E Pio XII escreveu: “Você tem todo o meu apoio”
Mas isso não é tudo. Existem também outros documentos que mostram e assinalam com clareza a relação de estima e sintonia entre o Pio XII e o “Leão de Münster”: a correspondência entre eles. Consta nos documentos do Arquivo Secreto Vaticano que Pio XII enviou cartas diretamente a Von Galen.
Quatro dessas cartas escritas pelo Papa em língua alemã estão contidas no segundo volume dos Actes et documents du Saint Siège relatifs à la Seconde guerre mundiale, a obra monumental em 11 volumes e 12 tomos organizada por estudiosos jesuítas que reúne a documentação da Secretaria de Estado e do Arquivo Secreto Vaticano concernentes àqueles anos. Obra que, como se sabe, foi desejada por Paulo VI, quando, no início da década de 1960, fez com que se abrisse antecipadamente a consulta aos Arquivos Vaticanos depois do crescimento da lenda negra que se construiu em torno da figura de seu predecessor. As cartas enviadas ao bispo de Münster trazem estas datas: 12 de junho de 1940; 16 de fevereiro de 1941; 24 de fevereiro de 1943; 26 de março de 1944.
Nessa correspondência, Pio XII sublinha mais de uma vez sua gratidão, a convergência de visões e o apreço pelo que realizara o prelado alemão. Na carta de 24 de fevereiro de 1943, por exemplo, ao exprimir-lhe sua viva “consolação” todas as vezes que chegava “a seu conhecimento uma palavra clara e corajosa da parte de um bispo”, insiste também em assegurar-lhe quanto ao fato de que os bispos que agem com “intervenções resolutas e corajosas em favor da verdade e do direito e contra a injustiça não trazem dano à reputação de seu povo no exterior”, mas, pelo contrário, “são um benefício para ele”, mesmo que alguém venha a acusá-los do contrário. Além disso, Pio XII agradece expressamente a Von Galen por ter “preparado”, com suas cartas pastorais, o terreno para sua Mensagem de Natal de 24 de dezembro de 1942. Mensagem que agradou ao New York Times pelas “palavras claras em defesa dos judeus” e por ter “denunciado ao mundo o massacre de tantos inocentes”; e cuja divulgação, na Alemanha, foi considerada pelas altas patentes do Reich “um crime contra a segurança do Estado, passível de pena de morte”.
A importância dessas cartas é tanto mais decisiva quanto mais se considera o contexto em que estão compreendidas. As cartas a Von Galen fazem parte de um corpus de 124 missivas enviadas por Pio XII aos prelados alemães ao longo dos anos de 1939 a 1944. O motivo dessa correspondência foi expresso pelo próprio Pio XII aos quatro cardeais de língua alemã que foram a Roma em março de 1939 por ocasião do conclave que o elegeu papa. Depois do conclave, os cardeais prolongaram sua estada na Cidade Eterna para examinar com o novo Pontífice a situação da Igreja na Alemanha, situação que o Papa havia acompanhado de perto, primeiramente como núncio e depois como secretário de Estado. A eles, portanto, diz assim: “A questão alemã, para mim, é a mais importante. Eu me reservo tratar dela pessoalmente”. Assim, Pacelli, abrindo uma exceção, convidou os cardeais, e, por meio deles, o episcopado, a escrever-lhe diretamente. Em sua primeira carta ao episcopado alemão, de 20 de julho de 1939, Pio XII, com espírito comovido, lembrou os anos que passou na Alemanha e as relações que ainda conservava lá: “...pois isso nos permitiu ter hoje, da situação, dos sofrimentos, das tarefas, das necessidades dos católicos na Alemanha aquele conhecimento aprofundado que só pode nascer da experiência pessoal direta e prolongada ao longo de muitos anos”. Com o início da guerra, essas relações diretas iriam se tornar ainda mais preciosas. Convidando-os a escrever-lhe, o Papa lhes mostrava que a nunciatura de Berlim possuía uma via segura de correspondência com Roma. A correspondência, que foi mantida até o último ano da guerra, mostra como os bispos se serviram amplamente dessa possibilidade que lhes era oferecida extraordinariamente de se comunicar com o chefe da Igreja, enviando regularmente ao Papa todas as informações possíveis, anexando a elas as cópias dos documentos mais importantes.
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