segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Homilia de Bento XVI na Missa do Batismo do Senhor

No Domingo em que a Igreja celebra a Festa do Batismo do Senhor, o Santo Padre Bento XVI, segundo o costume, celebrou uma Missa na Capela Sistina em que batizou 21 crianças recém-nascidos filhas de funcionários do Vaticano. Eis a homilia que ele pronunciou, com tradução minha:


Caros irmãos e irmãs,
Fico feliz de vos dar calorosas boas-vindas, em particular a vós, pais, padrinhos e madrinhas dos 21 recém-nascidos aos quais, daqui a pouco, terei a alegria de administrar o Sacramento do Batismo. Como já é tradição, tal rito ocorre novamente este ano na Santa Eucaristia em que celebramos o Batismo do Senhor. Trata-se da Festa que, no primeiro domingo depois da solenidade da Epifania, conclui o tempo do natal com a manifestação do Senhor no Jordão.
Segundo o relado do evangelista Mateus (3,13-17), Jesus vem da Galileia ao rio Jordão, para fazer-se batizar por João; de fato, de toda a Palestina acorriam para escutar a pregação deste grande profeta, o anúncio do advento do Reino de Deus, e para receber o batismo, isto é, para submeter-se àquele sinal de penitência que convidava à conversão do pecado. Mesmo sendo chamado batismo, este não tinha o valor sacramental do rito que celebramos hoje; como vós bem sabeis, é com sua morte e ressurreição que Jesus institui os Sacramentos e faz nascer a Igreja. Aquele administrado por João era um ato penitencial, um gesto que convidava à humildade diante de Deus, convidava a um novo começo: imergindo-se na água, o penitente reconhecia ter pecado, implorava a Deus a purificação das próprias culpas e era convidado a mudar os maus comportamentos, como que morrendo na água e ressurgindo para uma vida nova.
Por isto, quando o Batista vê Jesus que, na fila com os pecadores, vem fazer-se batizar, fica atordoado; reconhecendo n’Ele o Messias, o Santo de Deus, Aquele que não possui pecado, João manifesta o seu espanto: ele mesmo, o batizador, quer fazer-se batizar por Jesus. Mas Jesus o exorta a não opor resistência, a aceitar cumprir este ato para realizar o que é conveniente para “cumprir toda justiça”. Com essa expressão, Jesus manifesta ter vindo ao mundo para fazer a vontade d’Aquele que O enviou para cumprir tudo que o Pai lhe pede; é para obedecer ao Pai que Ele aceitou fazer-se homem. Este gesto revela, antes de tudo, quem é Jesus: é o Filho de Deus, verdadeiro Deus como o Pai; é Aquele que “se rebaixou” para fazer-se um de nós, Aquele que se faz homem e aceitou humilhar-se até a morte de cruz (cf. Fl 2,7). O batismo de Jesus, que hoje fazemos memória, se coloca nesta lógica de humildade e solidariedade: é o gesto d’Aquele que quer fazer-se em tudo um de nós e se coloca realmente na fila com os pecadores; Ele, que não tem pecado, se deixa tratar como pecador (cf. 2Cor 5,21), para suportar sobre seus ombros o peso da culpa da humanidade inteira, também da nossa culpa. Ele é o “servo de Deus” de quem nos falou o profeta Isaías na primeira leitura (cf. 42,1). A sua humildade é ditada pelo desejo de estabelecer uma comunhão plena com a humanidade, do desejo de realizar uma verdadeira solidariedade com o homem e com a sua condição. O gesto de Jesus antecipa a Cruz, a aceitação da morte pelos pecados do homem. Este ato de rebaixamento, com o qual Jesus quer conformar-se totalmente ao desígnio de amor do Pai e conformar-se conosco, manifesta a plena sintonia de vontade e de intenção que existe entre as Pessoas da Santíssima Trindade. Por tal ato de amor, o Espírito de Deus se manifesta e vem como uma pomba sobre Ele, e naquele momento o amor que une Jesus ao Pai é testemunhado a quantos assistem ao batismo por uma voz do alto que todos ouvem. O Pai manifesta abertamente aos homens, a nós, a comunhão profunda que o liga ao Filho: a voz que ressoa do alto atesta que Jesus é obediente em tudo ao Pai e que esta obediência é expressão do amor que os une entre si. Por isso, o Pai coloca o seu bem-querer em Jesus, porque reconhece, no agir do Filho, o desejo de seguir em tudo a sua vontade: “Este é o meu Filho, o amado: nele pus o meu agrado” (Mt 3,17). E esta palavra do Pai alude também, antecipadamente, à vitória da ressurreição e nos diz como devemos viver para estar no agrado do Pai, comportando-nos como Jesus.


Caros pais, o Batismo que vós hoje pedis para vossos filhos, os inserirá nesta troca de amor recíproca que existe entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo; por este gesto que estou para fazer, se derramará sobre eles o amor de Deus, inundando-os de seus dons. Através do banho na água, os vossos filhos serão inseridos na vida mesma de Jesus, que morreu sobre a cruz para libertar-nos do pecado e, ressurgindo, venceu a morte. Por isso, imersos espiritualmente na sua morte e ressurreição, eles serão libertos do pecado original e se iniciará neles a vida da graça, que é a vida mesma de Jesus Ressuscitado. “Ele – afirma São Paulo – deu-se a si mesmo por nós, para resgatar-nos de toda iniquidade e formar para si um povo puro que lhe pertença, cheio de zelo para operar o bem” (Tt 2,14).
Caros amigos, doando-nos a fé, o Senhor nos deu o que há de mais precioso na vida, e este é o motivo mais verdadeiro e mais belo por que viver: é por graça que cremos em Deus, que conhecemos o seu amor, com que ele nos quer salvar e libertar do mal. A fé é o grande dom com o qual Ele nos dá também a vida eterna, a vida verdadeira. Agora vós, caros pais, padrinhos e madrinhas, pedis que Igreja acolha em seu seio estas crianças, lhes dê o Batismo; e este pedido o fazem em razão do dom da fé que vós mesmos, por sua vez, recebestes. Com o profeta Isaías, cada cristão pode repetir: “o Senhor me plasmou seu servo desde o seio materno” (cf. 49,5); assim, caros pais, vossos filhos são um dom precioso do Senhor, que reservou para si seus corações, para poder preenchê-los do seu amor. Através do sacramento do Batismo, hoje ele os consagra e chama a seguir a Jesus, através da realização da vocação pessoal, segundo o particular desígnio de amor que o Pai tem em mente para cada um deles; a meta desta peregrinação terrena será a plena comunhão com Ele na felicidade eterna.
Recebendo o Batismo, estas crianças obtêm como dom um sinal espiritual indelével, o “caráter", que assinala interiormente neles para sempre a pertença deles ao Senhor e os torna membros vivos de seu corpo místico, que é a Igreja. Enquanto entram a fazer parte do Povo de Deus, para estas crianças inicia hoje um caminho que deve ser um caminho de santidade e de conformação a Jesus, uma realidade que é colocada neles como a semente de uma árvore esplêndida, que deve ser feita crescer. Por isso, compreendendo a grandeza deste dom, desde os primeiros séculos se tem o cuidado de dar o Batismo às crianças recém-nascidas. Certamente, nos será depois necessário uma adesão livre e consciente a esta vida de fé e de amor, e é por isso que é necessário que, depois do Batismo, eles sejam educados na fé, instruídos segundo a sabedoria da Sagrada Escritura e dos ensinamentos da Igreja, de modo que cresça neles esta semente da fé que hoje estão recebendo e possam chegar à plena maturidade cristã. A Igreja, que os acolhe entre seus filhos, deve ser responsável, junto com os pais e padrinhos, por acompanhá-los neste caminho de crescimento. A colaboração entre a comunidade cristã e a família é muito necessária no atual contexto social, em que a instituição familiar é ameaçada por toda parte e deve fazer frente a não poucas dificuldades na sua missão de educar na fé. A perda de referências culturais estáveis e a rápida transformação a que é continuamente sujeita a sociedade, torna árduo o empenho educativo. Portanto, é necessário que as paróquias se esforcem sempre mais em apoiar as famílias, pequenas Igrejas domésticas, na sua tarefa de transmissão da fé.
Caríssimos pais, agradeço convosco ao Senhor pelo dom do Batismo destes vossos filhos; ao elevar a nossa oração por eles, invocamos o dom abundante do Espírito Santo, que hoje os consagra à imagem de Cristo sacerdote, rei e profeta. Confiando-os à materna intercessão de Maria Santíssima, pedimos por sua vida e saúde, para que possam crescer e amadurecer na fé e trazer, em suas vidas, os frutos de santidade e de amor. Amém!

Fonte: http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/homilies/2011/documents/hf_ben-xvi_hom_20110109_battesimo_it.html

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