos nossos sentidos deveriam ser os nossos templos. No entanto, o que vemos hoje em nossas igrejas nada mais é do que a transposição dos mesmos apelos visuais e sonoros do mundo profano. Quem adentra em nossos espaços sagrados em busca de descanso, perceberá nossas igrejas repletas de banners, flores artificiais, murais, cortinas, imagens – às vezes de gosto duvidoso – em excesso. Tudo concorre à dispersão, tudo leva à superficialidade de um mundo que já não sabe mais encontrar a Beleza no silêncio e no vazio.
O espaço sagrado surgiu para ser um lugar de encontro. Não um encontro forjado pelo homem, mas o encontro cuja iniciativa é do próprio Deus, que ali se manifesta. No Antigo Testamento, a tenda e, posteriormente, o templo eram lugares por excelência de teofanias. “Entremos no lugar em que Ele habita” (Sl 131, 7a). Por isso eram lugares também de repouso, porque lugares repletos de Deus; e só em Deus a nossa alma encontra descanso (cf. Sl 61,2).
Na plenitude dos tempos, o Verbo encarnado revela-se como o verdadeiro templo. De fato, por seu esvaziamento, por sua aniquilação, na humanidade por Ele assumida, Cristo foi totalmente revestido da vida nova no Espírito na ressurreição. “Nele habita corporalmente a plenitude da divindade” (Cl 2,9). Por isso Cristo é verdadeiramente o lugar da teofania de Deus. Esvaziado de si na sua humanidade, Jesus tornou-se o espaço da manifestação de Deus por excelência.
Os nossos templos devem ser sacramento desse esvaziamento do Verbo eterno feito homem. Espaços simples, vazios do supérfluo, do demasiadamente mundano, para que Deus ali possa manifestar-se, possa falar ao nosso coração. E no encontro com a Beleza do essencial, que eleva o nosso olhar e purifica os nossos ouvidos, possamos exclamar como o salmista: "Minha alma desfalecida se consome suspirando pelos átrios do Senhor. Meu coração e minha carne exultam pelo Deus vivo"(Sl 83,3).

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