terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

A identidade missionária do presbítero na Igreja - 3


3. Uma renovada práxis missionária dos presbíteros

A urgência missionária de nossos dias exige uma renovada práxis pastoral. As novas condições culturais e religiosas do mundo, com toda a sua diversidade, segundo as várias regiões geográficas e os diferentes ambientes sócio-culturais, indicam a necessidade de abrir novos caminhos para a práxis missionária. Bento XVI, no já citado discurso aos bispos alemães, disse: « Todos juntos devemos procurar descobrir no- vos modos de apresentar o Evangelho ao mundo contemporâneo ». [21]
Pelo que diz respeito à participação dos presbíteros nessa missão, há que recordar a essência missionária da própria identidade presbiteral, de todos e cada um dos presbíteros, e a história da Igreja, que mostra o papel insubstituível dos presbíteros na atividade missionária. Quando se trata da evangelização missionária dentro da Igreja já estabelecida, dirigindo-se aos batizados «que se afastaram» e a todos aqueles que, nas paróquias e nas dioceses, pouco ou nada conhecem de Jesus Cristo, esse papel insubstituível dos presbíteros aparece de modo ainda mais evidente.
Nas comunidades particulares, nas paróquias, o ministério dos presbíteros manifesta a Igreja como acontecimento transformador e redentor, que se realiza no cotidiano da sociedade. É aí que os presbíteros pregam a Palavra de Deus, evangelizam, catequizam, expondo integral e fielmente a sagrada doutrina, ajudam os fiéis a ler e a entender a Bíblia, reúnem o povo de Deus para celebrar a Eucaristia e os outros sacramentos, promovem outras formas de oração comunitária e devocional, recebem quem vem em busca de apoio, de consolação, de luz, de fé, de reconciliação e aproximação de Deus, convocam e presidem encontros da comunidade para estudar, elaborar e pôr em prática os planos pastorais, orientam e estimulam a comunidade no exercício da caridade para com os pobres – pobres em espírito e economicamente falando –, na promoção da justiça social, dos direitos humanos, da igual dignidade de todos os homens, da autêntica liberdade, da colaboração fraterna e da paz, segundo os princípios da doutrina social da Igreja. São os presbíteros, enquanto colaboradores dos Bispos, que têm a responsabilidade pastoral imediata.

3.1. O missionário deve ser discípulo

O próprio Evangelho mostra como ser missionário exige ser discípulo. O texto de Marcos afirma: « Jesus subiu a montanha e chamou os que ele quis; e foram a ele. Ele constituiu então doze, para que ficassem com ele e para que os enviasse a anunciar a Boa Nova, com o poder de expulsar os demônios» (Mc 3,13-15). «Chamou a si os que ele quis» e «para que ficassem com ele»: eis o discipulado! Esses discípulos serão enviados a pregar e a expulsar os demônios: eis os missionários!
No Evangelho de João, encontramos o chamado (« Vinde e vede »: Jo 1,39) dos primeiros discípulos, o seu encontro com Jesus e seu primeiro impulso missionário quando vão e chamam outros, anunciam- lhes o Messias encontrado e identificado e os conduzem a Jesus que chama ainda a tornar-se seus discípulos (cf. Jo 1,35-51).
No itinerário do discipulado, tudo começa com o chamado do Senhor. A iniciativa é sempre d’Ele. Isso indica que o chamado é uma graça, que deve ser livre e humildemente acolhida e guardada, com a ajuda do Espírito Santo. Deus amou-nos primeiro. É o primado da graça. Ao chamado segue-se o encontro com Jesus para ouvir sua palavra e experimentar seu amor por cada um e pela humanidade inteira. Ele ama-nos e revela-nos o verdadeiro Deus, Uno e Trino, que é amor. No Evangelho, vê-se como, neste encontro, o Espírito de Jesus transforma aquele que possui o coração disponível.
Com efeito, quem encontra Jesus experimenta uma profunda identificação com sua pessoa e sua missão no mundo, crê n’Ele, experimenta o seu amor, adere a Ele, decide segui-lo incondicionalmente para onde quer que o leve, investe n’Ele toda a sua vida e, se necessário, aceita morrer por Ele. Sai do encontro com o coração feliz e entusiasmado, fascinado pelo mistério de Jesus e lança-se a anunciá-lo a todos. Assim o discípulo torna-se semelhante ao Mestre, enviado por Ele e sustentado pelo Espírito Santo.
O pedido que hoje fazemos é o mesmo feito por alguns gregos, presentes em Jerusalém quando Jesus fez sua entrada messiânica na cidade. Eles pediam: «Queremos ver Jesus!» (Jo 12,21) Nós também fazemos esse pedido hoje. Onde e como podemos encontrar Jesus, depois de seu retorno ao Pai, hoje, no tempo da Igreja?
Papa João Paulo II de v. m. desenvolveu amplamente a necessidade do encontro com Jesus para todos os cristãos, a fim de que possam outra vez partir dele para anunciá-lo à humanidade atual. Ao mesmo tempo, indicou alguns lugares privilegiados em que é possível encontrar Jesus hoje. O primeiro lugar, dizia o Papa, é «a Sagrada Escritura, lida à luz da Tradição, dos Padres e do Magistério, e aprofundada através da meditação e da oração», [22] ou seja, a chamada lectio divina, leitura orante da Bíblia. Um segundo lugar, dizia o Papa, é a Liturgia, são os Sacramentos, e de modo muito especial a Eucaristia. No relato da aparição do Ressuscitado aos discípulos de Emaús, encontramos intimamente ligadas a Sagrada Escritura e a Eucaristia, como lugares de encontro com Cristo. Um terceiro lugar nos é indicado pelo texto evangélico de São Mateus sobre o juízo final, em que Jesus se identifica com os pobres (cf. Mt 25,31-46).
Uma outra fundamental e preciosa maneira de encontrar Jesus Cristo é a oração, tanto pessoal como comunitária, sobretudo diante do Santíssimo Sacramento, como também na oração fiel da Liturgia das Horas. A própria contemplação da criação pode se tornar um lugar de encontro com Deus.
Todo cristão deve ser conduzido a Jesus Cristo para ter, e em seguida sempre renovar e aprofundar, um encontro forte, pessoal e comunitário com o Senhor. Desse encontro, nasce e renasce o discípulo. Do discípulo, nasce o missionário. Se isso vale para todo cristão, muito mais para o presbítero. [23]
O discípulo e missionário, por outro lado, é sempre membro de uma comunidade de discípulos e missionários, que é a Igreja. Jesus veio ao mundo e deu sua vida na cruz « para reunir os filhos de Deus dispersos » (Jo 11,52). O Concílio Vaticano II ensina que « aprouve a Deus salvar e santificar os homens, não individualmente, excluída qualquer ligação entre eles, mas constituindo-os em povo que O conhecesse na verdade e O servisse santamente ». [24] Jesus, com seu grupo de discípulos, de modo especial os Doze, dá início a essa comunidade nova, que reúne os filhos de Deus dispersos, ou seja, a Igreja. Depois de seu retorno ao Pai, os primeiros cristãos vivem em comunidade, sob a condução dos Apóstolos, e todo discípulo participa da vida comunitária e do encontro com os irmãos, em primeiro lugar partindo o pão eucarístico. É na Igreja, e a partir da efetiva comunhão com a própria Igreja, que vivemos e nos realizamos como discípulos e missionários.

3.2. A missão ad gentes

A Igreja inteira, por natureza, é missionária. Esse ensinamento do Concílio Vaticano II se reflete também na identidade e na vida dos presbíteros: « O dom espiritual, recebido pelos presbíteros na ordenação, não os prepara para uma missão limitada e determinada, mas sim para a missão imensa e universal da salvação, ‘até aos confins da terra’ (At 1,8) [...]. Lembrem-se, por isso, os presbíteros que devem tomar a peito a solicitude por todas as igrejas ». [25]
De muitas e diferentes formas, os presbíteros podem participar na missão ad gentes, mesmo sem ir às terras de missão. Também a eles, porém, Cristo pode conceder a graça especial de serem chamados por Ele e enviados por seus Bispos ou Superiores maiores à missão em regiões do mundo em que Ele ainda não foi anunciado e a Igreja ainda não se estabeleceu, ou seja, ad gentes, ou enviados para onde há escassez de clero. No âmbito do clero diocesano, pensemos, por exemplo, nos sacerdotes Fidei Donum.
Os horizontes da missão ad gentes se ampliam e exigem um renovado impulso na atividade missionária. Os presbíteros são enviados a perceber o sopro do Espírito, verdadeiro protagonista da missão, e a compartilhar essa solicitude da Igreja universal. [26]

3.3. A evangelização missionária

Na primeira parte deste texto, já identificamos a necessidade e a urgência de uma nova evangelização missionária no próprio rebanho da Igreja, ou seja, entre os já batizados.
De fato, grande parte de nossos católicos batizados não participa com regularidade, ou às vezes não participa nunca, da vida de nossas comunidades eclesiais. Isso acontece não só porque outros modelos se apresentam a eles como mais atraentes, ou então porque decidem conscientemente rejeitar a fé, mas também e cada vez mais porque não foram suficientemente evangelizados. Ou melhor: não encontraram ninguém que testemunhasse a eles a beleza da vida cristã autêntica. Ninguém os levou a um encontro forte e pessoal e, depois, comunitário com o Senhor. Um encontro que marcasse sua vida e a transformasse, um encontro em que começassem a ser verdadeiros discípulos de Cristo.
Isso indica a necessidade da missão: é preciso ir à procura dos nossos batizados, e também de todos os não ainda batizados, anunciar-lhes, de novo ou pela primeira vez, o querigma, ou seja, o primeiro anúncio da pessoa de Jesus Cristo, morto na cruz e ressuscitado para a nossa salvação, e de seu Reino, e assim conduzi-los a um encontro pessoal com Cristo.
Alguém talvez se pergunte se o homem e a mulher da cultura pós-moderna, das sociedades mais avançadas, ainda saberão abrir-se ao querigma cristão. A resposta deve ser positiva. O querigma pode ser compreendido e acolhido por qualquer ser humano, em qualquer tempo ou cultura. Mesmo os ambientes mais intelectuais ou mais simples podem ser evangelizados. Devemos, até, crer que também os chamados pós-cristãos possam, de novo, ser tocados pela pessoa de Jesus Cristo.
O futuro da Igreja depende, também, de nossa docilidade a sermos concretamente missionários em meio a nossos batizados. [27] Afinal, do evento salvífico do batismo derivam o direito e o dever dos sagrados pastores de evangelizar os batizados, como ato devido por justiça. [28]
Certamente, cada Igreja particular de cada continente e de cada nação deve encontrar o caminho para chegar, num esforço decidido e eficaz de missão evangelizadora, até seus católicos que, por diferentes motivos, não vivem sua pertença à comunidade eclesial. Nessa obra de evangelização missionária, os presbíteros detêm um papel insubstituível e precioso, em primeiro lugar no que diz respeito à missão no rebanho da paróquia que lhes foi confiada. Na paróquia, os presbíteros precisarão de convocar os membros da comunidade, consagrados e leigos, para prepará-los adequadamente e enviá-los em missão evangelizadora a cada pessoa, a cada família, até mesmo mediante visitas domiciliares, e a todos os ambientes sociais nos próprios territórios. O pároco, em primeira pessoa, deve participar na missão paroquial.
Na esteira do ensinamento conciliar e conscientes da advertência do Senhor « que todos sejam um [...] a fim de que o mundo creia que tu me enviaste » (Jo 17,21), é de primária importância, para uma renovada práxis missionária, que os presbíteros reavivem em si a consciência de ser colaboradores dos Bispos. Eles, de fato, são enviados por seu Bispo a servir a comunidade cristã. Por isso, a unidade com o Bispo, que por sua vez deverá estar efetiva e afetivamente unido com o Sumo Pontífice, constitui a primeira garantia de toda ação missionária.
Podemos procurar algumas indicações concretas para uma renovada prática missionária dos presbíteros no âmbito dos tria munera.

No âmbito do munus docendi:

1. Em primeiro lugar, para ser um verdadeiro missionário dentro do próprio rebanho da Igreja, segundo as exigências atuais, é essencial e indispensável que o presbítero se decida, com viva consciência e determinação, não apenas a acolher e evangelizar aqueles que o pro- curam, tanto na paróquia como em outros lugares, mas a «levantar- se e ir » em busca, primeiro, dos batizados que por motivos diversos não vivem sua pertença à comunidade eclesial, e também daqueles que pouco ou nada conhecem a Jesus Cristo.
Os presbíteros que exercem seu ministério nas paróquias devem- se sentir chamados em primeiro lugar a ir até o povo que vive no território paroquial, valorizando sabiamente também as tradicionais formas de encontro, como as bênçãos às famílias, que tantos frutos já trouxeram. Os presbíteros que são chamados à missão ad gentes devem ver nisso uma graça muito especial do Senhor, e partir alegres e sem temor. O Senhor sempre os acompanhará.
2. Para uma evangelização missionária dentro do próprio rebanho católico, em primeiro lugar nas paróquias, é preciso convidar, formar e enviar também os fiéis leigos e os religiosos da comunidade. Os presbíteros na paróquia, obviamente, são os primeiros missionários e devem ir em busca das pessoas nas casas e em qualquer lugar e ambiente social; todavia, os leigos e os religiosos também são chamados pelo Senhor, mediante seu Batismo e sua Crisma, a participar da mis- são, sob a condução do pastor local.
Culturalmente falando, é necessário tomar consciência do fato de que o exercício da « caridade pastoral » [29] para com os fiéis impõe não deixá-los indefesos (ou seja, privados de capacidade crítica) diante da doutrinação que muitas vezes lhes vem de espaços como a escola, a televisão, a imprensa, a internet e, às vezes, até das cátedras universitárias e do mundo do espetáculo.
Os sacerdotes, por sua vez, devem ser encorajados e sustentados por seus Bispos nessa delicada obra pastoral, sem nunca delegar totalmente a outros a catequese direta, de modo que todo o povo cristão seja orientado, no atual momento multicultural, por critérios autenticamente cristãos. É preciso distinguir entre doutrina autêntica e interpretações teológicas, e depois entre estas e aquelas que correspondem ao Magistério perene da Igreja.
3. O anúncio especificamente missionário do Evangelho exige que seja dada uma importância central ao querigma. Esse primeiro e renovado anúncio querigmático de Jesus Cristo, morto e ressuscitado, e de seu Reino tem, sem dúvida, um vigor e uma unção especial do Espírito Santo, que não podem ser minimizados ou negligenciados no esforço missionário. [30]
Portanto, é preciso retomar, opportune et importune, com muita constância, convicção e alegria evangelizadora, esse primeiro anúncio, quer nas homilias, durante as santas Missas ou outros eventos evangeliza- dores, quer nas catequeses, ou, ainda, nas visitas domiciliárias, nas praças, nos meios de comunicação social, nos encontros pessoais com os batizados que não participam na vida das comunidades eclesiais; enfim, onde quer que o Espírito nos impulsione e ofereça uma oportunidade, que não devemos desperdiçar. O querigma alegre e corajoso distingue uma pregação missionária, que quer levar o ouvinte a um encontro pessoal e comunitário com Jesus Cristo, início do caminho de um verdadeiro discípulo.
4. É necessário explicar o fato de que a Igreja vive da Eucaristia, que é o centro. Na celebração eucarística se manifesta plenamente na sua identidade. Na vida e na atuação da Igreja, tudo leva à Eucaristia e tudo recomeça da Eucaristia. Por isso, a evangelização missionária, a pregação do querigma e todo o exercício do munus docendi devem tender também para a Eucaristia e levar o ouvinte, no fim das contas, à mesa eucarística. A própria missão deve sempre partir da Eucaristia e sair para o mundo. « A Eucaristia é fonte e ápice não só da vida da Igreja, mas também da sua missão: uma Igreja autenticamente eucarística é uma Igreja missionária ». [31]
5. A evangelização dos pobres é prioritária, em todas as for- mas, como disse o próprio Jesus: « O Espírito do Senhor está sobre mim, pois ele me consagrou com a unção, para anunciar a Boa Nova aos pobres » (Lc 4,18). No texto evangélico de Mateus sobre o juízo final, constatamos que Jesus quer ser reconhecido, de modo especial, no pobre (cf. Mt 25,31-46). A Igreja sempre se inspirou nesses textos. [32]
6. A Igreja nunca impõe sua fé, mas sempre a propõe com amor, com unção e coragem, no respeito da autêntica liberdade religiosa, a qual pede também para si mesma, e da liberdade de consciência do ouvinte. Além disso, o método do verdadeiro diálogo é cada vez mais indispensável: um diálogo que não deve excluir o anúncio, mas antes supô-lo e ser, definitivamente, um caminho pelo qual evangelizar.33
7. É necessária a preparação do missionário mediante a formação de uma sólida espiritualidade e uma autêntica vida de oração, além de uma escuta constante da Palavra de Deus, de modo especial pela leitura dos Evangelhos. O método da lectio divina, da leitura orante da Bíblia, pode ser de grande ajuda. De qualquer modo, o pregador deve ser inflamado por um fogo novo, que se acende e mantém aceso no contato pessoal com o Senhor e vivendo em estado de graça, como podemos reconhecer nos Evangelhos. A essa escuta da Palavra deve juntar-se um estudo constante e aprofundado da doutrina católica autêntica, tal como se encontra principalmente no Catecismo da Igreja Católica e na sã teologia. A fraternidade sacerdotal é parte integrante da espiritualidade missionária, e a sustenta.

No âmbito do munus sanctificandi:

1. O exercício do munus sanctificandi está também ligado à capacidade de transmitir um sentido vivo do sobrenatural e do sagrado, que fascine e conduza a uma real experiência de Deus, existencialmente significativa.
Faz parte de toda celebração sacramental a proclamação da Palavra de Deus, dado que o sacramento exige a fé de quem o recebe. Esse fato é já uma primeira indicação de como o ministério presbiteral, na administração dos sacramentos e de modo especial na celebração da Eucaristia, possui uma dimensão missionária intrínseca, que pode ser desenvolvida como anúncio do Senhor Jesus e de seu Reino àqueles que pouco ou, até agora, nada foram evangelizados.
2. É preciso, ainda, sublinhar que a Eucaristia é o ponto de chega- da da missão. O missionário deve ir em busca das pessoas e dos povos para levá-los à mesa do Senhor, prenúncio escatológico do banquete de vida eterna com Deus, no céu, que será a realização plena da salvação, segundo o desígnio redentor de Deus. Será preciso, portanto, uma grande, calorosa e fraterna acolhida daqueles que vêm pela primeira vez à Eucaristia, ou a esta voltam, depois de terem sido instruídos pelos missionários.
Além disso, a Eucaristia tem uma dimensão de envio missionário. Cada Santa Missa, ao seu final, envia todos os participantes a atuar missionariamente na sociedade. A Eucaristia, como memorial da Páscoa do Senhor, torna presente, sempre de novo, a morte e a ressurreição de Jesus Cristo, que, por amor ao Pai e a nós, deu a vida por nossa redenção, amando-nos até o fim. Esse sacrifício de Cristo é a ação suprema de amor de Deus pelos homens.
A comunidade cristã, ao celebrar a Eucaristia e ao receber dignamente o sacramento do Corpo e do Sangue de Jesus, fica profundamente unida ao Senhor e cumulada de seu amor desmedido. Ao mesmo tempo, todas as vezes recebe de novo o mandamento de Jesus: «Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei», e se sente impelida pelo Espírito de Cristo a ir e anunciar a todas as criaturas a Boa Nova do amor de Deus e da esperança, certa de sua misericórdia salvadora. No Decreto Presbyterorum ordinis, o Concílio Vaticano II diz: « A Eucaristia é a fonte e o ápice de toda a evangelização» (no 5). Portanto, é fundamental que os sacerdotes tenham o cuidado de celebrar cotidianamente a Eucaristia, mesmo na ausência do povo.
3. Os outros sacramentos também recebem sua força santificante da morte e ressurreição de Cristo e, assim, proclamam a misericórdia indefectível de Deus. A própria celebração dos sacramentos, bela, condigna e devota, respeitando todas as normas litúrgicas, transforma-se numa evangelização muito especial para os fiéis presentes. Deus é Beleza, e a beleza da celebração litúrgica é um dos caminho que nos conduz a seu mistério.
4. Devemos rogar ao Senhor que desperte a vocação missionária da comunidade eclesial, de seus pastores e membros. Jesus disse: «A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos! Pedi, pois, ao Senhor da colheita que envie trabalhadores para sua colheita!» (Mt 9,37-38). A oração tem uma enorme força diante de Deus. Jesus nos assegura dessa força: «Pedi e vos será dado» (Mt 7,7); «Tudo o que, na oração, pedirdes com fé, vós o recebereis!» (Mt 21,22); «o que pedirdes em meu nome, eu o farei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho. Se pedirdes algo em meu nome, eu o farei» (Jo 14,13-14).
5. É oportuno recordar que o sacramento da Reconciliação, na forma da confissão individual, possui uma profunda e intrínseca missionariedade. O sacerdote é chamado, para a fecundidade da missão que lhe está confiada e para sua santificação, a ser solícito, em primeiro lugar em seu próprio benefício, na celebração regular e freqüente desse sacramento e, ao mesmo tempo, a ser seu fiel e generoso ministro.
6. O ministério pastoral do presbítero está a serviço da unidade da comunidade cristã. A regeneração do povo cristão e o cuidado com a dimensão comunitária da experiência cristã são, por isso, a primeira tarefa missionária do presbítero.
7. Concluindo, o presbítero deverá entender melhor a natureza da sede que atormenta, às vezes até inconscientemente, os homens e as mulheres de nosso tempo: sede de Deus, de uma experiência e doutrina de verdadeira salvação, de um anúncio da verdade sobre o destino último, pessoal e comunitário, de uma religião cristã que seja capaz de permear toda a organização da vida e dia a dia a transforme cada vez mais. [34] Uma sede que só o Senhor Jesus poderá, em última instância, satisfazer, tendo sempre presente que «a caridade pastoral constitui o princípio interior e dinâmico capaz de unificar as múltiplas e diversas atividades pastorais do presbítero ». [35]

No âmbito do munus regendi:

1. São indispensáveis a preparação e a organização da missão nas comunidades eclesiais, nas paróquias. Uma boa preparação e uma organização clara da missão já constituem um penhor de êxito frutuoso. Obviamente, o primado da graça não pode ser esquecido, deve ser evidenciado. O Espírito Santo é o primeiro operador missionário. Por isso, é preciso invocá-lo insistentemente e com muita confiança. Será ele que acenderá aquele fogo novo, aquela paixão missionária que é necessária nos corações dos membros da comunidade. Mas é necessário o concurso da liberdade humana. Os pastores da comunidade devem pensar, também do ponto de vista organizacional, nas formas mais incisivas e oportunas de missão.
2. É preciso buscar a execução de uma boa metodologia missionária. A Igreja tem disso uma experiência bimilenar. Todavia, cada época histórica traz consigo novas circunstâncias, que devem ser levadas em consideração ao estabelecer como praticar a missão. Há muitas metodologias já elaboradas e comprovadas na práxis das Igrejas particulares. As Conferências Episcopais e as dioceses poderiam oferecer oportunas indicações sobre esse ponto.
3. É preciso que nos dirijamos, em primeiro lugar, aos pobres das periferias urbanas e das zonas rurais. São eles os destinatários prediletos do Evangelho. Isso significa que o anúncio deve ser acompanhado por uma ação eficaz e amorosa de promoção humana integral. Jesus Cristo deve ser proclamado como uma boa notícia para os pobres. Estes devem-se sentir contentes e cheios de segura esperança em virtude desse anúncio. [36]
4. Seria oportuno que a missão na paróquia e na diocese não se reduzisse a um período determinado. A Igreja é, por sua própria natureza, missionária. Assim, a missão deve fazer parte das dimensões permanentes do ser e do agir da Igreja. Por conseguinte, a missão deve ser permanente. É claro que podem existir períodos mais intensos, mas a missão não deveria jamais ser dada por concluída ou interrompida. Antes, a missionariedade deve ser firme e amplamente integrada na própria estrutura da atividade pastoral e da vida da Igreja particular e de suas comunidades.
Isso poderia levar a uma autêntica renovação, e viria a constituir um elemento muito válido para revigorar e rejuvenescer a Igreja nos dias de hoje. É permanente, também, a missionariedade dos próprios presbíteros, os quais, independentemente do ofício exercido e da idade cronológica, são chamados à missão sempre até o último dia de sua existência terrena, porque a missão está indissoluvelmente ligada à ordenação que receberam.

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