Ao representar a grande angústia cristã se deve procurar com o maior cuidado que transpareçam as suas leis determinadas pela Cruz, a sua diversidade da angústia natural, a sua origem na certeza e na alegria da missão e o seu desembocar na vitória da Cruz, mais importante é ainda distinguir sempre, e muito nitidamente, entre esta angústia e o pecado e a angústia do pecado. Está a espalhar-se hoje aquilo que Karl Rahner estigmatizou como a falsa e funesta “mística do pecado” (de que nem um grande escritor como Graham Greene nem o Kranz der Engel de Gertrude von Le Fort ficaram isentos). Defendida sob o pretexto da sinceridade e do antifarisaísmo, esta teoria pretende que na própria culpa tomada voluntariamente sobre si mesmo (por solidariedade com os outros pecadores) haveria um fator de redenção: ora isto está em contradição radical com a verdadeira redenção. Se se desfazem hoje irrevogavelmente (e é bom que assim seja) os quadros de um individualismo cristão, de uma solitária especulação sobre a própria salvação, que para o homem moderno sabem demasiadamente o egocentrismo, nas leis do Evangelho, todavia, não se toca: elas são sólidas e válidas para todas as gerações. Em Deus não há sombra de trevas, e na culpa não existe luz alguma. O Filho de Deus fez-se igual a nós em tudo, exceto no pecado, e este “exceto” é a premissa pela qual Ele pôde tomar sobre si e expiar todos os pecados.
Quem se afasta um milímetro que seja desta doutrina, confunde tudo. O cristão pode cooperar e ser solidário, exatamente na medida em que se liberta do pecado. Angustiar-se com os outros, ele pode fazê-lo, apenas na medida em que, objetivamente, foi liberto da angústia do pecado.
A terceira lei, portanto, será esta: Deus não oferece a nenhum crente a participação (mística, ou mesmo comum) na angústia da Cruz do seu Filho, sem lhe ter dado, primeiro, toda a força da missão cristã, toda a alegria e toda a luz da Fé, da Caridade e da Esperança, isto é: sem lhe ter tirado a angústia do pecado. Ter como possível uma “síntese” das duas angústias, ou tentá-la, é contrário à sã doutrina cristã.
sábado, 16 de maio de 2009
O cristão e a angústia - XI
Apresentamos a última parte da série de textos sobre a angústia segundo a ótica cristã, por Hans Urs von Balthasar, no livro O cristão e a angústia.
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