sábado, 14 de novembro de 2009

Os Padres da Igreja - São Justino 2

Vida de São Justino

Do livro Os Padres da Igreja de A. Hamman

O homem
Ninguém estava mais bem preparado para este confronto do que Justino. O pensamento dos filósofos, ele o havia procurado, praticado e amado; conhecia-o por dentro, pois que jamais procurou a verdade que não fosse para vivê-la. Havia lutado, viajado, sofrido, em busca do saber. Por esta razão, sem dúvida, percebemos um despojamento por trás de sua descoberta, um testemunho que não engana. Este filósofo do ano 150 está mais perto de nós do que muitos pensadores modernos. “Justino, filho de Prisco, filho de Baqueios, de Flávia Neápolis, na Síria da Palestina”, é com estes termos que Justino faz a sua própria apresentação, à primeira página de sua Apologia. Ele nascera no coração da Galiléia, na cidade de Naplusa, cidade romana e pagã, construída da antiga Siquém, perto do poço de Jacó, onde Jesus anunciara à Samaritana o culto novo. Naplusa era uma cidade moderna, onde floresciam as romãzeiras e os limoeiros, e que ficava encaixada entre as encostas de duas colinas, a meio caminho entre a verdejante Galiléia e a cidade de Jerusalém.
Os pais de Justino eram colonos abastados, de origem latina mais do que grega, o que explica sua nobreza de caráter, seu gosto pela exatidão histórica, as lacunas de sua argumentação. Ele não possui nem a flexibilidade nem a dialética sutil de um grego. Viveu em contato com judeus e samaritanos.

O filósofo
Natureza nobre, apaixonado pelo absoluto, bem jovem ainda sentiu-se inclinado para a filosofia, no sentido que se lhe dava naquela época: não uma especulação por diletantismo, mas busca da sabedoria e da verdade que levam a Deus. A filosofia conduziu-o passo a passo até o limiar da fé. O próprio Justino conta-nos, no Diálogo com Trifão, o longo itinerário de sua busca, sem que nos seja possível fazer a discriminação entre o artifício literário e a autobiografia. Sucessivamente, em Naplusa, freqüentou as aulas de um estoico; depois, de um discípulo de Aristóteles, que logo abandonou, trocando-o por um platônico. Com candura, esperava que a filosofia de Platão lhe permitisse “ver imediatamente a Deus”.
Retirando-se à solidão, Justino passeava pela areia, à beira-mar, para meditar sobre a visão de Deus, sem conseguir apaziguar sua inquietação, quando encontrou um ancião misterioso que dissipou suas ilusões. Este mostrou-lhe que a alma humana não podia atingir a Deus com seus próprios recursos; somente o cristianismo era a filosofia verdadeira, que apresentava conclusão para todas as verdades parciais: “Platão, para dispor a pessoa ao cristianismo”, dirá Pascal.
Instante inesquecível, que assinala uma data na história cristã, em que se encontram a alma platônica e alma cristã. A Igreja colhia Justino e Platão. Tendo ingressado no cristianismo por volta do ano 130, o filósofo cristão, longe de abandonar a filosofia, afirma ter encontrado no cristianismo a única filosofia segura, que satisfaz todos os seus desejos. Ele se apresenta sempre coberto com o manto dos filósofos. Isto para ele é um título de nobreza. Não repudia o pensamento de Platão, mas o introduz na Igreja. Justino gosta de declarar que os filósofos eram cristãos sem o saberem. Justifica esta afirmação começando por um argumento tirado da apologética judaica, que achava que os pensadores deviam o melhor de sua doutrina aos livros de Moisés (Apol. 44,40). O Verbo de Deus ilumina todos os homens, o que explica as parcelas de verdade que se encontram nos filósofos. Os cristãos não têm por que invejá-los, pois possuem o próprio Verbo de Deus.

Testemunha da comunidade cristã
Depois de se ter feito cristão, Justino, sem dúvida alguma, nunca foi padre. Viveu em Roma como um simples membro da comunidade cristã, cujas reuniões dominicais descreve, bem como o batismo e a eucaristia. Desta forma, fornece-nos a primeira descrição da liturgia e dá testemunho da fraternidade que anima e une os membros da comunidade.Primeiro em Éfeso, depois em Roma por volta do ano 150, Justino funda escolas filosóficas cristãs. Na capital do império, morava, como ele conta ao longo do seu interrogatório, “perto das Termas de Timóteo, na casa de um homem chamado Martinho”. Mantém aí uma escola, ensinando a filosofia de Cristo.

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