Caríssimos, apresentamos uma série de belíssimas meditações sobre a angústia de acordo com a visão bíblica e cristã feitas pelo grande teólogo católico suúço Hans Urs von Balthasar. Que sejam de imenso proveito para a nossa vida espiritual.Na passagem da Antiga para a Nova Aliança, deram-se duas mudanças; primeira: o fenômeno da angústia intensificou-se e definiu-se até ao limite das suas possibilidades e, por conseguinte, também até ao limite das suas antíteses intrínsecas; a segunda, a angústia representativa de Cristo na Paixão domou, redimiu toda a angústia humana, deu-lhe um sentido. Quando, a seguir, falarmos das relações do cristão com a angústia, deveremos partir destas premissas, contidas na palavra de Deus, e nunca as perder de vista.
A primeira afirmação a fazer-se em alta voz, triunfalmente, é a de que a cruz debelou, completamente e de uma vez para sempre, a angústia humana. A angústia pertence ao conjunto das potências, das forças, das potestades sobre as quais o Senhor triunfou na cruz e, Ele, a partir daí, arrasta consigo, quais prisioneiros em cadeias, para deles se servir como quiser. Também na Antiga Aliança ressoara poderoso, o preceito: “Não temais!”. Mas, a este preceito opuseram-se, no decurso da própria Revelação, não só a exigüidade da zona iluminada pela graça, mas também o caráter de esperança da graça a conceder, a incompreensível ameaça suspensa sobre a zona de luz por parte das trevas avassaladoras e, enfim, a queda sempre repetida do homem no pecado. Cristo aboliu tanto a finitude como o caráter de esperança da graça, ao derrubar, com sua encarnação, a barreira existente entre o céu e a terra e, com a sua Paixão redentora e descida aos “infernos”, a que se erguia entre a terra e o mundo subterrâneo, e a que se encontrava entre o Povo eleito e os Gentios, com a fundação da Igreja, e foi constituído pelo Pai em Luz de todo o mundo e rei dos três reinos (Fl 2,10-11). Donde se conclui que, para o redimido, não existem mais motivos de angústia: contra o cristão, nada pode o “mundo”, ou seja, o reino das trevas que, à vinda de Cristo, se inteiriçou contra Ele, mas que foi por Ele “vencido” (Jo 16,33); nem podem ser-lhe motivo de embaraço ou de temor aqueles “elementos do mundo”, “forças primitivas”, “potentados”, “dominações” e semelhantes, como Paulo chama os príncipes conhecidos e desconhecidos do cosmos criado, seja qual for a dimensão em que se encontrem e qualquer que seja a relação entre eles e Cristo, seu dominador. Desta vitória não é excluído nem, “o ultimo inimigo a ser destruído”, ou seja, a morte (1Cor 15,26), nem, finalmente, o próprio demônio que “agora”, diante do tribunal da Cruz, “é lançado fora” (Jo 12,31); isto é: aquela potência única e dupla, que até agora mantinha o pecador ligado com cadeias indestrutíveis de que só podia ter medo.
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