sábado, 12 de setembro de 2009

Se alguém quiser me seguir, renuncie a si mesmo - XXIV Domingo Comum

O Evangelho deste XXIV Domingo do Tempo Comum fala da missão de Jesus e da nossa missão. O Senhor pergunta aos seus discípulos: “Quem dizem os homens que eu sou?” (Mc 8,27). Quais as ideias que os homens têm sobre mim? Diante do que eu fiz, de minha doutrina, dos sinais que realizei, dos corações que curei, das vidas que salvei, diante de tudo isso, quem os homens acham que eu seja? “Alguns dizem que tu és João Batista; outros, que és Elias; outros, ainda, que és um dos profetas” (Mc 8,28). Hoje nos diríamos: alguns dizem que sois um revolucionário como Che Guevara; outros que sois um mestre espiritual, como Buda; outros, ainda, que sois um homem bom, como Ghandi; outros, também, que sois a salvação dos nossos problemas financeiros, de nossas doenças, como se fosses um banco ou uma farmácia. As pessoas dizem muitas coisas sobre vós, Senhor Jesus!, tantas coisas que até nós mesmos, às vezes, nos confundimos! Muitas vezes, aqueles que são vossos discípulos, que deveriam saber quem vós sois para vos indicar ao mundo, deixam de falar em vós para falar em generalidades, dizendo coisas como “é preciso despertar o senso da beleza do divino” ou “nós temos que trabalhar para construir o Reino de Deus”, “os problemas sociais são os mais importantes” etc. Às vezes, é difícil acharmos alguém que nos fale de vós, que sejam simples e diretos como Pedro: “Tu és o Cristo, tu és o Messias, o Filho de Deus!” (Mc 8,29; cf. Mt 16,16) Eis uma grande desgraça para o mundo de hoje: os discípulos de Cristo, não falam mais de Cristo, da Pessoa de Cristo, mas generalidades que, sem Cristo, não passam de banalidades!
Jesus é o Cristo, o Messias esperado, mas que tipo de Messias? O Senhor, logo após a confissão de Pedro os alerta: o Messias não é um chefe político, um revolucionário que vai libertar o povo de Israel do jugo dos romanos, ou qualquer outra coisa; o Cristo é aquele que “devia sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da lei; devia ser morto e ressuscitar depois de três dias” (Mc 8,31). Que paradoxo! O Messias, o Filho de Deus, que veio ao mundo para salvar a humanidade do pecado e da morte, não foi destinado por seu Pai a vir reinar no mundo com poder e com glória, calcando aos pés todos os que o rejeitam; não, ele veio manso, humilde, fraco, plenamente homem. Ele oferece as faces para seus agressores, levando bofetadas e cusparadas, sofrendo a humilhação de ser homem e mais, de ser considerado o mais desprezível dos homens (cf. Is 50,5-9). Mas ele é, ao mesmo tempo, o homem perfeito que mesmo diante da injustiça mantém a esperança em Deus: Ele é seu libertador. Ele sabe que os sofrimentos deste mundo valem a pena ser sofridos se unidos a Deus porque a breve provação pela qual o homem passa nessa vida é um nada comparado com a glória da vida futura. Ele sabe que tem Deus a seu lado e que nada o poderá separar de seu Auxiliador. É por isso que Jesus não aceita a repreensão de Pedro: uma negação da missão sofredora de Jesus consistiria na negação do plano salvífico de Deus, seria um pecado contra a esperança em Deus, seria um puro acomodar-se a um plano meramente humano de carreira e sucesso. Mas os planos de Deus são diferentes: é através do sofrimento do Messias que a humanidade redimida pode aproximar-se de Deus purificada de seus pecados e viver diante d’Ele em santidade e em justiça. É nesse sentido que Jesus alerta: “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. Pois quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; mas quem perder a sua vida por causa de mim e do evangelho vai salvá-la” (Mc 8,34-35). Se nós quisermos, como Pedro queria, sermos poupados dos sofrimentos deste mundo, sermos poupados da cruz que nos cabe carregar, sermos poupados da responsabilidade a que somos chamados a ter diante do mundo, não seremos dignos de ganhar a verdadeira vida: perdê-la-emos. Mas, ao contrário, se como Jesus soubermos gastar a nossa vida, aceitando a cruz cotidiana, carregando-a não apenas com resignação mas com a alegria de sabermos que o Senhor caminha conosco, se formos generosos para não somente carregar a nossa cruz mas ajudar os irmãos a carregar suas cruzes, aí sim, embora pareça que estaremos perdendo nossa vida, estaremos, na verdade, ganhando-a. Eis o convite que o Senhor nos faz nesse Santo Domingo: seguirmo-lo integralmente, sem meios termos, sem murmurações, sem questionamentos, carregando nossa cruz e morrendo junto com Ele, para com Ele ressuscitarmos.

Um comentário:

  1. Quero te parabenisar pelo belissimo texto.
    O texto nos faz pensar em que tipo de vida levamos, o que acabamos dando tanta importância, e que no fundo não nos levam a lugar nenhum, e dessa forma nem percebemos que estamos gastando nossa vida com coisas banais, e que nem sempre aceitamos as coisas como ela são.
    É interessante pensar como reclamamos tanto das coisas, estamos sempre insatisfeito com os acontecimentos.
    Se a gente tivesse fé suficiente em Deus, saberia que os problemas seriam solucionados, que ele sempre está conosco, e , dessa forma estariamos a viver nossa vida em plenitude, e não fazendo de conta.
    Espero que você continue a criar textos lindos e que nos ajudam a entender melhor o mistério da vida.
    Um abraço, fica com Deus

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