sábado, 3 de outubro de 2009

Já não são dois, mas uma só carne – XXVII Domingo Comum

Um tema fundamental perpassa todas as leituras que a Sagrada Liturgia nos propõe hoje: a família. A primeira leitura, do livro do Gênesis, começa com uma frase muito significativa: “Não é bom que o homem esteja só” (Gn 2,18). Deus não criou o homem para que vivesse isolado, para que vivesse somente para ele. Ele quis que o homem vivesse em comunidade, em uma família, compartilhando sua vida, seus anseios e suas alegrias com uma pessoa que seria para ele “uma auxiliar semelhante a ele” (Gn 2,18). O homem é criado para a comunhão da família, célula mãe de toda vida social. É na família que o homem, na medida em que passa da infância para a adolescência e daí para a fase adulta, abandona o egocentrismo inicial (uma marca deixada pelo pecado) para se abrir aos poucos para uma realidade mais ampla: ele percebe que não é o centro do mundo, mas que é apenas uma porção insignificante dele. Ao mesmo tempo, descobre na família a fé em um Deus Providente que o ama e que foi capaz de entregar-se inteiramente por ele. Descobre, enfim, o amor, que constitui a essência mesma de Deus, penetrando no mistério do amor de Deus através do amor que recebe da família. Assim, a família é espaço privilegiado da vida de fé, é a primeira porção da Igreja que um homem tem contato. A família é reflexo do mistério trinitário, de um Deus que é Um, mas que é uma Comunidade de Três Pessoas, que vivem eternamente numa dinâmica recíproca de amor.

A santidade da família é algo evidente para quem crê na Revelação de Deus. O Senhor Jesus alerta para esta santidade ao descrevê-la como uma união estável e indissolúvel, justamente porque firmada em Deus, em sua vontade. Deus quis a família deste modo – é isto que o Evangelho nos ensina: indissolúvel, fiel e fecunda. Nada menos do que isso. E, ao nos depararmos com as exigências de Cristo e compará-las com a situação das famílias de hoje, não podemos ter outra reação a não ser de uma profunda tristeza pela distância de ambas. Que tipos de famílias encontramos? Famílias destruídas pelo vício das drogas, do alcoolismo, da prostituição, famílias desfeitas, famílias criadas de qualquer maneira, famílias vilipendiadas pela mídia e pelo Estado, famílias “de fato” e “famílias” gays: tudo isso se encontra no mundo de hoje. Haverá solução para a família? O sonho de Deus para ela – um homem, uma mulher e seus filhos, numa união estável, fiel e fecunda – permanecerá até o fim do mundo. E o sonho de Deus sempre prevalecerá.

Como o cristão de hoje pode ajudar a construir uma família que seja mais conforme aos desígnios de Deus? Ele não precisa se preocupar com as outras; basta que olhe para a sua e trabalhe nela os valores evangélicos e viva conforme estes, segundo sua condição de esposo e pai, ou mãe e esposa, ou filho e irmão, filha e irmã. Que valores são esses? São Paulo nos ensina: “Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela; Assim os maridos devem amar as suas mulheres, como a seu próprio corpo. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo. Certamente, ninguém jamais aborreceu a sua própria carne; ao contrário, cada qual a alimenta e a trata, como Cristo faz à sua Igreja - porque somos membros de seu corpo. Por isso, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois constituirão uma só carne. Este mistério é grande, quero dizer, com referência a Cristo e à Igreja. Em resumo, o que importa é que cada um de vós ame a sua mulher como a si mesmo, e a mulher respeite o seu marido” (Cl 5,25.28-33). E ainda: “Filhos, obedecei a vossos pais segundo o Senhor; porque isto é justo. Pais, não exaspereis vossos filhos. Pelo contrário, criai-os na educação e doutrina do Senhor” (Cl 6,1.4). Estes conselhos do Apóstolo são caminho seguro para santificar a família, fazendo-a mais agradável a Deus. Tenhamos fé e coragem, irmãos e irmãs: o ideal que Nosso Senhor propõe não é irrealizável: é o mais belo plano de amor que ele sonhou para seus filhos, de modo que já aqui na terra eles saboreiem as delícias de participar da comunhão dos filhos de Deus, vivendo o céu antecipadamente na família.

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