terça-feira, 5 de outubro de 2010

São Vicente de Paulo - O Apóstolo da Caridade - 5

O clero tinha mais necessidade de regeneração que o pobre povo. Se o povo era ignorante e viciado, o clero era a causa, dada a negligência e os maus exemplos oferecidos.
Um dia, um bom prelado mandou Vicente de Paulo trabalhar com seus vigários, de tal modo concorria o Santo para o bem da diocese. Dizia-lhe por carta:
“Há grande número, e inexplicável, de padres ignorantes, viciados, que me compõem o clero, que não se corrigem com palavras nem com exemplos. Sinto horror só em pensar que na diocese há quase sete mil padres cegos ou impudicos que sobem todos os dias as escalinatas do altar, sem nenhum sentimento nem qualquer vocação”.
Outro prelado escreveu ao Santo:
“Excetuando o cônego teologal de minha igreja, não sei de nenhum padre, entre os da diocese, que possa desincumbir-se de qualquer cargo ou assunto eclesiástico. Como precisamos de bons pastores! Conjuro-vos que deixeis vossa missão para ajudar-nos”.
O que se viu é suficiente para mostrar em que deplorável estado se encontrava o clero francês.
Certo homem, filho bastardo de Henrique IV, chegou a ser bispo de Metz e abade de cinco ou seis mosteiros dos mais ricos, sem ser sacerdote. Ao invés de socorrer a diocese, encaminhava os lucros para a corte – e acabou por casar-se...
A restauração começou por Beauvais, diocese em que era bispo Agostinho Potier de Gesvres, admirador de Vicente, que ao Santo suplicou fosse remediar os desregramentos do clero, levando-o ao lugar que lhe competia estar e ao estado que lhe era próprio.
Respondeu-lhe Vicente que era quase impossível corrigir os maus padres, uma vez que já possuíam velhos vícios, entranhados na alma, e difícil, senão impossível, seria bani-los.
“Para trabalhar, dizia, com esperança de fruto, é preciso ir à fonte do mal, para, ali, aplicar o remédio, o que convireis, é duríssimo. Todavia, é trabalhar pela formação dos padres novos, o que, para o futuro, podereis ver, será ótimo”.
“Que fazer? Em primeiro lugar auscultar a vocação do neófito. É preciso descobrir a vocação verdadeira. Em segundo lugar, aos verdadeiramente com vocação, torná-los capazes de cumprir as obrigações peculiares ao estado, já que tem, é claro, a verdadeira vocação, o espírito afinado para as coisas eclesiásticas”.
O bispo de Beauvais apreciou e gostou daqueles pontos de vista do santo.
Tempos depois, em julho de 1628, ambos viajavam juntos. O bom prelado fechou os olhos e ficou silencioso; parecia adormecido. Logo, porém, abrindo os olhos, disse que estivera a pensar no modo mais rápido e seguro de bem ensinar e preparar os aspirantes às santas ordens.
- Não seria bom, disse, que me viessem para casa e lá me ficassem por alguns dias? Poderia observá-los, fazê-los praticar convenientes exercícios, instruí-los das coisas que devem saber e das virtudes que devem praticar.
Vicente exultou:
- Oh, Monsieur, exclamou, dir-se-ia um pensamento de Deus! É um excelente meio de, a pouco e pouco, levar todo o clero da diocese à boa ordem!
O bispo rogou que ele mesmo se incumbisse daqueles exercícios para a próxima ordenação de setembro, o que Vicente logo aceitou, certo de que Deus exigia dele o trabalho. Era como se o Senhor houvesse falado pela boca do bispo.
Agostinho Potier de Gesvres, depois de examinar os candidatos, iniciou os exercícios de retiro, continuados por dois doutores e Vicente de Paulo, sobre o plano que o santo já, de antemão, havia traçado.
Vicente explicou os Dez Mandamentos, e o fez de tal maneira, tão límpida, afetiva e eficazmente, que os candidatos desejaram fazer confissão geral, mesmo um dos doutores.
Foi assim que nasceram na França os retiros dos candidatos, as conferências eclesiásticas e, mais tarde, os seminários, maiores e menores.

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